Hoje aconteceu um cortejo de pessoas vestidas de papel. Isso acontece na freguesia da Foz do Douro, no Porto. Existem várias “costureiras” que, ao longo de dois meses, confeccionam peças cuja matéria-prima é a celulose e, o mais intrigante, cujo único destino é a desintegração no mar. Isso porque, no fim do desfile, os mais de 200 participantes lançam-se efusivamente ao mar da praia de Ourigo. Vestes com os mais delicados debruns, golas com rendas vazadas e folhos costurados à medida – tudo, tudo o que saiu das mãos daquelas singulares artesãs do papel, dissolve-se na água salgada.
Não consegui deixar de pensar naqueles insectos que nascem para viver apenas algumas horas. Têm a palavra “efémera” no nome. Porque morrem antes do nascer de um novo dia. Mas cumprem a sua função, como sugere Gaston Bachelard no seu imprescindível “A Poética do Espaço”. Para o autor francês, o tempo de maturação pode ser tão importante como o desabrochar para a luz. Assim, o exíguo casulo pode ser visto como uma cómoda casa que prepara a criatura para um novo ciclo – o que justifica uma eternidade para um instante excelência. Ainda que fugaz.
O bater de asas.
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