Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
quarta-feira, dezembro 30, 2009
Poema-cartão de Natal
Cartão de Natal
João Cabral de Melo Neto
Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse cadernos
ua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.
O que penso do Natal
O Natal não é ornamento: é fermento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade
O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande
O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos
símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro
de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções
O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará
José Tolentino Mendonça
sexta-feira, dezembro 25, 2009
O perigo da alienação parental
Alienação parental, termo proposto por Richard Gardner, em 1985, designa a situação em que a mãe ou o pai de uma criança a treina para romper os laços afetivos com o outro cônjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.
Por exemplo, o genitor alienante -em geral o que detém e monopoliza a guarda da criança - refere, com insistência, fatos e acontecimentos que denigrem a imagem do outro genitor e procura dificultar o convívio da criança com o ex-cônjuge e com a família dele, comprometendo o estabelecimento de laços afetivos e o desenvolvimento saúdável do filho.
A respeito da Síndrome de Alienação Parental (SAP), ler:
http://www.alienacaoparental.com.br/o-que-e
http://www.pailegal.net/chicus.asp?rvTextoId=-435121337
http://www.criancafelizrs.com/
terça-feira, dezembro 22, 2009
Um novo visitante na varanda
Nem um morcego (felizmente se foram).
É um picapau.
Todos os dias bate com o bico na vidraça da varanda.
Deve haver algum tipo de alimento (insetos? larvas?) nas frestas de borracha.
Está ficando íntimo.
Já não esvoaça para a amendoeira quando me aproximo.
Apetece-me dizer-lhe: "seja bem-vindo!"
quinta-feira, dezembro 17, 2009
Dia dezoito, sete anos de ausência
decidiu
o quanto de eternidade
em mim
conquistaste
segunda-feira, novembro 02, 2009
Fiel aos meus, vivos no jardim que a ressuscitação permite
ao meu sogro, José dos Santos Soares,
à amiga Maria Gabriela Llansol,
dedico o meu pensamento afetivo
segunda-feira, agosto 03, 2009
Reencontro transoceânico
quarta-feira, julho 22, 2009
Resultado da segunda sondagem
quarta-feira, julho 15, 2009
Para um querido aniversariante
quarta-feira, julho 01, 2009
Michael Jackson e a cultura pop mundial
domingo, junho 28, 2009
Resultados da primeira sondagem
quarta-feira, junho 17, 2009
Buquês de flores
Uma delas é um buquê de rosas, entre botão e flor entreabrindo-se. Pelo amor que a elas dedico, certamente durarão muito, como as rosas de Clarice. Enfeitam a sala, ao lado das bromélias oferecidas pelo meu amor.
A outra é este Noticias do cais, com novo design. Veio acompanhado de um post, com criatividade à altura do novo formato do blog.
O blog - país dos tukiamães - nasceu da tuki filha, para me ensinar a lidar com a saudades... Depois, acolheu as mãos do tuki filho, o criativo redesenhador e criador da história sobre o país dos tukiamães.
Assim circulam flores reais e virtuais. Com criatividade e muito afeto.
terça-feira, junho 16, 2009
A origem de Tuki
Hoje Tuki faz anos, e a aldeia global está em festa!
segunda-feira, junho 15, 2009
O bordado de Maria Gabriela Llansol
Situo-me historicamente ao lado de outras mãos que bordaram tecidos de outra época. […] Passo da escrita ao bordado traduzindo como se ambos fossem a minha palavra [...]. Com um livro se escreve outro livro.
Eu escrevo, depois leio o que escrevo como se não o tivesse escrito."
Texto: fragmento de Maria Gabriela Llansol
Imagem: Marilyn Silverstone /Magnum (Delhi, Índia, 1966)
sábado, junho 13, 2009
Novo Cais
Lendo Fernando Pessoa, que hoje faria anos
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
[...]
fragmento do poema "Aniversário", de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa)
sábado, junho 06, 2009
"As cantoras do rádio"
Senti-me privilegiada e gratificada ao perceber que conhecia esse repertório e conseguia acompanhar as canções junto com as cantoras, como se estivesse na platéia - e, de certa forma, estava.
