domingo, junho 29, 2008

Como pode um bebê entender e expressar a saudade?

Hoje de manhã vi pela lavanderia o meu neto do coração. A mãe me disse que ele havia chamado insistentemente da varanda. E que teria dito: saudade da titia.
Fiquei momentaneamente muda, tal o emocionado espanto. Como uma criança de dois anos, ainda com pouca linguagem, conseguiu expressar, com um palavra tão precisa e singular da nossa língua-cultura, um sentimento tão complexo, da ausência, sentida em nós mesmos, do outro/amado?
Sou em grande parte a responsável por ter feito nascer e crescer esse afeto. Não tenho podido alimentá-lo como desejaria: tem feito muito frio na varanda e, por conta da escrita no computador, tenho ficado enclausurada no quartinho dos fundos, onde ele não pode me ver.
Prestes a ausentar-me por um longo período, já sinto a dor de o deixar, dor que procuro equilibrar com a alegria de partir, e poder rever a neta e os filhos do outro lado do cais.

sexta-feira, junho 27, 2008

Adeus a Sylvinha Araújo

Sylvinha e Eduardo Araújo: 39 anos de casamento e mais 2 de namoro. Acostumamo-nos a vê-los juntos, a pensá-los juntos, em linda parceria humana e musical, conseguindo manter dignamente suas carreiras, sem recorrer a apelos sensacionalistas para aparecer na mídia. Depois de 12 anos de luta sem tréguas contra o câncer, fisicamente extenuada mas espiritualmente muito serena, confortada pelo afeto dos que mais amava, ela partiu .
Lembro-me de vê-la pela TV, sorriso largo, linda voz e um imenso barrigão (creio que estavam juntos no palco, ele com seu instrumento musical e provavelmente com o costumeiro chapéu, mas não posso jurar). Subitamente a apresentação foi interrompida: o bebê dera sinais de que ia nascer. Eu já estava grávida do meu primeiro filho e jamais pude esquecer aquele momento comovente, que uniu música e vida, e que se juntou de forma tão especial à minha própria história.

quarta-feira, junho 25, 2008

segunda-feira, junho 16, 2008

Feliz aniversário, tuki!



Acordei cedo e fui ao jardim buscar as flores mais frescas que ali havia. Em tua homenagem.

sexta-feira, junho 13, 2008

Santo Antonio, Fernando Pessoa e a rapariga que temia a impostura da língua

Hoje é dia de Santo Antonio. Em Lisboa (1195?), nasceu um menino, batizado com o nome Fernando. Mais tarde, receberia o nome de Frei Antônio, na ordem dos Franciscanos.
Séculos depois, também em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, nasceria o menino Fernando, ou melhor, Fernando Antônio, em homenagem ao Santo mais querido de Portugal. Torna-se-ia o grande poeta do século XX português e um dos maiores de todos os tempos.
Ambos, o santo e o poeta, são da minha particular predileção. Com o nome Antônio tenho três pessoas muito amadas: meu pai, meu marido e meu filho. Invoco o santo em horas de grande aflição e ele em geral não me deixa sem resposta. Já Pessoa aprendi a amar praticamente sozinha, após um brevíssimo contato com "Chuva Oblíqua" na Universidade.
Quando penso em Fernando Pessoa - como o poeta é mais conhecido -, sinto que ele vive comigo, através dos versos que recito de cor (de coração). Comove-me a sua figura esguia, escondendo-se atrás dos óculos. E sobretudo a sua profunda solidão, em parte talvez por temperamento, mas também pelo preço que advém de não ter praticamente interlocutores contemporênos para a sua poesia. Apesar de tudo, cumpriu magnificamente a sua missão de artista. Deixou-nos um imenso legado. "Essa coisa [a sua poesia] é que é linda".
Um pouco antes de empreender a grande viagem, teria dito: "eu não sei o que o amanhã trará". Talvez o poeta tivesse gostado do que lhe trouxe "a rapariga que temia a impostura da língua". Desde que ela se lembra, ele viveu sempre consigo, foi seu companheiro de brincar de "Só e maravilha". Depois da escrita de Maria Gabriela Llansol, acrescenta-se-lhe uma nova imagem, cheia de pujança: Pessoa/Aossê é um falcão peregrino, voando ao encontro de outras possibilidades harmônicas. "Passa, ave, passa, e ensina-me a passar".

