Arrumo velhos papéis esquecidos em pastas e gavetas.
Lixo ou armário? Por vezes hesito.
Formo duas pilhas, que deveriam ser três:
a dos papéis que vale a pena guardar (bem maior... tenho dificuldade de me desfazer das coisas);
a dos que definitivamente não prestam;
a dos que ainda – quem sabe? – podem servir um dia...
Há anotações, nomes, telefones, fragmentos de idéias de que já não lembrava.
Algumas detêm o tempo e a tarefa, desviando-me para uma viagem da
memória. Outrora agora.
Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
segunda-feira, novembro 28, 2005
quarta-feira, novembro 23, 2005
Sempre aos domingos
Todas as manhãs ensolaradas de domingo lá está ele, na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Siqueira Campos. Deve chegar cedo (de onde virá?) para armar a sua barraquinha musical. Sem grande alarde, de pé ou sentado num banquinho, põe para tocar antigos sucessos. Um pequeno cartaz com uma reprodução do seu rosto ainda jovem, provavelmente a mesma que serviu de capa a um LP, anuncia que é ele o dono da voz.
No cruzamento, a cada sinal que abre e fecha, uma pequena multidão passa indiferente pelo simpático cantor e segue na direção da praia. Muitos deles são caminhantes do calçadão ou fregueses da feira da Praça Serzedelo Correia. De vez em quando alguns transeuntes param. São em geral casais de meia-idade ou já idosos, atraídos talvez pela canção que foi trilha sonora de um momento especial de suas vidas. E entre o cantor e seus fãs logo se inicia uma conversa animada. De pares que se reencontram e gostam de relembrar "aquele" tempo. Um tempo que desconhecia DVDs, mega shows e celebridades espontâneas.
A falta de sucesso midiático e a ausência da mão esquerda, só perceptível quando se afasta um pouco da sua banquinha, não conseguiram tirar-lhe o sorriso. Seu semblante e seus gestos são evidências de que possui em alta dose aquele dom ou talento que dizem que o brasileiro tem de insistir, persistir, resistir.
O hoje quase anônimo cantor de outrora não será matéria de pauta de nenhum noticiário ou suplemento de jornal. Nem de fantásticos programas televisivos. Mas no próximo domingo decerto estará na mesma esquina, espalhando a todos os passantes, atentos ou distraídos, o seu pequeno brilho não fugaz.
Conforta esta rara certeza em época de tantas incertezas. Apetece-me dizer-lhe timidamente que ele faz parte do meu show. Sempre aos domingos. Sempre que houver bom tempo. Oxalá que aos domingos nunca chova.
No cruzamento, a cada sinal que abre e fecha, uma pequena multidão passa indiferente pelo simpático cantor e segue na direção da praia. Muitos deles são caminhantes do calçadão ou fregueses da feira da Praça Serzedelo Correia. De vez em quando alguns transeuntes param. São em geral casais de meia-idade ou já idosos, atraídos talvez pela canção que foi trilha sonora de um momento especial de suas vidas. E entre o cantor e seus fãs logo se inicia uma conversa animada. De pares que se reencontram e gostam de relembrar "aquele" tempo. Um tempo que desconhecia DVDs, mega shows e celebridades espontâneas.
A falta de sucesso midiático e a ausência da mão esquerda, só perceptível quando se afasta um pouco da sua banquinha, não conseguiram tirar-lhe o sorriso. Seu semblante e seus gestos são evidências de que possui em alta dose aquele dom ou talento que dizem que o brasileiro tem de insistir, persistir, resistir.
O hoje quase anônimo cantor de outrora não será matéria de pauta de nenhum noticiário ou suplemento de jornal. Nem de fantásticos programas televisivos. Mas no próximo domingo decerto estará na mesma esquina, espalhando a todos os passantes, atentos ou distraídos, o seu pequeno brilho não fugaz.
