A cada ano que passa, a filha vai percebendo, emocionada, pequenas declarações de amor que o pai lhe enviara, quase sempre de forma enviezada, através de conversas com outras pessoas.
A educação austera e o temperamento contido, um tanto tímido em matéria de exteriorização de afetos, impediam-no de manifestar claramente o seu amor. Fazia-o, porém, através de gestos de acolhimento e generosidade.
A filha gostaria de poder dizer-lhe que enfim recebeu, uma a uma, as mensagens que ele, obliquamente, lhe enviou. Colhe-as, como quem colhe um buquê de flores da memória.
Sobrevivente, resta-lhe, agora e sempre, honrar o pai, não por mandamento imposto, mas por muito orgulho de ter tido o privilégio de tê-lo como ascendente. Decerto o mais querido, inesquecível.
Então, apesar da imensa saudade, debaixo da cortina de lágrimas, a filha sorri, consolada por ter tido aquele pai; por ele ter sido a pessoa que foi - um homem justo, honesto, imensamente amoroso (apesar de desajeitado); pela alegria da própria maternidade, que lhe permitiu prolongar-lhe a descendência, e ter a graça de ser, como ele, um elo na cadeia familiar.
E, comovida, agradece ao pai , enviando-lhe estas palavras em lugar dos beijos e abraços que não puderem ser dados a tempo. Quem sabe possam encontrar a desejada sincronia... quem sabe possam ultrapassar a difícil comunicabilidade entre gerações e transformar a defasagem de ritmos em simultâneas palavras de amor.
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