Pegando carona (ou boleia) na discussão "estrangeiros & imigrantes" levantada no querido Aviz , transcrevo aqui uma mensagem enviada pelo Nuno . Espero que ele não se importe.
"Portugal sempre foi um País de emigrantes.
Ainda não há muito tempo, uma parte significativa do nosso PIB resultava das remessas desses mesmos emigrantes.
Com a adesão à U.E., o nosso nível de vida melhorou significativamente, tornando menor esse fluxo emigracional.
Em compensação, com a globalização crescente da economia e a queda do Muro de Berlim, passou a dominar um fenómeno oposto o da imigração, que aos africanos do pós-25 de Abril somava agora brasileiros e cidadãos de várias nacionalidades do Leste Europeu.
De uma forma geral, cidadãos que procuram em Portugal o que os nossos pais e avós procuraram em França, Alemanha, EUA, Canadá, entre outros, uma vida melhor para si e para os seus.
De acordo com os números oficiais, existirão em Portugal cerca de meio milhão de estrangeiros, sendo a comunidade brasileira aquela que maior peso tem.
São cidadãos que, na sua imensa maioria, executam em Portugal trabalhos pesados e mal remunerados que, de uma forma geral, os portugueses não querem desempenhar, como trabalhos de construção civil, restauração, engomadoria e outros do género.
Com o surto de desemprego que se abateu sobre o país, rapidamente começaram a surgir as notícias sobre as máfias de Leste, os problemas com negros nos bairros periféricos e degradados das grandes cidades, nomeadamente Lisboa (curiosamente na sua maioria estes problemas surgem com negros 100% portugueses, normalmente 2ªs e 3ªs gerações revoltadas com as condições de vida que têm) e as histórias de vigarices com brasileiros.
E rapidamente os estrangeiros que fazem o trabalho que não queremos fazer passam a ser os odiados. Tendo em conta a recente sondagem do Público, que diz que 75% dos portugueses não querem mais emigrantes, que ciclicamente existem problemas com as comunidades ciganas e o fait-divers que foi a discussão sobre a eliminação de todos os negros no programa Ídolos, ficando para o final os concorrentes brancos, por votação directa dos espectadores, a questão que se põe a debate é:
Somos um povo xenófobo?
Infelizmente, cada vez estou mais convencido que sim..."
Aproveito a oportunidade para listar três casos de preconceito com brasileiros:
1) O músico Léo veio a Portugal, no final de Dezembro de 2003, para tocar no Algarve com Carlinhos Brown durante a passagem de ano. Foi até ao Algarve Shopping comprar um par de sapatilhas e diz ter sido perseguido por um segurança do equipamento ao longo de toda a sua visita. Contou que esta será uma má recordação que levará de Portugal. E sabe que isto só aconteceu porque é negro, brasileiro. Não estava de fato, mas sim com calças de ganga largas e um gorro no melhor estilo rastafari. Diz ter até comprado as sapatilhas, na esperança de que a atitude mostrasse de alguma forma ao segurança que não era necessário segui-lo, que ele era de facto um consumidor com poder de compra.
2) Um grupo de brasileiros que veio a Portugal participar num congresso literário, em 2003, teve as suas malas reviradas de forma agressiva no Aeroporto de Lisboa. Uma das mulheres do grupo disse que foi tratada com algum desrespeito e até um jeito sonso. É tempo de cantar a canção de Maria Rita - que, aliás, nos deu ontem um show (concerto) memorável -, aquela que diz que "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda".
3) O funcionário que me atendeu na Fnac do GaiaShopping, em Novembro de 2003, quando eu estava a pedir o meu cartão de aderente, não soube interpretar as informações contidas no meio bilhete de identidade. Confundiu "naturalidade" com "nacionalidade" e pensou que eu incorria no terrível erro, no equívoco geográfico que é ser brasileira. Ficou incomodado, ligou para Lisboa, chamou um superior hierárquico. Perguntou se eu não tinha um telefone fixo, se só tinha mesmo o telemóvel. O constrangimento durou cerca de dez minutos, até que o seu chefe chegou à nossa mesa, sobre a qual estavam todos os documentos exigidos para se ter um cartão de aderente, e afirmou com algum alívio: "Ah, ela não é brasileira! Ela só nasceu no Brasil, mas é portuguesa!"
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