A avó anda meio (para não dizer muito) desalentada. Preocupa-se demais com a visível perda de valores fundamentais, em diversos setores da sociedade, sobretudo na esfera familiar. Ocorre-lhe um exemplo, bastante próximo, do terrível poder das forças desagregadoras: um bom homem levou mais de vinte anos pacientemente a tentar reaproximar os membros desavindos da família. Quando cuidava que enfim havia conseguido, eis que, por gosto de cobiça, a maldição de Caim fez-se presente, e a força centrífuga da desarmonia e do desamor contaminou a todos, de forma bem mais devastadora, trazendo ao velho pai um misto de impotência, vergonha e profunda tristeza nos últimos anos da sua vida.
Em outras famílias (infelizmente em quase todas há sempre um caso: um primo, um sobrinho, um filho...), as conseqüências das drogas são igualmente ou ainda mais devastadoras. Todos - pais, irmãos, avós... - são atingidos pelos efeitos e sofrem de alguma maneira com a situação. Lares são destruídos. Potencialidades desperdiçadas. Projetos de vida abortados ou sequer concebidos. Milhares de vidas perdidas, envolvendo em dor e lágrimas quem estiver próximo. E apesar de toda informação que circula, das campanhas na mídia, dos esclarecimentos de educadores e especialistas, dos cuidados dos familiares, o problema cresce exponencialmente, de forma assustadora.
Mais terrível ainda é quando os próprios pais, inteiramente inconseqüentes em relação ao ambiente em que os filhos vivem, entregam-se ao vício, expondo a integridade física e psicológica das crianças. Como não sentir desalento e preocupação, quando se tem notícia de que aqueles que a princípio deveriam zelar pela educação dos filhos, transmitindo-lhe os valores fundamentais que já andam tão escassos, são justamente os que, em suas ações e atitudes cotidianas, revelam-se incapazes de transmiti-los? Que futuro terão as crianças que convivem num ambiente familiar com adultos drogados? O que esses pais poderão oferecer-lhes em termos de formação de caráter?
Para não sucumbir diante da crescente tendência à desagregação de valores básicos, a avó apega-se à comovente imagem que andou circulando na imprensa mundial: a foto do abraço do pequeno Emmanuel e sua mãe, Clara Rojas. Para potencializar essa imagem, acrescenta-lhe a da tenaz mãe de Clara, de quem se sente muito cúmplice, imaginando-lhe a dupla alegria de enfim reencontrar a filha e o neto. Talvez essa imagem de afeto familiar seja um bom antídoto para o pessimismo geral. Talvez esse triplo abraço lhe traga um pouco de alento, enfim, um fio luminoso de esperança de que, apesar de tudo, pelo menos algumas (embora raras) vezes, a força agregadora do amor pode vencer.
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