Como todo mundo, fiquei chocada com o atentado em Madrid e com o lamentável desempenho da tribo de Aznar, que tentou empurrar a batata quente para as mãos da ETA (e depois pagou o pato nas urnas). Depois de tanta coisa escrita nos blogs e nos jornais, não me atreveria a repetir as ideias esmiuçadas durante o período em que não pude "postar" (o computador da minha mãe simplesmente enlouqueceu).
Contudo, há algo que sucede à dor pelo (e do) outro: o olhar trémulo para o próprio quintal. Pelo menos no Brasil, a comunidade portuguesa está agora mais preocupada com um possível atentado em Portugal do que com o que passou em 11 de Março de 2004.
Será que a solidariedade humana pela dor do outro só é possível porque, ainda que inconscientemente, nós tememos a dor que não sentimos mas que podemos vir a sentir? Aquele que sente dor é capaz de sentir compaixão por aquele que enfrenta uma dor homóloga? A dor do outro nos afecta porque é um prenúncio de que a dor pode vir a ser nossa também? Por outras palavras, não será que exaltamos intimamente o facto de estarmos ilesos quando vemos a catástrofe em terras alheias? A dor que sentimos é uma fraternidade ibérica e humana ou um pavor de quem vê a seara do vizinho arder junto às suas posses?
São perguntas para as quais eu não tenho respostas. Susan Sontag aponta alguns caminhos plausíveis em "Olhando o Sofrimento dos Outros", livro do qual já falei neste cais.
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