Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
domingo, outubro 29, 2006
sexta-feira, outubro 20, 2006
Da tristeza
"O tempo é a coisa mais importante das nossas vidas - até porque se nasce e morre e é nesse intervalo estreito que temos de viver. Mas o tempo quotidiano é algo que impregna os corpos por inteiro e que os programa para agir de um certo modo."
Este é um excerto de uma crónica do Eduardo Prado Coelho no Público. Não me recordo o dia em que foi publicada. Talvez nesse dia estivesse mais preocupada em ser feliz.
Este é um excerto de uma crónica do Eduardo Prado Coelho no Público. Não me recordo o dia em que foi publicada. Talvez nesse dia estivesse mais preocupada em ser feliz.
domingo, outubro 01, 2006
Mulheres nuas, sós ou saudosas
Edward Hopper, Eleven A. M. (1926)
"Um atributo notável da mulher nua é que, apesar de sua prisão solitária na tela, ela nunca se encontra sozinha, eis que sempre nos olha, nos encara fixamente quando a olhamos. Jamais poderemos ser voyeurs secretos, ela sempre nos observará, nos penetrará agudamente, revelando-nos como funciona o nosso desejo e, portanto, quem somos, e isso valerá tanto para homens quanto para mulheres. Sua presença é muito diversa daquela de nus pintados por pintores oniscientes da solidão, como Edward Hopper, em seus, por exemplo, Eleven A. M. (1926) e Morning in a City (1944), em que mulheres nuas, sozinhas em seus quartos, completamente distraídas de seus corpos, vistos de perfil e já marcados pelo tempo, contemplam pedaços de cidades lá fora, nesgas de edifícios, tão desolados quanto elas, as mulheres nos quadros. E se falamos em onisciência é porque o pintor, em princípio, não poderia estar no espaço delas, nem vê-las. Então é bem como no cinema, quando se oculta a técnica que nos propicia estar ali, no convívio dos personagens. O cinema, que não escapou a Hopper em New York Movie (1939): de um lado, a sala de projeção, com seus escassos espectadores que se perdem no que se passa na tela; do lado de fora, no estreito saguão, a moça de uniforme, a lanterninha, com a mão no rosto, profundamente absorvida nos seus pensamentos - ah, a eterna prisão dos pensamentos -, e quase não resistimos a ler na expressão da moça, sendo ela tão jovem, a tristeza de algum amor desfeito, ou distante: uma saudade. "
Excerto do conto "A Mulher Nua", compilado no livro O Voo da Madrugada, do escritor brasileiro Sérgio Sant´Anna (Companhia das Letras, 2003)
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