Conforta esta rara certeza em época de tantas incertezas. Apetece-me dizer-lhe timidamente que ele faz parte do meu show. Sempre aos domingos. Sempre que houver bom tempo. Oxalá que aos domingos nunca chova.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Encontrar a linha que há dentro de nós
Num texto de Helen Barlow sobre o cineasta japonês Miyazaki, publicado no passado dia 16 de Outubro na Pública, li uma frase que me intrigou:
"Um lápis não é só para fazer uma linha. É como procurar e encontrar a linha que existe dentro de nós. Mas agora há poucos animadores que tragam para o exterior o subconsciente que existe dentro deles. Os jovens animadores viram demasiada realidade virtual e sucumbiram-lhe. Por isso o meu tipo de animação é uma indústria muito antiquada"
Não defendo o retorno ao passado, nem sou uma entusiasta enlouquecida das novas tecnologias. Mas é impossível não admirar a beleza do modo como pensa o autor de O Castelo Andante. Recordo-me de ter ouvido uma grande amiga, recentemente, dizer algo semelhante: as famílias nunca estiveram tão apetrechadas com telemóveis, câmaras, computadores e outros dispositivos tecnológicos e, ao mesmo tempo, as famílias nunca se comunicaram tão pouco.
"Um lápis não é só para fazer uma linha. É como procurar e encontrar a linha que existe dentro de nós. Mas agora há poucos animadores que tragam para o exterior o subconsciente que existe dentro deles. Os jovens animadores viram demasiada realidade virtual e sucumbiram-lhe. Por isso o meu tipo de animação é uma indústria muito antiquada"
Não defendo o retorno ao passado, nem sou uma entusiasta enlouquecida das novas tecnologias. Mas é impossível não admirar a beleza do modo como pensa o autor de O Castelo Andante. Recordo-me de ter ouvido uma grande amiga, recentemente, dizer algo semelhante: as famílias nunca estiveram tão apetrechadas com telemóveis, câmaras, computadores e outros dispositivos tecnológicos e, ao mesmo tempo, as famílias nunca se comunicaram tão pouco.
domingo, novembro 13, 2005
Message in a bottle
Quando este cais nasceu, havia no seu nome um desejo muito claro de troca transatlântica. Porque a identidade de alguém com o meu percurso é sempre muito diluída, não se é nem brasileira nem portuguesa. Uma espécie de ser que prefere habitar o tal espaço "entre", águas internacionais, um Atlântico que não pertence a ninguém porque é de todos. E, como tal, uma zona que tudo pode acolher.
Porque, como diz MB, cais é uma palavra inaudita - suscita ao mesmo tempo a ideia de encontro e partida, movimento e paragem, saudade e alegria. Hoje, lendo as "notícias" que a Tuki tem delicadamente depositado em garrafas que bóiam em água salgada, percebo que sozinha nunca teria alcançado o meu objectivo inicial. E talvez por isso mesmo este espaço tenha andado tão moribundo até à sua chegada.
Como é bom ler aqui pensamentos engendrados abaixo da linha do Equador, escritos numa grafia tropical que só torna a língua portuguesa mais rica. Como é bom amar profundamente alguém que vem à enseada com um texto tatuado na palma das mãos, que pousa os dedos sobre a fina vaga que já é quase só espuma na areia, com extremo desvelo, para que nenhuma notícia perca a rota da Europa.
Porque, como diz MB, cais é uma palavra inaudita - suscita ao mesmo tempo a ideia de encontro e partida, movimento e paragem, saudade e alegria. Hoje, lendo as "notícias" que a Tuki tem delicadamente depositado em garrafas que bóiam em água salgada, percebo que sozinha nunca teria alcançado o meu objectivo inicial. E talvez por isso mesmo este espaço tenha andado tão moribundo até à sua chegada.
Como é bom ler aqui pensamentos engendrados abaixo da linha do Equador, escritos numa grafia tropical que só torna a língua portuguesa mais rica. Como é bom amar profundamente alguém que vem à enseada com um texto tatuado na palma das mãos, que pousa os dedos sobre a fina vaga que já é quase só espuma na areia, com extremo desvelo, para que nenhuma notícia perca a rota da Europa.
quinta-feira, novembro 10, 2005
O rio de que somos feitos
Fernando Pessoa, no poema Além-Deus, lançou esta meditação poética: "O que é ser-rio, e correr?". E Maria Gabriela Llansol, em Finita. Diário 2, escreveu: "Em mim várias nascentes confluíram".
