Estávamos a sair da redacção, à noite, quando encontramos algumas centenas de pessoas com uma vela na mão a caminhar ao longo da Avenida Marechal Gomes da Costa, no Porto. A minha amiga A. decide parar o carro. Estávamos intrigadas com tão estranha cena às 23h de uma sexta-feira. Abro a janela do carro e indago uma das pessoas que seguiam em fila indiana acerca do propósito da procissão.
__ "É contra o aborto", responde a senhora.
Ficamos esclarecidas.
Defendo obviamente a manifestação livre pelas mais diversas e discutíveis causas. Mas choca-me que as questões sejam colocadas nestes termos. Teria regressado em paz para casa se me dissessem simplesmente: "estamos a fazer uma procissão contra a despenalização do aborto". Sim, porque é disto que estamos a falar. Aquilo que se perguntará aos portugueses nas urnas, no próximo dia 11 de Fevereiro, é se concordam ou não que uma mulher interrompa voluntariamente a gravidez, até às dez semanas de gestação, sem que esteja sujeita a ir parar no banco dos reús.
Despenalizar não é sinónimo de ser a favor do aborto.
Despenalizar não é sinónimo de ser contra a vida.
Espero que os brasileiros que leiam notícias sobre este referendo em Portugal compreendam qual é a questão que está a ser colocada aos eleitores.
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