segunda-feira, março 31, 2008

Impressões da paisagem





O repórter freelancer belga Luc de Smet, especializado em jornalismo científico, enviou-nos mais imagens que costuma captar pelo mundo fora. Gosto muito das texturas e da cores, mas sobretudo da capacidade que este jornalista tem de encontrar beleza no canto remoto, na dobradura extemporânea, na superfície descascada e na pele tatuada das cidades.

quarta-feira, março 26, 2008

O enigma do humano e a ficção científica


O que há em comum entre filmes de Ficção Científica, como Blade Runner (Scott, 1982) e Imaginação artificial (Spielberg e Kubrick , 2001)?

Ambos provocam instigantes inquietações em torno da antiga pergunta-enigma, cada vez mais atual - o que é o homem?

terça-feira, março 25, 2008

Bem-vindo, querido neto do coração!

Hoje é um dia memórável: o seu dia, o dia em que você enfim chegou. Todos o aguardávamos, ansiosos.

A sua avó do coração ainda não teve a ventura de contemplar o seu rostinho. Mas já o sonhou à distância. E consegue imaginar você envolto num halo de afeto e felicidade, docemente acolhido por seu pai e sua mamãe.

Bem-vindo a este mundo!

quarta-feira, março 19, 2008

A neta, a avó, o bisavô e a tradição da Páscoa

A Páscoa se aproxima. É uma data que traz uma memória viva do meu pai. Ele deixou-nos a tradição de receber o compasso Pascal com tapete de flores à entrada da casa. E sobre a mesa finamente guarnecida com a melhor toalha, variadas iguarias e doces conventuais.

Ele partiu, mas a tradição continua, celebrada sobretudo em nome dele, como se ainda estivesse presente na festa (e sentimos que está).

Também gostaria de deixar uma memória de convívio afetivo que se tornasse uma tradição para a minha netinha (e para quem mais chegar...). Que fosse celebrada espontaneamente, como os meus filhos fazem pelo avô.

Ainda não tive a ventura de passar com a minha netinha uma festa importante, como a Páscoa, o Natal e o Ano Novo. Se eu pudesse estar com ela nesta Páscoa, iniciaria uma tradição bem lúdica: procurar ovinhos (poucos e pequenos, para não fazer mal) e prendinhas escondidas pela casa (se fosse na cada do bisavô, poderia ser entre as plantas do jardim).

Fica a sugestão. Quem sabe alguém (penso no filho, ou na filha, ou em ambos...) que tenha o privilégio de conviver com a menininha amada proponha a ela a brincadeira, em nome da avó distante?

terça-feira, março 18, 2008

Descobrindo a América, ainda que tardiamente

Apesar de longo convívio com os livros, confesso que desconhecia o Popol vuh, livro sagrado dos maias que conseguiu sobreviver, com algumas transformações ao ser transmitido pela tradição, à destruição sistemática empreendida pelos colonizadores espanhóis.

Mea culpa. Deveria conhecer esse e outros livros fundamentais da cultura latino-americana. Mas antes tarde do que nunca. E mais gostaria de conhecer, se não fosse, para tantos conhecimento a adquirir, tão curta a vida.

segunda-feira, março 17, 2008

Adoecer, sem batatas na testa


Dor no corpo. Febre. Gripe. Cama.

Na infância, quando eu ou minha irmã ficávamos febris, minha mãe costumava pôr rodelas de batata crua na testa, firmando-as com uma faixa.

Não sei se há alguma verdade científica nisso, mas o fato é que parecíamos melhorar à medida que as rodelas iam ficando escuras.

Como nós não tínhamos mimos nenhuns, eu achava doce adoecer só para poder ter uns minutos de atenção da minha mãe.

sábado, março 15, 2008

Mais um tributo à Amiga

Maria Gabriela Llansol é o perfil desta semana no sítio electrónico Edit on Web. O texto é de autoria de Maria de Lourdes Azevedo Soares.

Outras visitas


Ontem de manhã, quando fiz um intervalo nas atividades de computador, fui à varanda. Os macaquinhos não estavam mais lá. Comeram os pedacinhos de banana e foram embora, deixando saudades...

De tarde, nova visita de bichos. Desta vez, uma imensa mariposa (imensa mesmo) pousou na batente da porta que dá para a varanda. A princípio assustei-me, pensando que era um morcego (na noite anterior entraram alguns, e esvoaçaram freneticamente pela casa, atraídos talvez pelos pedaços de fruta que deixei para os macaquinhos).

