domingo, janeiro 28, 2007

A despensalização do aborto

Estávamos a sair da redacção, à noite, quando encontramos algumas centenas de pessoas com uma vela na mão a caminhar ao longo da Avenida Marechal Gomes da Costa, no Porto. A minha amiga A. decide parar o carro. Estávamos intrigadas com tão estranha cena às 23h de uma sexta-feira. Abro a janela do carro e indago uma das pessoas que seguiam em fila indiana acerca do propósito da procissão.

__ "É contra o aborto", responde a senhora.

Ficamos esclarecidas.

Defendo obviamente a manifestação livre pelas mais diversas e discutíveis causas. Mas choca-me que as questões sejam colocadas nestes termos. Teria regressado em paz para casa se me dissessem simplesmente: "estamos a fazer uma procissão contra a despenalização do aborto". Sim, porque é disto que estamos a falar. Aquilo que se perguntará aos portugueses nas urnas, no próximo dia 11 de Fevereiro, é se concordam ou não que uma mulher interrompa voluntariamente a gravidez, até às dez semanas de gestação, sem que esteja sujeita a ir parar no banco dos reús.

Despenalizar não é sinónimo de ser a favor do aborto.
Despenalizar não é sinónimo de ser contra a vida.

Espero que os brasileiros que leiam notícias sobre este referendo em Portugal compreendam qual é a questão que está a ser colocada aos eleitores.

sábado, janeiro 27, 2007

Saudades de Tom



Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades...

Tom Jobim completaria oitenta anos no dia 25 de Janeiro. A alma do Rio, cidade também de Janeiro, canta a saudade do olhar do seu maestro soberano, Antonio Brasileiro.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Infância

E jogava ao pião com Deus
Enquanto minha mãe estendia a roupa
E o meu pai mendigava pão

E minha alegria nesse tempo era muito próxima
Da dos meninos
E de Deus que ganhava sempre

E não sei quem perdi primeiro:
O pião ou Deus
Apenas sei que Deus continua
A jogar com outros meninos

E que no Outono quando saio à praça
Nos sentamos e falamos muito
Do suave rodopiar das folhas

Daniel Faria

(Poema escolhido pela Quasi Edições para o cartão de Boas Festas 2006)

terça-feira, janeiro 09, 2007

Para o novo ano

"Para o novo ano - Ainda vivo, ainda penso: é ainda necessário que eu viva, porque é ainda necessário que eu pense. Sum ergo cogito:cogito ergo sum. Hoje todos se permitem exprimir os seus desejos, o seu mais caro pensamento: vou, portanto, dizer eu também, o que mais desejo hoje e qual foi o primeiro pensamento que desejei realizar este ano; vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia e a doçura de toda a minha vida! É aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: seja esse de agora em diante o meu amor. Não quero fazer a guerra ao feio. Não quero acusar, nem mesmo os acusadores. Desviarei o meu olhar, será essa, de ora em diante, a minha única negação. E, numa palavra, não quero, a partir de hoje, ser outra coisa senão um afirmador. "

Friedrich Nietzsche, A gaia ciência, aforismo 276

segunda-feira, janeiro 01, 2007

A hora nova

e de novo um ano da nossa alma começa (Hölderlin)

Bem-vindo, primeiro dia do novo ano, com todas as esperanças que a renovação do tempo traz.