quinta-feira, março 06, 2008

Imagens curativas 1 - transfigurando a dor em beleza


A avó anda meio triste, sentindo dor pela perda da Amiga. Quando recebeu a notícia de que ela partira, uma sensação extremamente dolorosa, física, apertou-lhe o coração.

Lembrou-se, então, das imagens curativas a que a Amiga recorrera, quando perdera o seu Amigo (Amigo e Amiga. O curso do silêncio de 2004). Com ela e como ela, recorrendo às imagens desse livro, poderia aprender a transfigurar a dor em beleza. Se apurasse os ouvidos, talvez pudesse ouvir um som semelhante a "Tsi-z'li" ("Tsi-z'li", "espécie de melodia de felosa-verde-listada, muito raro na Europa"), em forma de chamamento da Amiga, a lhe dizer, serenamente: "_____estou bem".

Principiou a ouvir uma outra melodia, de sonoridade semelhante: titi, titi. Não, não era canto de ave rara. Era chamado de criança-em-educação, ainda quase pré-linguagem, a crescer como o piano de O começo de um livro é precioso e O Jogo da liberdade da alma.

Sentiu então o impulso de transfigurar o negro do luto numa farândola de cores e movimentos, como a da criança do texto (fragmento inédito) que a Amiga lhe oferecera.

Em resposta ao chamamento, a avó pediu à mãe do netinho do coração para brincar um pouco com o menininho, não mais através da fresta da rede protetora, mas diretamente, no chão da varanda da casa dele. A mãe concordou prontamente, mesmo sem entender a razão de tão súbito pedido.

Surpreendido e feliz, o menino acolheu a Titi quando ela bateu à porta da sua casa. Ambos brincaram como nunca, espalhando brinquedos na varanda. Quando a Titi se despediu, à tardinha, em lugar da dor afilada sentiu uma doce leveza. Respirou amplamente, e repetiu o canto que desejava ouvir:

- " 'Tsi-z'li' ______ estou bem"

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