sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Ah, Marisa Monte

“Enquanto isso, navegando eu vou
Sem paz
Sem ter um porto
Quase morto, sem um cais
E eu nunca vou te esquecer, amor”

Excerto da canção “Veja bem, meu bem”, de Marcelo Camelo

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Para uma menina guerreira


Pequenina Amillia, seja bem-vinda a este mundo insano e maravilhoso. Parabéns pela espantosa capacidade de lutar pela vida. Você é um milagre da ciência dos médicos e do amor de seus pais. Que doravante tudo seja menos difícil para você.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Contextualizando a morte de João Hélio

Os três posts abaixo - acalantos enviados por Tuki a partir do Rio de Janeiro - referem-se a um crime recente que, embora noticiado em Portugal, apareceu sobretudo em textos genéricos sobre criminalidade no Brasil. João Hélio era uma criança de seis anos que morreu ao ser arrastada, ao longo 15 minutos e de sete quilómetros, a reboque de um carro roubado por cinco homens armados (um deles menor de idade) à mãe da vítima.
O assalto decorrido no passado dia 7 de Fevereiro deixou o Brasil mais uma vez chocado com a sua incapacidade de deter o avanço da delinquência juvenil. Propuseram-se mais uma vez alterações legislativas, debateu-se mais uma vez a redução da maioridade penal para os 16 anos, uma vez que, como refere o texto de Nuno Amaral no Público de ontem, "os menos de 18 no Brasil estão sujeitos apenas a sanções educativas até três anos".
"Nas principais cidades, a maioria dos assaltos é cometida por adolescentes pobres ou vítimas das redes de tráfico e consumo de droga."
"Num país imenso onde um terço da população vive abaixo do limiar da pobreza e a maioria da população empregada recebe um ordenado mínimo que não chega aos 130 euros, o número dos que vivem em favelas não pára de aumentar, sobretudo em cidades como São Paulo, Belém e Rio de Janeiro."

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Acalanto para a mãe dos assassinos de João Hélio

Mãe (que preferiu não se identificar) do Carlos Eduardo (que dirigia o carro roubado que arrastou o menino João Hélio pelas ruas do Rio) e do menor Ezequiel (que estava no banco traseiro), imagino o que sentes, duas vezes mater de outra dor, não menos dolorosa, entendo o teu desejo de pedir desculpas aos pais do menino morto pelo crime que não praticaste e também entendo o gesto do teu marido, ao entregar à polícia o próprio filho.
Acredito na sinceridade de tuas palavras, transcritas nos jornais:
"-Minha dor é tanta que seria mais fácil se eu estivesse a enterrar o Ezequiel".
Não conheço muito da tua história de lutas e desesperos ante o caminho trilhado por teus rebentos.
Mas sou tentada a concordar quando não acreditas na recuperação dos infratores através do sistema penal vigente: teu filho mais velho não cumpriu as regras do regime semi-aberto e tornou-se reincidente, arrastando consigo o irmão.
Não sei o que oferecer ao teu coração sobressaltado, despedaçado, desesperançado.
Só posso te dar a minha solidariedade materna e humana, sabendo que nenhuma mãe escolheria um destino assim para seus filhos.

Acalanto para a irmã de João Hélio

Aline, doce menina-moça,
duplamente vítima, alvo e testemunha do horror, como amenizar a dor de teus treze anos para sempre abalados, congelados naquele terrível instante?
Como confortar o teu desespero?
Como dizer-te que não tens que sentir culpa, que não tens que pedir perdão, por não teres conseguido salvar o teu irmãozinho?
Que tua fé e a da tua família te sustente nessa travessia, que o tempo suavize a imagem do sofrimento e avive as das boas lembranças, na certeza de que o amor que vos une continua.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Acalanto para João Hélio