Depois, comecei a pensar que, para não assustá-la, teria de dormir sem correr a cortina (não consigo dormir com claridade...). De repente, quando precisei acender a luz, ela levantou vôo e, fascinada pela luminosidade intensa da lâmpada, entrou no globo do lustre. Desliguei o interrutor imediatamente, para não queimá-la. E fiquei aguardando ansiosa que meu marido chegasse, para ajudar-me a libertá-la.

Foi uma operação de salvamento delicada. Mas conseguimos retirar o globo e levá-lo até à varanda, com o bocal tampado com uma revista, para ela não se debater e se machucar ainda mais. Cuidadosamente, destampamos o bocal, virando-o na direção da liberdade. Ao sentir as lufadas de ar, imediatamente a mariposa bateu asas e pousou, livre, na parede da varanda, resguardando-se da chuva.

De manhã, não estava mais lá. Também não estava morta no chão. Talvez tenha encontrado um refúgio, quando a chuva cessou...

sexta-feira, março 14, 2008

Uma visita inesperada 3


Ontem, à tardinha, julguei ouvir um chamado, vindo da copa da amendoeira que derrama seus galhos sobre a varanda.

Apurei os ouvidos e o olhar. Lá estavam eles, dois sagüizinhos,também a me observar, irriquietos. Há muito não recebia tão bem-vindas visitas, com jeito de crianças travessas.

Corri à cozinha. Lamentavelmente, na geladeira só tinha banana madura demais, à espera de virar doce. Mesmo assim, decidi cortar meia banana em pedadinhos. Deixei-os enfileirados sobre o parapeito, sempre observada de longe por dois pares de olhos atentos. Depois, chamei os sagüizinhos carinhosamente e me afastei, para deixá-los comer à vontade.

Primeiro veio um. Comeu três pedacinhos meio desconfiado e retornou logo ao galho. Só um pouco depois veio o outro. Mais tarde, um deles (como saber qual?) retornou e comeu novamente.

Pensei que, satisfeitos, iriam embora. Mas, desta vez, não foi assim. Excursionaram pelos galhos até ao anoitecer e depois aninharam-se na parte mais alta da árvore, sempre a olhar atentamente para a varanda.

Choveu torrencialmente no início da noite. Pensei na aflição dos macaquinhos, mas não consegui enxergá-los, tal era a escuridão. Ainda estariam lá, encolhidos nos ramos? Teriam ido embora?

Assim que acordei corri à varanda. Não os vi de imediato, camuflados no meio da folhagem. De repente, surpresa: consegui distingui-los, quase diante dos meus olhos.

No parapeito, nova fileira de pedaços de fruta, a servir de café da manhã. Logo mais saberei se ainda estão lá...

terça-feira, março 11, 2008

Pensando na Luz de Maria Gabriela Llansol

Rio de Janeiro, 11 de março de 2008

Querida amiga,

ontem, 10 de março (data que equivocadamente consta como do seu nascimento em algumas notas biográficas), estivemos com você numa cerimônia singela e profundamente bela.

Durante a Missa da Luz, na Paróquia da Ressurreição, entoamos preces e cânticos de fé, na convicção de que você estava conosco e no espaço edênico, "à luz da ressurreição" . Nas momentos finais, os amigos e familiares foram convidados a receber, na frente do altar, uma vela acesa e um cartão em homenagem ao ente querido que partira.

Eu e o meu companheiro acendemos a vela de ternura por você, querida amiga.

Na saída, abraçamos o amigo que me apresentou à sua obra, e a quem serei para sempre grata por me ter propiciado este encontro definitivo. Ele estava presente, é claro. Também estavam presentes uma amiga de longa data e sua mãe. E estas presenças deram-me grande conforto.

Andamos um pouco a pé, juntos, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. No percurso, convocamos vários pensamentos afetivos: pensamos em você, querida Maria Gabriela, com um sorriso largo, acompanhada do seu ambo, na foto de abertura do livro Amigo e Amiga; falamos da sua imensa generosidade, acolhendo os legentes que vinham vê-la, atraídos pelo fulgor dos seus textos; partilhamos, comovidos, a alegria e o privilégio de poder ler seus livros e os textos dos críticos que souberam perceber a importância da sua obra.

Alimentamo-nos dos "pães do imaginário" e dos pãezinhos de gergelim do lanche, sem ruptura entre o corpo e o espírito.

Por fim , abraçamo-nos com um "até logo" nada distraído, fora do hábito de servir os afetos. Com um desejo sincero de nos reencontrarmos em breve, sabendo que sempre estaremos juntos, com você, nos textos do fulgor.

