sábado, dezembro 13, 2003

Mulheres de Pedro Martinelli



O fotógrafo brasileiro Pedro Martinelli acaba de lançar no Brasil a obra "Mulheres da Amazónia", que reúne 300 imagens captadas naquela região ao longo dos últimos trinta anos. Para quem não sabe, Martinelli é um dos grandes "homens de sal de prata" do país, tendo sido editor de fotografia da Editora Abril e recebido uma série de prémios. Tem imagens lindas. Quem quiser ver mais coisas dele pode ir até o No Mínimo .

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Ainda Eduardo Coutinho

A professora universitária Consuelo Lins está a ultimar um livro ensaístico sobre a obra deste cineasta brasileiro de 70 anos. Chama-se "O Documentário de Eduardo Coutinho - Cinema, vídeo e televisão" e deverá ser publicado no Brasil em 2004 pela Zahar Editores. Num texto divulgado há sete anos, na Revista Cinemais, Consuelo Lins explicava porque Coutinho consegue as melhores confissões do seu entrevistado. É uma mistura de respeito, disponibilidade, ética e dom da palavra.

"Coutinho dá tempo a seus personagens de formularem algumas ideias sobre suas vidas e efectivamente os escuta. Faz poucas perguntas mas obtém respostas que surpreendem entrevistador e entrevistado. Tem-se a nítida impressão de que muitos estão pensando certas coisas pela primeira vez, ali diante da câmera. Como se até então não tivessem tido tempo para tal. Em um certo sentido, há nos filmes de Coutinho uma dimensão analítica: a análise é particularmente o lugar da escuta. E talvez o que mais falte na actual produção incessante de imagens, palavras, sons, informações é justamente uma escuta que possa pontuar e dar algum sentido à fala dos personagens."

Volto a lembrar que o doumentário "Edifício Master" (2002), premiado na Categoria Melhor Documentário no Festival de Gramado, no Sul do Brasil, será exibido hoje, às 22h00, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira. É uma oprtunidade única. Não só porque este filme não passará nas salas de cinema, nem nas Blockbusters da vida, mas também porque o autor estará presente nesta cerimónia de homenagem.

Hoje é dia de Eduardo Coutinho



A séptima edição do Festival de Cinema Luso-Brasileiro homenageia hoje, às 22h00, o realizador brasileiro Eduardo Coutinho. Será exibido no auditório da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira o documentário "Edifício Master" (2002), um trabalho muito revelador sobre a classe média carioca. O filme foi feito com dezenas de moradores de um prédio em Copacabana, no Rio de Janeiro. A câmera entra em vários dos apartamentos minúsculos do edifício, dando voz (e rosto) às vivências dos moradores. Há a garota de programa, a mulher que tem medo de olhar nos olhos dos outros, o porteiro que não sabe quem é o pai... São, enfim, relatos de pessoas comuns - Coutinho "odeia" figuras públicas -, discursos em primeira pessoa que fazem deste cineasta de 70 anos um mestre da arte de entrevistar. É o que explica o crítico Carlos Alberto Matos nas citações abaixo, que são fragmentos da introdução do livro "Eduardo Coutinho: o Homem que Caiu na Real", apresentado hoje em Santa Maria da Feira.

"A obra-prima Edifício Master chegou às telas no ano de 2002, num momento em que o documentário despontava como uma das vedetes da retomada do cinema brasileiro (como é chamado o reaquecimento da atividade após quatro anos de congelamento à época do governo Collor). Tão diversificados quanto os filmes de ficção, os documentários então conquistavam público, prestígio, espaços de exibição no cinema e na TV, mecanismos de apoio e patrocínio, repercussão em festivais etc. O discreto Eduardo Coutinho é parte importante desse renascimento e sua obra se oferece como referência de qualidade e compromisso."


Fotograma de "Cabra Marcado para Morrer"

"Eduardo Coutinho tornou-se o mais importante e influente documentarista brasileiro da atualidade não somente por seu modo judicioso de proceder, mas também pelo corpo de obra que erigiu ao longo da carreira. Nela os temas evoluem como galhos de uma árvore construtivista, comunicando-se de filme a filme e passando de secundários a principais. A religiosidade popular foi objeto de sua atenção crescente em "Santa Marta: Duas Semanas no Morro", "O Fio da Memória" e "Santo Forte." A vida na favela esteve presente em "Santa Marta", "Santo Forte" e "Babilônia 2000". As rivalidades familiares no Nordeste brasileiro estiveram em foco no ficcional "Faustão" e no documentário "Exu, uma Tragédia Sertaneja". O poder no campo foi tema de "Cabra Marcado para Morrer" e "Teodorico, o Imperador do Sertão". A subsistência retirada do lixo foi tangenciada em "A Lei e a Vida" antes de passar a assunto central de "Boca de Lixo"."


