Tenho um amigo que diz sempre que moro em Marrocos, ou seja, Vila Nova de Gaia. Eu nunca compreendi bem estes bairrismos do Norte, até porque nunca soube explicar de forma exacta por que é que eu moro em Gaia e não no Porto ou em Matosinhos. Mas isso não importa. O que interessa é que eu até consigo gostar de Marrocos, aprecio sobretudo a indecisão de um concelho meio agrário, meio urbano, meio balnear. Na janela em frente da qual escrevo há, por exemplo, um quadro anacrónico: vejo duas habitações com hortas contíguas - sim, couves, batatas, salsa, alfaces e árvores frutíferas cultivados por dois casais de idosos - e, ao fundo, o inacreditavelmente brega GaiaShopping, contruído num estilo neo-caravelesco.
Gosto disso. É engraçado.
Hoje, quando voltava a pé dos correios, vi mais um exemplo dessa identidade híbrida. Para espantar os pássaros das suas plantas, um camponês gaiense construiu um artefacto futurista recorrendo a CDs usados e barbante. É uma experiência estética inigualável. Recomendo.
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