Hoje Maria Gabriela completaria 77 anos. Desde o dia 3 de março de 2008 o “tempo transborda”, como num dos poemas de Éluard, que ela traduziu. Copio para a Amiga as palavras que escreveu para o Amigo: “Mas o tempo, contado pela terra, é inútil para el[a]. El[a] caiu agora onde fica o segredo da contagem”. Com Augusto, o seu ambo, Gabriela sente e experimenta a eternidade.
Canto-lhe a leitura quase todos os dias, silenciosamente, como no nosso último encontro em Sintra, em 2007, um pouco antes de ela penetrar a face do invisível: na quase penumbra do quarto, sentada num banquinho, diante da cadeira onde ela costumava sentar, li em absoluto silêncio as primeiras páginas de um exemplar de Os cantores de leitura, ainda não lançado. Ela interrompeu o curso de silêncio ao perceber um breve movimento na minha face.
- Estás a gostar?
Seguro-lhe as mãos, acaricio-lhe a fronte, e sussurro-lhe ao pé do ouvido, em ponto de beijo.
- Sim, Maria Gabriela, sorrio para a palavra que anuncia o texto prosseguindo – nostalgria, a transformação da tristeza em “sopro de júbilo”.
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