Uma imagem do fotógrafo Paulo Pimenta sugere o abandono a que está votado o interior de Portugal. Se pudesse traduzir em palavras a delicadeza do trabalho do artista, seria assim:
As ervas crescem ao ritmo do abandono. É o único ritmo deste lugar. A velocidade da seiva que nutre caules verdes do esquecimento. São silvas que crescem robustas e espinhosas. Os homens envelheceram. As suas cabeças, cobertas por grinaldas de cabelos brancos, tombam sobre o peito – como a minha. Sinto o cansaço de quem ficou quando todos partiram. Resta pousar a mão sobre o joelho, neste banco de madeira tornada áspera pelo tempo. Resta esperar que novos relógios venham substituir este sol suspenso. A expectativa da chegada de ponteiros electrónicos, de metal brilhante, capazes de trazer horas rápidas. Para já, tudo é incompleto: a fábrica encerrada acima, a leira queimada abaixo e as videiras por podar no nosso quintal. Os nossos filhos sempre alertaram para a inevitável despedida, mas tu não acreditaste. Achaste que a terra natal é solo de todo dia, onde se planta o pão e se cria os filhos. Mas agora que tu partiste, estou só com as silvas.
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