Meu menino, apetece-me embalar-te e adormecer a dor de teus pais, dilacerados pela pavorosa violência da tua partida. Queria poder recuar o tempo, e devolver-te a eles inteiro, vivo. Mas os jornais insistem em estampar a inimaginável realidade.E, indignada, a cidade chora por ti, por tua família, por todos nós.Consola-me imaginar que foste acolhido com festas no céu,como o poeta imaginou a chegada de Mozart, e que agora lá enfeitas com teus desenhos,as paredes e murais diáfanos, e ainda corres e brincas e falas com teu jeito singular.Contudo, aqui na terra, a dor maiúscula ficará, a clamar por justiça, a implorar por um mundo mais humano,em que as crianças possam ser crianças,em que a vida seja o valor maior,em que crianças e jovens e adultos não matem friamente,diferente deste mundo que te levou tão cedo,e gerou a insensibilidade dos teus assassinos.

domingo, fevereiro 11, 2007

Ganhou o bom senso

Apesar da elevada abstenção, parece que o bom senso ganhou à lei hipócrita. Oportunidade para recordar texto de Helena Matos escrito em 3/2/07 no Público:

"O que está em causa neste referendo não é o que nós fazemos, faríamos ou fizemos quando e se confrontados com o dilema de interromper ou não uma gravidez. O que está em causa é o nosso direito a impor uma gravidez [a uma mulher]. Pessoalmente, não creio que qualquer um de nós tenha ou possa ter este direito."


sábado, fevereiro 03, 2007

O sim de Pulido Valente

Vasco Pulido Valente escreveu ontem na última página do Público (o seu espaço habitual) um texto espantosamente lúcido. Sem fel, sem desejo de contrariar por contrariar. Sem a amargura que já é quase marca registada do colunista. Vale a pena recordar algumas passagens (sobretudo para os brasileiros, que raramente têm acesso aos artigos de opinião do jornal):

"A actual lei portuguesa sobre o aborto não respeita aquilo a que os partidários do "não" costumam chamar "o valor absoluto da vida": admite o aborto em caso de violação, malformação fetal e grave perigo para a vida ou a saúde física ou psíquica da mãe.

[...]

O mal do referendo está, e sempre esteve, no facto de que as pessoas nunca, ou quase nunca, discutem, informada e razoavelmente, os méritos da questão a voto e que depois nunca, ou quase nunca, votam sobre ela.

Votam em nome de um princípio religioso, de uma ideologia ou de um sentimento. Se têm "razões", têm "razões" fabricadas para a circunstância, que não se aplicam, ou só com muito boa vontade se aplicam, ao problema em causa.

Pior ainda: o motivo mais comum para votar "sim" ou "não" é da relutância (ou o medo) de não seguir o grupo a que imaginariamente se pertence: a Igreja, a direita, a esquerda, a profissão ou a família.

[...]

O "não", sem defender o regime presente, alega que esta medida irá aumentar e "normalizar" o aborto. E, para evitar esse perigo, aceita que milhares de mulheres paguem um preço de sofrimento e de humilhação (a maioria infelizmente por ignorância e miséria).

O "sim" prefere acabar com o mal que vê e pensar depois no mal que vier, se de facto vier. O referendo é um acto político, que se destina a mudar a sociedade (idealmente, para melhor) e não resolver um debate. Claro que, se o "sim" ganhar, o Estado, na prática, "oficializa" o aborto. Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral. Por mim não, espero. E voto "sim".

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Pimenta nos olhos dos outros é colírio


Duas coisas importantes para dizer. O Paulo Pimenta, fotojornalista do Público, tem um blogue há vários meses. Estão lá expostos alguns dos seus trabalhos pessoais. Lindos, porque ele já nasceu com o um rectângulo dentro da íris. Ele diz que não. Que fotografa com o coração. Essas coisas de artista modesto, gente que fica corada quando recebe elogio.
Mas vamos ao segundo ponto. O Paulo Pimenta tem uma exposição em cartaz na Fnac de Santa Catarina, no Porto, chamada "As Três Primeiras Músicas". Quem for lá e ler o texto de apresentação da Inês Nadais vai entender o porquê. Até 15 de Março. Entrada livre, é claro.