O tempo passa como uma aragem pelos seus cabelos. Os fios estão emplastrados com tinta dourada. As mãos pousadas sobre o peito seguram uma criança ausente e, talvez por saudade da infância, assim permanecem até ao tilintar da próxima moeda. Ela é uma mulher de vestes encarnadas que não se contenta em estar suspensa sobre os relógios de uma multidão – quer mais, deseja sobrepor-se ao real com gestos singelos, mas estagnados numa era muito antiga. Tão antiga que mal podemos dela recordar uma linha. E por isso fixamos os nossos olhos nos seus, à procura de um sinal de vida qualquer: um piscar que seja, a traição de uma veia mais dilatada ou o tremor de um corpo cuja matéria-prima pode, a qualquer instante, deixar de ser pétrea e liquefazer-se em sangue.
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