Era isto que gostaria de dizer-lhe, hoje, querida Maria Gabriela.

com imenso afeto da amiga, dos amigos.

Ps.: continuo a pensar em Témia e, sempre e cada vez mais, em Ana ensinando a ler a Myriam - a figura que mais fortemente me atraiu para a paisagem dos seus textos.

domingo, março 09, 2008

Coisas de criança 14

Ontem foi um dia especial: dia do aniversário do vovô.

Como de costume, o pai pôs a menininha no colo, diante da webcam, para ela interagir com os avós distantes.

Só que desta vez cantaram um trecho de "Parabéns pra você" (só um trechinho: ela ainda é muito pequena para conseguir se concentrar numa música inteira...).

No meio da conversa, o pai perguntou:
-Então, já deste parabéns pro vovô?

Prontamente, ela respondeu:
- Eu já di.

Enquanto o pai repetia a forma correta (dei, eu já dei), a avó sorria, lembrando-se da admirável competência lingüística dos pequenos aprendizes da língua, que apreendem as regras das conjugações dos verbos. Simplesmente a menininha, como ocorre com muitos outros falantes, aplicava "corretamente" a terminação do pretérito perfeito!

Ontem, um dia especial

Por vezes lançamos frases-pensamentos que encontram profunda ressonância em outras pessoas.

A escritora Maria Adelaide Amaral, numa entrevista, confidenciou o porquê de considerar muito especial a sua relação com o seu companheiro :

- Ele consegue fazer com que eu revele o melhor de mim. Ele me torna uma pessoa melhor. (cito de memória)

Esta frase, simples e intensa, marcou-me profundamente. Guardei-a porque senti que se aplicava perfeitamente à minha vida. Há muito queria dizê-la ao homem que me acompanha há 37 anos.

Disse-lhe no cartão de aniversário, ontem, no Dia da Mulher.

sábado, março 08, 2008

Imagens curativas 2- Os Anjos Sublimes e Independentes da Guarda

Leio o belo texto da Etelvina, "Melissa, a guardiã". Penso imediatamente na guardiã Chiquinha, a fiel gata branca que arranhava a porta do quarto do meu pai, com um miado longo de cortar o coração, logo após a partida de seu dono. Abri-lhe a porta, deixei-a subir na cama e entoar felinamente o seu rito de despedida. Vi-a farejar como um cão, "Anjo da Guarda Sublime", percorrendo, um a um, os lugares dele. Depois retirou-se mansamente, lançando-me um olhar cúmplice, que jamais esquecerei.

Tomo nas mãos dois dos livros de Maria Gabriela Llansol pousados junto à minha mesa de trabalho. E leio:

"Disse-me que os animais são Anjos protectores, e eu sabia que já vivia sob a sua guarda. Para mim, o Anjo mais sublime é o do Cão, o anjo mais independente é o Anjo do Gato (...).

Fazem-me falta aqui o meu Anjo Sublime da Guarda, e os meus Anjos Independentes da Guarda; há entre nós um laço, um suspiro de fidelidade, noites e noites em que eles, no jardim, iluminam de liberdade a casa" (Amar um cão,[p. 19])

"Comunidades havia que tinham apenas o que sentiam, sem saber o que experimentavam. Tal acontecia, sobretudo, com as comunidades em que predominavam plantas ou animais ou estrelas. Tomavam por livro o seu mapa envolvente, sem que soubéssemos se nalgum deles estaríamos incluídos" (O Senhor de Herbais, p. 322)

quinta-feira, março 06, 2008

Imagens curativas 1 - transfigurando a dor em beleza


A avó anda meio triste, sentindo dor pela perda da Amiga. Quando recebeu a notícia de que ela partira, uma sensação extremamente dolorosa, física, apertou-lhe o coração.

Lembrou-se, então, das imagens curativas a que a Amiga recorrera, quando perdera o seu Amigo (Amigo e Amiga. O curso do silêncio de 2004). Com ela e como ela, recorrendo às imagens desse livro, poderia aprender a transfigurar a dor em beleza. Se apurasse os ouvidos, talvez pudesse ouvir um som semelhante a "Tsi-z'li" ("Tsi-z'li", "espécie de melodia de felosa-verde-listada, muito raro na Europa"), em forma de chamamento da Amiga, a lhe dizer, serenamente: "_____estou bem".

Principiou a ouvir uma outra melodia, de sonoridade semelhante: titi, titi. Não, não era canto de ave rara. Era chamado de criança-em-educação, ainda quase pré-linguagem, a crescer como o piano de O começo de um livro é precioso e O Jogo da liberdade da alma.

