Foram as primeiras férias da menininha no campo. Nunca tinha convivido com coelhos, galinhas e cabritinhos de verdade. Só conhecia esses bichinhos dos livros.
A princípio, o medo era maior que o fascínio. Estacava diante do galinheiro, agarrada às pernas dos avós. Mas não desistia, e ficava a contemplar galos e galinhas durante muito tempo.
Logo depois, já puxava pela mão quem se dispusesse a ir com ela até lá. A menininha não se cansava nunca.Todos sabiam que isto significava aceitar brincar de estátua. A imobilidade só era interrompida pelos gritinhos extasiados que a menininha soltava, quando ouvia Co-co-ri-cós.
Mais algumas idas (poucas) e já dispensava a mão protetora. Segura de si, ela mesma queria dar folhas de couve às galinhas. Foi preciso encontrar uma maneira de, sem refrear-lhe a crescente autoconfiança, explicar-lhe os cuidados a observar para não levar bicadas -possibilidade que, naturalmente, a menininha ainda desconhecia.
Ao contrário das previsões dos adultos, de início não ligou muito para os coelhos. Parecia até aquela personagem da Clarice Lispector, apaixonada por galinhas. Então a avó resolveu tirar um coelhinho da toca para que ela o apreciasse de perto. Segurou-o delicadamente pelas orelhas, colocou-o no chão e deixou-a conviver com aquele bichinho de pêlo fofo e focinho trêmulo.
A menina gostou da experiência. Fez questão de ela mesma dar ao coelhinho folhas de couve. Segurava o caule firmemente, enquanto o animalzinho ia roendo, roendo... Ainda sem muita intimidade com ele, depressa encontrou um jeito de acariciá-lo: sem soltar a mão da avó, debruçava-se para vê-lo melhor e, com a outra mãozinha, conduzia a mão da avó até o interior da toca, fazendo gestos para que a avó o afagasse. Tocava-o, assim, através do corpo e do afeto de alguém em quem confiava.
A partir de então, a menininha passou a dividir o tempo da contemplação entre os seus dois novos amores.
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