Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
sexta-feira, junho 29, 2007
O fim do "No Mínimo"
Aqui fica o epitáfio:
"Editores, blogueiros, colunistas, funcionários, colaboradores assíduos ou ocasionais, enfim, todos os nomes abaixo relacionados que ajudaram a criar o site de jornalistas mais querido do Brasil comunicam sua morte súbita neste 29 de junho de 2007, vítima de inanição financeira decorrente do desinteresse quase geral de patrocinadores e anunciantes em sua sobrevida na web. NoMínimo deixa órfãos cerca de 150 mil assinantes entre os mais de 3 milhões de visitantes que, em média, se habituaram a passar por aqui todo mês nos últimos 5 anos. Seus realizadores também sentem muito o triste fim desse espaço livre, democrático e criativo de trabalho, mas se despedem com a sensação de dever cumprido com o jornalismo e a camaradagem que nos une. Foi bom, foi muito bom enquanto durou. Quantos no país têm a oportunidade de tocar seus próprios projetos com prazer, independência e alegria? Aos leitores, nossas desculpas pela falta de talento empreendedor, o que talvez pudesse transformar o site num bom negócio financeiro. Fica para a próxima. Até breve."
quarta-feira, junho 27, 2007
segunda-feira, junho 25, 2007
Partidas e Chegadas
quinta-feira, junho 21, 2007
A importância de ter a própria verdade
Sophia de Mello Breyner Andresen
sábado, junho 16, 2007
quarta-feira, junho 13, 2007
Na data natalícia do poeta Fernando (Antonio Nogueira) Pessoa
"Tanto que me lembro, vivi sempre com ele.
Sempre fui entendendo que se tratava de uma intimidade exposta aos olhares dos outros. E, agora, também exposta ao seu olhar. Fui percebendo que existias comigo, e além de mim. Chamei-lhe ser. Ao teu movimento, dei nome. Como o sentia íntimo e distante, fiz saber que não era um instrumento, mas órgão. Que não servias, mas expressavas. O que dissesse, fazia. Nem que demorasses.
Até modelar o corpo humano.
(...)
Fui dizendo que valia a pena.
Fui-lhes dizendo que te via, ser. Que se habituara a mentir, impostor que eras por manha, excepto com a rapariga que temia essa impostura da língua.
Disse-lhes que podias ser, que havia a possibilidade de que fôssemos a outra coisa, a restante vida, uma variedade de causa amante,
que havia caminho entre a sebe e o ser."
LLANSOL, Maria Gabriela. Lisboaleipzig 2. O ensaio de Música. Lisboa: Rolim, 1994, p. 20.
terça-feira, junho 12, 2007
Sobreimpressões de retratos & sorrisos
Um sorriso aberto alarga-se por todo o teu rosto, ilumina-te os olhos, irradia-se como uma aura que transcende o tempo. No registro deste instante fulgurante do teu ser reencontro potencialmente aberto o futuro.
Desloco o olhar para outro retrato em que uma criança sorri. Reencontro-te na semelhança do sorriso. Na luz que emana deste sorriso reencontro também Clara Serena, a filha do pintor Rubens, "figura de companhia" no estudo sobre a obra de Maria Gabriela Llansol.
Sorrio diante da potência destas imagens sobreimpressas. Talvez essas figuras não estejam no passado nem no presente. Talvez venham do futuro e já estejam entre nós, batendo à porta dos afetos, à espera de serem acolhidas. Nelas leio /ouço o apelo à construção de um outro modo de conceber o tempo.
Pela mão da escrita de Llansol, abro a porta, que já estava aberta. E saúdo-vos, imagens queridas, com o convite: " - [Vinde] contruir um amor comigo" (O senhor de Herbais, p. 311).
sábado, junho 09, 2007
Porto Youth Center
sexta-feira, junho 08, 2007
Nascimentos que nascem
Tenho , contudo, outras datas e lugares de nascimento, a julgar pelas palavras de Marguerite Yourcenar: "o verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo: as minhas primeiras pátrias foram os livros".
Nasci em outros lugares e tempos: nos encontros com o corpo do companheiro, na alegria indescritível da maternidade, na paixão de ensinar, no prazer da interlocução com os alunos, nas delícias de ser avó, na cumplicidade com os verdadeiros amigos, nas lágrimas diante da beleza de um quadro, uma música, um filme, um livro...
Morri um pouco cada vez que duvidei da potência desse olhar inteligente sobre mim mesma. Morri mais ainda quando esqueci da claridade desses nascimentos. Felizmente renasço cada vez que me entrego à minha queda humana. Sei que por vezes esmoreço. Mas logo levanto-me e ando. Estou viva. Sempre ávida por nascer.
Sei que um dia morrerei. Não sei quando nem onde. Mas talvez morrer seja apenas ter outro lugar de nascimento. Que seja inteligente, com claridade serena.
domingo, junho 03, 2007
"elle s´appelle... Tristesse"
O repórter belga Luc de Smet escreve sobre ciência, mas não só. Tira fotos lindas. Esteve recentemente no Porto com a mulher, a magnífica Ann, e recolheu imagens de uma cidade que eu desconhecia (que é a mesma cidade onde trabalho, cidade que escolhi para viver e ser feliz). Esta é uma imagem abstracta de Luc, faz-lhe pensar no fado e na saudade. Por isso, recebeu o seguinte nome: "elle s'appelle... Tristesse"
sexta-feira, junho 01, 2007
Pai escrito I
Fragmento que encontrei no interior de um livro:
Portugal, 8 de novembro de 2004
Pai querido,
sento-me no teu lugar privilegiado - a cadeira na varanda, onde costumavas ler. Olho a paisagem que muitas vezes deves ter olhado. E escrevo.
A tua ausência física ainda dói em mim. Na verdade, dói cada vez mais porque cada vez mais cresce a certeza de que não mais te verei, não com olhos humanos. Sei que pouco a pouco a memória do timbre da tua voz, dos detalhes do teu rosto, enfim, da tua presença em movimento, tenderão a desvanecer-se .Temo que a passagem do tempo esmaeça traços de tua personalidade e do teu semblante, ainda tão vivos em mim. Não, não quero uma imagem fixa de ti, não quero te aprisionar num único instante, congelado, como na reprodução fotográfica. Por isso evito olhar os teus retratos. Porque aquela imagem te trai , porque não estás ali. Procuro então apreender-te através do fluir da escrita, na seqüência de instantes-já, como diria Clarice (Água Viva).
Ao escrever a ti, escrevo-te: construo-te num outro tempo-espaço, ergo-te em palavras, traço a traço, letra a letra. E sinto que vens te sentar outra vez à mesa, comigo, em mim.