Todas as manhãs ensolaradas de domingo lá está ele, na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Siqueira Campos. Deve chegar cedo (de onde virá?) para armar a sua barraquinha musical. Sem grande alarde, de pé ou sentado num banquinho, põe para tocar antigos sucessos. Um pequeno cartaz com uma reprodução do seu rosto ainda jovem, provavelmente a mesma que serviu de capa a um LP, anuncia que é ele o dono da voz.
No cruzamento, a cada sinal que abre e fecha, uma pequena multidão passa indiferente pelo simpático cantor e segue na direção da praia. Muitos deles são caminhantes do calçadão ou fregueses da feira da Praça Serzedelo Correia. De vez em quando alguns transeuntes param. São em geral casais de meia-idade ou já idosos, atraídos talvez pela canção que foi trilha sonora de um momento especial de suas vidas. E entre o cantor e seus fãs logo se inicia uma conversa animada. De pares que se reencontram e gostam de relembrar "aquele" tempo. Um tempo que desconhecia DVDs, mega shows e celebridades espontâneas.
A falta de sucesso midiático e a ausência da mão esquerda, só perceptível quando se afasta um pouco da sua banquinha, não conseguiram tirar-lhe o sorriso. Seu semblante e seus gestos são evidências de que possui em alta dose aquele dom ou talento que dizem que o brasileiro tem de insistir, persistir, resistir.
O hoje quase anônimo cantor de outrora não será matéria de pauta de nenhum noticiário ou suplemento de jornal. Nem de fantásticos programas televisivos. Mas no próximo domingo decerto estará na mesma esquina, espalhando a todos os passantes, atentos ou distraídos, o seu pequeno brilho não fugaz.
Conforta esta rara certeza em época de tantas incertezas. Apetece-me dizer-lhe timidamente que ele faz parte do meu show. Sempre aos domingos. Sempre que houver bom tempo. Oxalá que aos domingos nunca chova.
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