quinta-feira, outubro 16, 2003

À Porta de Llansol (II)



Lúcia Castello Branco deu-me um texto seu chamado "Livro de Cenas Fulgor - caderno de contemplações". A obra é publicada pelas Edições 2 Luas, uma oficina artesanal comandada por Paulinho Assunção. Leio no prólogo que este projecto nasceu da experiência de Lúcia com a textualidade de Llansol e de Sei Shônagon, esta nascida no Japão por volta do ano 965. Lúcia explica então que teve a ideia de fazer uma espécie de listagem (que é uma marca formal de Sei) de "cenas fulgor" (que é um dos princípios construtivos da obra de Llansol, a par com a ideia de "encontro inesperado do diverso").

Para Llansol, as "cenas fulgor" podem ser "uma pessoa que realmente existiu", uma frase, um animal ou uma quimera". "Este é o jardim que o pensamento permite" é um exemplo de cena fulgor. Daí que Lúcia tenha tido a vontade de listar cenas fulgor da sua própria vivência. O resultado é um livro muito delicado, entremeado por páginas de papel vegetal onde figuram pedaços de renda e pétalas de rosas secas. Reproduzo abaixo uma das listas singelas de Lucia Castello Branco.

"Coisas que fazem o coração bater mais forte:

Um planador conduzido segundo a feição do vento
O dorso desnudo de um bebê adormecido
O olhar de um cão, em direcção à mãe que amamenta o bebê
O olhar de uma criança, em direcção àquilo que não compreende
Tâmaras secas sobre um prato de cristal
Aquele amigo distante que retorna
Deitar-se só, num quarto deliciosamente perfumado de incenso
O clarão da lua atrás da nuvem"

Lúcia Castello Branco, diz o livro, nasceu no Rio de Janeiro e vive actualmente em Belo Horizonte, no Brasil. É professora de literatura na Universidade Federal de Belo Horizonte e tem mais de dez livros publicados. É "legente" de Llansol e do mundo. E, o mais importante, é mãe de David e Julia.

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