Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
terça-feira, julho 27, 2004
Esperar por Borges
"Lembro-me de ter encontrado, há já muitos anos, Jorge Luís Borges. Na porta da sua casa, na rua Maipú, uma pequena placa e cobre: "Borges". La mucama, a governanta que, tenho quase a certeza, se chamava Fanny, como a avó inglesa, abriu-me a porta e conduziu-me ao salão. Ele estava ao fundo, sentado num sofá, com as mãos apoiadas na bengala, a conversar com um indivíduo. Ao longo a parede, sentados em cadeiras, outros esperavam a sua vez: um pretendia o seu patronato para um centro cultural de bairro, outro uma dedicatória, e por aí fora. Qualquer pessoa tinha acesso à casa dele, e mais tarde até me contaram que turistas americanos chegaram ao ponto de se fotografarem ao lado dele. Dir-se-ia a sala de espera de um dentista, embora no dentista não se assista aos tormentos do cliente que nos precede. Fiquei horrorizado. Não tinha qualquer pergunta para lhe fazer."
Este é um excerto do livrinho "Paisagens Originais", de Olivier Rolin (o mesmo de "Porto Sudão"; "A Invenção do Mundo", "O Meu Chapéu Cinzento" e o recente "Tigre de Papel") , editado entre nós pela Asa. Faz parte daquela colecção "Pequenos Prazeres", que, neste momento, está a ser vendida por preços entre os 1, 5 e os 3,5 euros em hipermercados. Nesta obra deliciosa, que se lê em apenas uma ou duas horas, Rolin traça breves perfis de cinco homens memoráveis: Hemingway e Nabokov, por exemplo. Há ainda reproduções de fotos destes autores quando crianças. Vale a pena. Vale muito a pena.
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