O volume quatro da revista luso-brasileira "Metamorfoses", já disponível nas livrarias, traz um cuidado dossier sobre Eduardo Lourenço. Um dos artigos foi escrito por alguém muito importante para mim e, sendo assim, não fica nada bem estar a elogiá-lo. Pensei em nem sequer mencionar esta novidade no Cais, mas depois cheguei à conclusão que seria uma pena não dar a conhecer um inédito do autor que ali vem ali. Chama-se "O Poeta e os Outros" e foi escrito por um jovem Lourenço, já muito consciente da dificuldade de julgar uma obra de arte.
O ensaísta português, radicado em Nice há muitos anos, fala nesse texto da crítica literária que se quer responsável e não máquina destruidora de criadores. Os críticos, para ele, "são insuportáveis, mesmo os melhores, e quanto melhores piores. A esse destino de aves mortuárias da criação só escapam os críticos a quem o amor deu asas para queimar na luz descoberta." Daí que Lourenço defenda a crítica daquilo que nos toca. Se um texto não encontra no crítico o seu leitor ideal - ou simplesmente é, na sua opinião, um texto fraco - não escrever sobre ele poderá ser talvez o tratamento mais honesto. Por isso encontramos na vasta obra de Lourenço análises apaixonadas sobre criações que o ensaísta leu com extremo desvelo. A literatura que não mereceu o movimento da sua mão não é necessariamente má, apenas não lhe tocou.
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