Ele era manso, bondoso, humilde, gentil. Até demais. Por isso foi cognominado o "santo" pelos que viviam próximos. Mas no nosso mundo não há muito lugar para os excessivamente mansos e bondosos. Não, não era ele o inadequado: este nosso mundo é que não foi /é capaz de acolher seres assim. Por isso também alguns dos que deveriam amá-lo tornaram-lhe terrivelmente amargos os últimos anos. A ponto de fazê-lo revoltar-se e protestar em voz alta.
O Senhor José partiu ontem. Os que muito o amavam choram pelas oportunidades de felicidade desperdiçadas, pelo que poderia ter sido e não foi, pelo amor que ele distribuiu e tão pouco colheu.
Lembro do poema de Manuel Bandeira e imagino o Senhor José entrando no céu. Chega respeitoso, chapéu nas mãos, cabeça baixa, corpo ligeiramente curvado. Murmura com voz tímida, quase imperceptível, como quem não quer incomodar ou pensa que não é digno de ali entrar :
- Licença, meu Santo.
E São Pedro, bonachão, abre a porta de par em par e estende os braços para recebê-lo:
-Entra, José! Você não precisa pedir licença.
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