Fotograma de "O Fio da Memória"

"A Coutinho interessa o Outro, o diferente social e culturalmente. Por isso é difícil imaginar que ele ainda venha a se interessar pela elite da qual, incomodamente, participa. Os condôminos de classe média baixa enfocados em "Edifício Master" parecem constituir o seu limite em matéria de aproximação da vizinhança social."


Fotograma de "Santo Forte"

"Parte integrante desse cinema de pessoa a pessoa é a exposição do processo de documentação dentro do próprio filme. As chegadas da equipe, sempre documentadas por uma câmera de apoio a duplicar o eixo da câmera principal, tornaram-se uma marca desde Cabra Marcado para Morrer. Da mesma forma, a imagem do diretor, face a face com seus interlocutores e quase completamente desligado do aparato técnico ao seu redor, aparece intermitentemente - não para torná-lo catalisador do espetáculo da informação (como ocorre com Michael Moore e Nick Broomfield), mas apenas o suficiente para sublinhar a condição de encontro e o caráter de conversa. A montagem assimila também "ruídos" de diálogo, pagamento de cachês, retalhos de conversas circunstanciais à margem da entrevista etc, elementos habitualmente escamoteados na edição de documentários tradicionais."

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Nanook of the North



"Nanook of the north" é considerado o início da história do documentário. O filme mudo de Robert J. Flaherty, elaborado em 1922, apresenta-nos um ano da vida de um esquimó completamente alheio à vida industrial, vivendo essencialmente da caça, da pesca e de algum comércio. No texto "How I Filmed "Nanook of the North", Flaherty conta como foi despertado para a arte que, a exemplo do jornalismo, procura coleccionar fragmentos do real. Ele conta assim a sua jornada antropológica de conhecimento do Outro:

"In August 1910, Sir William MacKenzie whose transcontinental railway, the Canadian Northern, was then in the initial stages of construction, commissioned the writer to undertake an expedition to the East Coast of Hudson Bay to examine deposits of certain islands upon which iron ore were supposed to be located. […]
As a part of my exploration equipment, on these expeditions, a motion-picture outfit was included. It was hoped to secure films of the North and Eskimo life, which might prove to be of enough value to help in some way to defray some of the costs of the explorations.



While wintering in Baffin Land during 1913-14 films of the country and the natives were made as was also done on the succeeding expedition to the Belcher Islands. The film, in all, about 30,000 feet, was brought out safely, at the conclusion of the explorations, to Toronto, where, while editing the material, I had the misfortune of losing it all by fire. Though it seemed to be a tragedy at the time, I am not sure but what it was a bit of fortune that it did burn, for it was amateurish enough."

O fogo que consumiu estes primeiros registos de Flaherty acabou por deixá-lo cada vez mais interessado em filmes. Ele explica assim:
"New forms of travel film were coming out and the Johnson South Sea Island film particularly seemed to me to be an earnest of what might be done in the North. I began to believe that a good film depicting the Eskimo and his fight for existence in the dramatically barren North might be well worth while. To make a long story short, I decided to go north again- this time wholly for the purpose of making films."

O projecto acabou por ter o financiamento dos Revillon Freres (como se pode ver no cartaz original do filme, no topo desta mensagem). No dia 18 de Junho de 1920, o realizador partir novamente para as terras frias. Como equipamento levava 75 mil pés de rolo de filmes (não sei converter esta medida, peço desculpas), um projector, holofotes Haulberg, duas câmaras Akeley e ainda uma impressora que permitia identificar eventuais falhas técnicas durante as filmagens. Nesta expedição, conheceu Nanook, um esquimó adorável. Juntos, enfrentaram obstáculos como a falta de comida e o confronto com os desmandos da natureza - algo que os aproximou profundamente e permitiu a cumplicidade necessária para a realização do documentário. Criou-se o elo necessário para a existência daquele que "rouba" a imagem do outro e, por extensão, daquele que se deixa retratar. No fim do seu relato, Flaherty diz que "it was not all loss: I was richer by a fuller knowledge of the fine qualities of my sterling friends, the Eskimos."

PS. Não me perguntem porque, mas "Nanook of the North" me faz lembrar um outro filme, o "Dersu Uzala" (Kurosawa, 1975). Nunca esqueci a parte em que o protagonista – também ele na pele do Outro – considera imponderável (é o que nos revela o seu olhar) que se possa vender a água, algo tão elementar à vida humana. Ele via água como um direito.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Invasões Bárbaras

Os jornais brasileiros, os meus amigos brasileiros, a minha mãe e até o Eduardo Prado Coelho - na sua coluna de hoje do Publico - já falaram maravilhas do "Invasões Bárbaras. Ainda bem que o filme estreia hoje em Portugal. Já estava me sentindo uma outsider.