Somos rios formados pela confluência de várias nascentes – os nossos ascendentes, pais, avós, bisavós... Água em curso. Ponto de confluência de águas e origem de novas correntes. Corremos em direção à foz, sem saber quando a encontraremos. Tememos esse encontro por várias razões. Porque sentimo-nos atraídos pelas paisagens que atravessamos pelo caminho e não queremos deixar de ver aquilo e, sobretudo, aqueles que amamos. Porque temos medo do desconhecido. Porque, ao encontrá-la, dissolvemo-nos no grande mar, pois a água que somos mistura-se à de outras correntes e incorpora-se ao grande caudal do indiferenciado. Porque...
Somos rios formados pela confluência de várias nascentes – os nossos ascendentes, pais, avós, bisavós... Água em curso. Ponto de confluência de águas e origem de novas correntes. Corremos em direção à foz, sem saber quando a encontraremos. Tememos esse encontro por várias razões. Porque sentimo-nos atraídos pelas paisagens que atravessamos pelo caminho e não queremos deixar de ver aquilo e, sobretudo, aqueles que amamos. Porque temos medo do desconhecido. Porque, ao encontrá-la, dissolvemo-nos no grande mar, pois a água que somos mistura-se à de outras correntes e incorpora-se ao grande caudal do indiferenciado. Porque...
quarta-feira, novembro 09, 2005
A leitura trazida de casa
O poeta e cronista Paulo Mendes Campos aprendeu a ler com a mãe, por ele homenageada numa crônica que recebeu o seu nome, Maria José. Ela contava-lhe histórias de santos, como a dos dois Franciscos, o de Sales e o de Pádua, e iniciou-o nos caminhos da literatura:
"apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antonio Nobre que decorara menina; discutia comigo as idéias finais de Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me desgarrei nos primeiros enleios adolescentes, Maria José com irônico afeto me repetia a advertência de Drummond: "Paulo, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será."
Otto Lara Resende, ao evocar o amigo Paulo Mendes Campos, refere-se a essa iniciação literária propiciada por um ambiente familiar em que se "respirava a liberdade da poesia":
"Paulo se iniciou nos poetas por sua própria mãe. Seu pai, Mário Mendes Campos, médico e letrado, pertencia à Academia Mineira. Conhecia e adivinhava literatura hispano-americana. Quem, senão o pai do Paulo, poderia nos dar a notícia de um poeta chamado Vicente Huidobro? A família Mendes Campos respirava a liberdade da poesia"
"apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antonio Nobre que decorara menina; discutia comigo as idéias finais de Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me desgarrei nos primeiros enleios adolescentes, Maria José com irônico afeto me repetia a advertência de Drummond: "Paulo, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será."
Otto Lara Resende, ao evocar o amigo Paulo Mendes Campos, refere-se a essa iniciação literária propiciada por um ambiente familiar em que se "respirava a liberdade da poesia":
"Paulo se iniciou nos poetas por sua própria mãe. Seu pai, Mário Mendes Campos, médico e letrado, pertencia à Academia Mineira. Conhecia e adivinhava literatura hispano-americana. Quem, senão o pai do Paulo, poderia nos dar a notícia de um poeta chamado Vicente Huidobro? A família Mendes Campos respirava a liberdade da poesia"
segunda-feira, novembro 07, 2005
A felicidade é feita de coisas pequenas
O psiquiatra e psicoterapeuta Roberto Shinyashiki, autor do livro Heróis de verdade, numa entrevista concedida à revista Isto É, em outubro de 2005, observou que a supervalorização da aparência e a falta de competência imperam na nossa sociedade: ‘hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o grande objetivo de vida se tornou o parecer’; ‘o mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal’. Segundo a referida matéria, ‘nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que precisa ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha com a síndrome de super-heróis’. Inspirado nos versos do poeta português, Shinyashik defende que é preciso uma mudança de atitude: ‘O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras’. Da sua experiência de conversar com doentes terminais, quando era recém-formado, extraiu uma lição: ‘ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado dinheiro em imóveis’. Com eles aprendeu que a felicidade é feita de coisas pequenas, como apreciar a beleza e saborear um morango.