quinta-feira, junho 12, 2008

Aos namorados de todos os tempos

"Eu sei que vou te amar
por toda a minha vida eu vou te amar"
(Tom & Vinícius)

"penso que as beguinas sabiam que o amor (a amizade, a paixão, o segredo) têm lugar no corpo, mas muito pouco lugar; ele é uma manifestação do espirito, que é tão corpóreo como esta mão que escreve; por isso, quando se diz a alguém 'eu amo-te', é para sempre que fica dito"
(Maria Gabriela Llansol)

a

Tristão e Isolda
Pedro e Inês
Romeu e Julieta
Abelardo e Heloísa
Jorge Amado e Zélia Gattai
Roberto Carlos e Maria Rita
Maria Gabriela e Augusto
Eduardo Lourenço e Annie

e outros "gêmeos astrais"

terça-feira, junho 10, 2008

Post 366*

Se este blog fosse um ano, se este ano fosse bissexto, se o dia tivesse 24 horas, se o se fosse um desejo de sempre, seria um leitor à espera, um blog à espera de mais 365 posts.
*incluí os rascunhos, "ses", possibilidades de escrita

Coisas de criança 23 - o arco-íris da praia

Img023

Ontem foi dia de praia.  O pai e a menina foram de Metro e saíram em Matosinhos Sul.  Acomodaram-se perto do mar, com a praia ainda vazia, e deixaram o vento baloiçar as cores do guarda-sol enquanto faziam castelos de areia.  Algumas nuvens corriam no céu azul, criando sombras rápidas sobre as pequenas dunas mornas.  A menina estava tão contente que não sabia por onde começar e mesmo com os moldes exatos para fazer um polvo violeta, um pato amarelo, um barco verde e uma estrela do mar vermelha, preferiu voltar à calçada, perto do bar, onde já lá estavam outras crianças a brincar numa casa em plástico.  Experimentou todos os brinquedos, comeu bolachas, bebeu água até que chegou a hora de voltar para preparar o almoço.  No caminho de volta quis segurar o guarda-sol com os dois braços, como se abraçasse todas as cores do arco-íris.

domingo, junho 08, 2008

Comentário ao post da fadinha-cozinheira

A avó mal vê a hora de provar essas iguarias feitas por tão linda fada-cozinheira. Já se imagina a entrar nessa cozinha de sonho, a estender as mãos para pegá-las, a levá-las à boca, a fechar os olhos para melhor apreciá-las... (Hummm! Que delícia é viver e inventar!) E depois, ou talvez antes, a estender os braços para envolver essa menina mágica com um abraço ao mesmo tempo muito forte e muito delicado, para não amassar tão fofas asinhas.

A pérola que o meu irmão me deu


Claro que é o melhor doce caseiro do mundo. Há pequeninas fadas-cozinheiras que conseguem transformar tudo em alimentos e estes, uma vez preparados, são trazidos nas mãos em forma de concha. Quem os come fica imediatamente feliz e agradece ao Mundo a possibilidade de ter por perto tão perfeita criatura.

terça-feira, junho 03, 2008

Coisas de criança 22 - a nossa casa

NossaCasa

O que a madrinha lhe havia criado com os individuais de plástico, imaginando um telhado entre as duas, agora a menina redescobria numa outra casa em que até conseguia entrar.  O pai rearrumou todo o quarto, e conseguiu um espaço para montá-la.  Após colher as maçãs, tratou de fazer a sua especialidade, tirando de algum lugar, provavelmente de um armário, uma panela que lhe permitisse cozê-las em lume brando.  O doce era feito à gosto, apurando com o tempo de cozedura.  O pai divertia-se com a alegria contagiante da menina.  Quando ficou pronto, a menina estendeu a mão pela porta e disse:

- Prova, papá.

Aquele era o melhor doce caseiro do mundo.

domingo, junho 01, 2008

Comentário a uma foto de família


Comove-me esta foto. Nela, a família ainda é pura potencialidade de crescer em harmonia. É difícil precisar quando ou porque começou a desintegração. Mas o "menininho descalço sobre a cadeira" conseguiu prosseguir, incólume. E formou uma família que vem cumprindo a promessa de felicidade que ficara interrompida. Hoje, os seus descendentes, sensíveis e unidos, tecem redes e nós de afeto, bordados e ancorados neste e em outros cais.