Se hoje tivesse que escrever um conto, começaria assim (e não me pergunte por que):
Há muito que não dormia nos horários adequados. A insónia activava a minha máquina fotográfica mais íntima. E eu registava Lili com as pupilas, ela deitada de lado, com as pernas aconchegadas no lençol em forma de ninho. Um ninho aos seus pés. Lili com asas. Liliana, um anjo. Tinha as coxas depiladas, lisas, mas agora ganhando pouco a pouco uma penugem de pássaro. E ela voava, posicionava-se em vários ângulos para a foto. Lili de bruços para não magoar as asas no colchão. Levitando sobre o meu corpo, eu também de bruços, com a cabeça apoiada sobre as mãos, os joelhos flexionados. Lili beijando a minha nuca, como numa estátua de Rodin. Já não fotografava, era um sonho em mármore.
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