Hoje é Dia das Mães no Brasil. Nas ruas e esquinas, uma Primavera fora de época. Ambulantes vendem flores em quiosques e bancas improvisadas na calçada. E nas imediações dos cemitérios, uma infinidade de barracas, talvez em maior número do que na época de Finados, oferecem flores aos visitantes saudosos. Ontem, o vigia do meu prédio saudou-me simpaticamente, parabenizando-me pelo Dia das Mães. E o anônimo trocador do ônibus, também imaginando que sou mãe, respeitosamente homenageou-me, ao entregar o troco. Agradeci a ambos, comovida. Gestos como esses conseguem ir além dos interesses puramente comerciais que criam e exploram certos “Dias”.
Numa época em que quase não há mais valores, “mãe” é um valor que ainda resiste, como mostrou o documentário Falcão: meninos do tráfico, de MV Bill. Num ambiente profundamente corrompido e degradado, em que praticamente inexiste a figura do pai e em que as crianças raramente chegam à vida adulta, “mãe” é palavra que carrega sozinha toda a esperança e poder de transformação.
Li, não sei aonde, que se para quem perde o pai ou a mãe há a palavra órfão, não há nenhuma palavra que possa designar a situação e o sentimento de quem perdeu um filho. Dor inominável. Stabat Mater dolorosa (estava a Mãe dolorosa...), como lembra o sofrimento de Maria, diante da crucificação de seu filho Jesus... Mães pobres e ricas, mães de santos e bandidos, mães alegres e tristes, mães de sangue e do coração, todas se igualam no amor por seus filhos. Nenhuma mãe gera filhos para vê-los mortos nas guerras e batalhas da vida. Nenhuma mãe quer ver o filho morto, ainda mais precocemente, sem nenhuma chance de “chegar lá”, como cantou Chico Buarque em “O meu guri”. Porque todos os filhos são “eternos infantes”, “menino[s] de sua mãe” (Fernando Pessoa).
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