Sentiu então o impulso de transfigurar o negro do luto numa farândola de cores e movimentos, como a da criança do texto (fragmento inédito) que a Amiga lhe oferecera.

Em resposta ao chamamento, a avó pediu à mãe do netinho do coração para brincar um pouco com o menininho, não mais através da fresta da rede protetora, mas diretamente, no chão da varanda da casa dele. A mãe concordou prontamente, mesmo sem entender a razão de tão súbito pedido.

Surpreendido e feliz, o menino acolheu a Titi quando ela bateu à porta da sua casa. Ambos brincaram como nunca, espalhando brinquedos na varanda. Quando a Titi se despediu, à tardinha, em lugar da dor afilada sentiu uma doce leveza. Respirou amplamente, e repetiu o canto que desejava ouvir:

- " 'Tsi-z'li' ______ estou bem"

A avó, a neta e os cataventos


Nas férias passadas, a menininha encantou-se com os cataventos. Não conseguia falar a palavra, pois mal acabara de completar dois anos. Com as mãozinhas viradas pra fora e muito brilho nos olhos, solicitava a todo o momento a avó, para que ela confirmasse a beleza da novidade e do nome:

- Oh! É o cacavento, vovó!

A avó então repetia pausadamente as sílabas da palavra, sublinhando a sílaba correta:

- É, meu amor, é o ca-TA-ven-to.

A menininha olhava atentamente a avó, como quem quer aprender a fazer leitura labial. E logo conseguiu dizer a palavra corretamente.

Todos os dias, após o jantar, a avó, a netinha e o avô sentavam-se na beirada do muro, a apreciar juntinhos os cataventos, a girar no alto da serra que fica diante da casa da aldeia.

Então a avó lembrou-se do refrão de uma música brasileira e pensou que ele tinha tudo a ver com aquele momento. E cantou-o para a menininha, fazendo com as mãos os movimentos do catavento:

- Que maravilha, a girar! ... Que maravilha, a girar!

Pouco tempo depois, ambas já cantavam e rodavam juntas as mãos, como se fossem dois cataventos também a girar, só que do lado de cá, como quem conversa com o vizinho do lado de lá.

Que maravilha! Sim, que maravilha é viver e brincar!

quarta-feira, março 05, 2008

Coisas de pais e filhos 4

Há mães que esperam cartas, telefonemas ou outras manifestações de carinho dos filhos, e recebem. Outras há que esperam em vão. Bom mesmo é quando elas recebem, sem esperar, lindas mensagens afetivas.

Ontem à tardinha, quando viu o carteiro passar e entregar uma volumosa correspondência, a mãe teve um pressentimento. Esperava a chegada de um livro, vindo de Portugal. E, de fato, ele veio. Mas não esperava encontrar, entre as demais cartas, um cartão de Feliz Dia das Mães, enviado pela filha querida, atualmente a estudar na Inglaterra.

A mãe leu-o emocionada e depois guardou-o junto de outras cartas preciosas. Em seguida, pôs o retrato que vinha junto do cartão na face lateral da caixa de retratos da menininha e da família. Assim, sempre que a saudade bater forte, pode ver os seus amores.

Enquanto cuida das tarefas diárias, a mamãe sorri, pensando que agora terá três Dias das Mães para comemorar: o do Brasil, o de Portugal e o da Inglaterra. Sorri mais ainda por saber que entre pais e filhos há reciprocidade amorosa todos os dias.

terça-feira, março 04, 2008

"Tsi-z'li", à luz da ressurreição


"Entre as coisas vivas, o que mais aprecio é a ressuscitação das coisas
mortas,
dar-lhes o lugar no eterno retorno do mútuo que elas merecem.

'tsi-z'li'

_________ estou bem"

Maria Gabriela Llansol. Amigo e Amiga. O curso de silêncio de 2004. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, p. 141-143

segunda-feira, março 03, 2008

Velando a amiga III

A Amiga partiu. Foi ser luz, ao encontro do seu ambo.
Deixou-nos o texto do fulgor, singularidade irrepetível.

sábado, março 01, 2008

Parabéns pra você, cidade do Rio de Janeiro


1º de Março. A cidade do Rio de Janeiro completa 443 anos de fundação. Parabéns, cidade menina-e-moça, abençoada por Deus, bonita por natureza. Linda demais, mesmo quando amanhece com chuva, como ocorreu hoje, dia da sua data natalícia. Maravilhosa, apesar de tão pouco cuidada por quem de direito.

Minha alma carioca canta, saudando a cidade em que escolhi viver.