É muito bom saber que há pessoas interessadas em preservar a memória de uma era - a era das cantoras do rádio, sobretudo da Rádio Nacional -, felizmente ainda viva e atuante através de algumas de suas representantes, apesar de todas as dificuldades, nomeadamente a da nossa conhecida desmemória.
terça-feira, junho 02, 2009
Pensamento-prece pelos passageiros e familiares do voo 447 Air France
A minha prece para os passageiros neste momento de sua travessia humana.
terça-feira, maio 05, 2009
Um poema para as mães, quase sempre as melhores amigas
Carlos Drumond de Andrade
Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos
Caminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos
Eu distribuo segredos
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois caminhos se procuram
Minha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças
sábado, abril 25, 2009
quarta-feira, abril 22, 2009
Escrita, morte, heterodoxia e culpabilidade
"quando descobrimos que já não vivemos de uma maneira uníssona com as pessoas que mais amamos e respeitamos isso gera um sentimento de culpa, algo que me acompanhou sempre, até porque meus pais morreram cedo" (Eduardo Lourenço in 25 Portugueses, 1999)
sábado, abril 18, 2009
As mãos e os frutos
Nasci de ti novamente, 100 %, quando te afirmei no meu coração.
Continuo a nascer de ti, através dos meus filhos.
Através deles, nasces outra vez.
Meus frutos são teus frutos.
100% teus. E não só 25%, por um acaso de gens.
Escrevem-te. Escrevem-se. Escrevem-me.
Entre mãos dadas e recebidas.
Bem-aventurado aquele que tanto e tão bem soube fazer-se amar.
(a meu pai, que hoje faria 84 anos)
sexta-feira, abril 17, 2009
As mãos do meu avô (que faria hoje 84 anos)
sobre um fundo de manchas já cor de terra
como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah. Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura as tuas mãos nodosas...
essa chama de vida
que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma."
"As mãos do meu pai", de Mario Quintana
quinta-feira, março 19, 2009
Aos pais no Dia dos Pais em Portugal
(No Brasil, não sei por que, comemora-se em Agosto.)
Parece-me acertada a data portuguesa: São José foi mesmo um modelo de pai.
Aqui deixo a minha homenagem, in memoriam, a dois bons pais:
ao meu pai Antonio - um homem generoso, ativo, de personalidade forte, que amava a vida, adoeceu de um mal estranho e partiu meio atônito - e ao meu sogro José - um homem doce, manso, humilde, que suportou muito sofrimento físico e sobretudo psicológico antes de partir.
Estendo a homenagem também ao meu marido - um pai extremoso, aquele que sonhamos dar aos filhos - e ao meu filho - que na paternidade responsável está encontrando o maior sentido da sua vida e está se saindo maravilhosamente bem nesta arte de amar que não se aprende na escola.
domingo, março 15, 2009
Finalmente conheceram-se
sexta-feira, março 13, 2009
Um susto
terça-feira, março 03, 2009
Maria Gabriela Llansol - um ano de ausência
tenho nas mãos o conforto dos teus livros e no coração uma imensa saudade. Amanhã postarei um trecho de um deles. Hoje é tempo de ler e pensar.
Ontem mandamos rezar a Missa da Luz por um ano de tua partida. Coincidiu com a Missa de Mês pelo bondoso Senhor José, pai e sogro querido.
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Um voo antes do tempo
Encoberta pela cortina para não assustá-lo ainda mais, esperei ansiosamente que se reanimasse . Arrastou-se com esforço até um vaso de plantas, eriçou a penugem, mas não conseguiu alçar nem um pequeno voo.
Um outro pássaro, suponho que a mãe, piava aflito (assim interpretei) na amendoeira. Do lado de cá, de vez em quando o pequenino ferido respondia.
Quando chegou a hora da nossa caminhada, meu marido e eu decidimos deixá-lo tentar sozinho mais um pouco, sem a nossa intervenção, para que não se ferisse ainda mais. Não fomos sequer pegar nossos tênis na varanda: fui de sandálias e fiz uma bolha no pé. Ao regressarmos, se ainda estivesse na varanda, encontraríamos uma solução.
Na volta, quando viu-me a olhar para o alto da árvore, o porteiro disse que havia caído um filhote do ninho. Outro, pensei? Não, não era outro, era o "nosso" que havia conseguido voar até o parapeito, mas não conseguiu sustentar o voo. Vendo a minha aflição, o porteiro tentou consolar-me, dizendo: ele vai ficar bem, eu o peguei e soltei no jardim aqui do lado.
A mãe ainda continuou piando até escurecer. Oxalá o pequenino consiga sobreviver, mesmo tão prematuro e sem ninho.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
A menina que ama os livros
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Missa da Luz pelo querido senhor José
quarta-feira, janeiro 28, 2009
O Senhor José no céu
O Senhor José partiu ontem. Os que muito o amavam choram pelas oportunidades de felicidade desperdiçadas, pelo que poderia ter sido e não foi, pelo amor que ele distribuiu e tão pouco colheu.
