A cada vez que vem passar uns dias com o pai, a menininha manifesta grande alegria ao reencontrar as suas coisinhas. Lá estão sempre à espera dela, cuidadosamente arrumados, os seus brinquedos, roupinhas, livros de histórias...
Mal chega, com um visível prazer, a menininha lança-se à redescoberta, correndo pelos aposentos. Avidamente, vai pegando e largando os brinquedos e outros trecos, como quem quer provar de tudo ao mesmo tempo. Logo logo a casa toda tem marcas da sua passagem. À noite, tudo volta ao lugar, para de manhã novamente ser posto em movimento...
De vez em quando, a pequenina lembra-se de pegar "as suas histórias". Traz todos os livros num braçado, derrama-os no chão, e distrai-se sentada a passar as páginas, de preferência bem perto dos adultos.
Um dia, a menininha encontrou na estante da sala uma caixa com álbuns de fotografias do pai. Um a um, começou a desfolhá-los, enquanto a família ia explicando quem estava nos retratos:
- Este é o seu papai quando era menino, com uniforme do colégio... Agora, é o vovô e a vovó na casa deles.... Aqui é a madrinha olhando emocionada para você, no dia em que você nasceu... Esta era a casa do papai quando vivia longe daqui...
Dali a pouco, a menininha volta a se interessar pelos brinquedos momentaneamente esquecidos. Novo intervalo, e novamente chega a vez da retomada dos livros. Desta vez, porém, a menininha incorporou à costumeira pilha alguns álbuns de retratos e começou a desfolhá-los. De repente, quem sabe devido ao formato dos álbuns ou graças talvez àquela sabedoria própria das crianças, foi dizendo, com jeito de quem sabe bem o que diz:
- Minhas histórias!
(Apetece dizer-lhe:
- Sim, pequenina! Estas "folhas" contam um pouco da história dos que te amam. Contam sobre a tua pré-história, quando ainda eras um sonho azulado... Contam também a tua história, desde o dia mágico em que abriste os olhos para o mundo e fizeste derramar lágrimas de alegria ... Sim, meu amor, estás certa, são mesmo as tuas histórias!)
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