A imagem do buraco na rede por onde a pequena Isabella foi arremessada acutila-me. Esse rasgo (aberto com a ajuda de dois instrumentos cortantes, segundo a perícia) contraria todos os princípios do acolhimento humano.
Pomos redes protetoras nas janelas para proteger as crianças de possíveis quedas. É preciso uma frieza e uma crueldade inimagináveis para praticar um ato hediondo como esse.
Simbolicamente, é o reverso de um parto. Quando uma criança está para nascer, mãos humanas aparam-na cuidadosamente, acolhem-na, trazem-na para a vida. Assim Isabella com certeza chegou ao mundo: amada, desejada, cuidada, protegida.
Mas as mãos que seguraram Isabella pelo vão e lançaram-na indefesa para o abismo, fizeram-na desnascer abruptamente, violentamente, longe da rede de proteção de todos os que verdadeiramente a amavam.
Quis o acaso (se é que existe acaso) que a mãe conseguisse estar ao lado da menina nos instantes de trânsito entre a vida e a morte. Preciso acreditar que a simples presença materna, sua voz doce, seu toque macio, chegaram de alguma forma até a menina, serenizando a sua angústia e estupefação, confortando-a, acolhendo-a na passagem para outra forma de vida, para um lugar onde não se arremessem crianças indefesas para o abismo.
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