Lembro do poema de Manuel Bandeira e imagino o Senhor José entrando no céu. Chega respeitoso, chapéu nas mãos, cabeça baixa, corpo ligeiramente curvado. Murmura com voz tímida, quase imperceptível, como quem não quer incomodar ou pensa que não é digno de ali entrar :
- Licença, meu Santo.
E São Pedro, bonachão, abre a porta de par em par e estende os braços para recebê-lo:
-Entra, José! Você não precisa pedir licença.
quinta-feira, janeiro 22, 2009
O Rio de Janeiro em dia de chuva forte ou o caos urbano
Durante mais de cinco horas - o tempo que levamos entre Madureira (Zona Norte) e Copacabana (Zona Sul) - não vimos nenhuma ação concreta das autoridades, no sentido de atenuar minimamente o caos urbano e auxiliar os milhares de "ilhados" , penando com fome, sede, cansaço, urgência de ir ao banheiro ... e ainda por cima com muito medo de serem alvo fácil dos "arrastões" (assaltos em série)...
(Pergunta: se, como é do conhecimento geral, são mais do que previstas as chuvas de verão, por que nós - os administradores e a população desta Cidade - não agimos preventivamente, cuidando do bom funcionamento dos bueiros? Por que continuamos inconseqüentemente a atirar lixo - inclusive os terríveis plásticos, que via de regra impedem o escoamento das águas, como pude constatar ao longo do penoso trajeto? )
quinta-feira, janeiro 15, 2009
Paixão Segundo São Mateus, de J. S. Bach
(*http://www.youtube.com/watch?v=475pqwwbZ1w)
segunda-feira, janeiro 12, 2009
O que devo dizer ao menininho?
Quando me vê, de vez em quando se lembra e pergunta:
- Titia, por que a A* foi embora?
- Por que ela foi para a casa dela. Ela precisa voltar a estudar - respondo.
- Por que?
- Porque ela mora muito muito longe (lembrei-me do reino de Shrek), num lugar tão longe, que até precisa ir de avião.
- Por que?
Penso que as minhas respostas não são muito convincentes ou esclarecedoras: no dia seguinte, o diálogo se repete.
Hoje, enquanto a mamãe lavava o bumbum dele no tanque, ele perguntou-me novamente:
- Por que a A* foi embora?
Na hora só me ocorreu dizer:
- Porque ela morava com a titia em pequena, mas agora já cresceu... e quando as pessoas crescem vão morar nas suas próprias casinhas. Mas ela vai voltar no próximo Papai Noel (é assim que ele entende o Natal), quando você tiver 4 anos.
Ele envolveu o pescoço da mãe e disse-lhe:
- Eu não quero ir para outra casa!
quinta-feira, janeiro 08, 2009
O despropósito da morte
A imagem acima foi captada num quarto de hospital, quando a doença ainda não se imaginava fatal, talvez há dois anos, ou até menos. Acredito que sejam bolhas de oxigénio comprimidas um aparelho terapêutico qualquer. Gosto de pensar que o pai de Luc, tal como nós - eu e a pessoa que me lê agora, todos nós -, permanecerá no carrossel da vida assim mesmo: como bolhas de oxigénio, moléculas cheias de carbono ou átomos dispersos no húmus.
quarta-feira, janeiro 07, 2009
Entre o Rio e Niterói, o olhar do arquiteto e do cinegrafista
Irritada com a sujeira que o meu visitante indesejado espalha pela casa, pensei escrever hoje sobre morcegos urbanos.
Felizmente antes abri a mensagem de uma amiga, com um belo vídeo em que um disco voador sobrevoa as belezas do Rio de Janeiro e pousa em Niterói. (Esse era precisamente um dos lugares que eu e minha filha planejamos visitar juntas - desejo que não pudemos realizar, por várias razões.)
Acolho esse presente. E ofereço-o a minha filha e a quem mais apreciar as belezas do Rio e das formas de Niemeyer, magnificamente homenageado neste vídeo simples e genial.
terça-feira, janeiro 06, 2009
Uma passagem de ano em forma de beijo dado mais tarde
Recebo estas imagens e enxugo estas lágrimas como batismo de alegria. Em forma de beijo dado mais tarde, mas a tempo...
Hoje vesti roupa branca logo de manhã. Em breve prepararei bacalhau e assarei castanhas no forno. Eu e meu amor abriremos uma garrafa pequena de champagne, com autorização médica. Enfim festejaremos a Passagem de Ano, agradecendo a recuperação da saúde. E se a chuva abrandar, iremos molhar os pés nas águas do mar, como habitualmente fazemos no primeiro dia do Ano. Será um autêntico Dia de Reis.
(*http://bordadoingles.blogspot.com/2009/01/feliz-ano-novo.html)