segunda-feira, outubro 31, 2005

Bem-te-vi

Bem-te-vi ainda era quase uma criança quando migrou com os pais do Sertão do Nordeste para o Rio de Janeiro. Da origem nordestina, conservou a devoção por Nossa Senhora de Santana - santa festejada em Julho, mês em ele nasceu -, e o assobio. A alcunha veio-lhe por saber assobiar para atrair passarinhos.
Até aqui, parece a história de um migrante comum. Não é. Dois anos depois de chegar ao Rio, o ex-lavrador Erismar, o Bem-te-vi, tornou-se um traficante de drogas. Com apenas 29 anos, já era o chefe do tráfico da favela da Rocinha e pai de duas filhas, uma de dois e outra de quatro anos. Ao pescoço, três cordões de ouro assinalavam os seus maiores afetos: dois com os nomes das filhas e um com um cifrão. O poder e o dinheiro visíveis na sua outra predileção: armas personalizadas. Seu fusil Sig –Sauer calibre 7,62 - era de ouro maciço. Por sua vez, o seu "grupamento especial", conhecido como "Bonde do Tesouro" ou "Bonde de Ouro", também ostentava jóias (a esta altura, como não pensar em Lampião e seu bando?).
Ao ser morto pela Polícia, tinha os cabelos pintados, portava duas armas douradas e usava um bracelete de ouro. Segundo noticiam os jornais, no seu enterro alguns moradores da favela questionaram o sumiço de cordões e braceletes. Ainda segundo o noticiário, Bem-te-vi deixou um "sucessor natural", seu cunhado, de 27 anos.
Esta é a triste história de Bem-te-vi (e de uma significativa parcela da população do Brasil). Onde começa o desvio? Como mudar este enredo?

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