domingo, novembro 06, 2005
O monstro da indiferença
Pesquisando sobre Fernando Sabino e seus três amigos inseparáveis - Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino - , encontrei este belo trecho de Otto, extraido de Vista Cansada, sobre o poeta e a criança:
'Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.'
Formulo um desejo, após leitura deste texto: que a minha vista nunca fique cansada diante do espetáculo do mundo. Que no meu coração nunca se instale o monstro da indiferença.
'Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.'
Formulo um desejo, após leitura deste texto: que a minha vista nunca fique cansada diante do espetáculo do mundo. Que no meu coração nunca se instale o monstro da indiferença.
sábado, novembro 05, 2005
Como conhecer o ser amado?
'Só podemos amar aquilo que conhecemos'. Esta frase, pronunciada de forma afirmativa e definitiva por um entrevistado num programa de TV, causou-me inquietação. Penso que, ao emiti-la, o seu autor pensou em convivência ou em algo semelhante. Ponho-me a divagar, enquanto arrumo papéis. De início, experimento invertê-la: 'Só podemos conhecer aquilo que amamos', o que excluiria do conhecimento os que nos provocam outros sentimentos. Depois, retiro-lhe o ponto final e acrescento-lhe um de interrogação: 'Só podemos amar aquilo que conhecemos?'. Em seguida, lanço novas perguntas: 'É possível conhecer, de fato, alguém – amado ou não?' O debate íntimo ainda continua.
sexta-feira, novembro 04, 2005
A leitura a quatro mãos
Zapeando a TV, parei num canal que transmitia o final de uma entrevista com Ângela Lago, excelente ilustradora de Literatura Infantil. Ela comentava sobre o fato de seus livros (os livros de literatura infantil de um modo geral) serem lidos a quatro mãos, pela criança e pelos pais. Solicitada a dar uma mensagem para os pais, ofereceu-lhes esta mensagem-desejo: que ele tenham a coragem da alegria, no meio das dificuldades da vida.
Como mãe, gostaria de ter tido essa coragem sempre. Intimamente desejei que isso pudesse ser ouvido por todos os pais, especialmente os que estão se preparando a viver ou começando a viver esta experiência magnífica. E desejei também que todos os bons livros infantis pudessem de fato ser lidos, sempre que possível, a quatro mãos, propiciando aquele aconchego prazeroso de que falou Daniel Pennac, em Como um romance.
Como mãe, gostaria de ter tido essa coragem sempre. Intimamente desejei que isso pudesse ser ouvido por todos os pais, especialmente os que estão se preparando a viver ou começando a viver esta experiência magnífica. E desejei também que todos os bons livros infantis pudessem de fato ser lidos, sempre que possível, a quatro mãos, propiciando aquele aconchego prazeroso de que falou Daniel Pennac, em Como um romance.
quinta-feira, novembro 03, 2005
Rescaldo dos fogos de Verão
Telhe. Arouca. Quilômetros de montes queimados. Aqui e ali, algumas casas milagrosamente intocadas pelas chamas. Imagino o pavor da população, a correr pela estrada, só com a roupa do corpo. E o difícil regresso, após o rescaldo, em meio às cinzas e perdas. Desolação. Pequenos tufos verdes de fetos e ramos de eucaliptos, no entanto, teimosamente começam a brotar, rompendo a monotonia da paisagem calcinada.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Amor, palavra e morte
Hoje é mundialmente o dia dos mortos. Dia de reafirmarmos o nosso amor pelos nossos entes queridos que já partiram com uma flor, um pensamento, uma olhada saudosa nos retratos...
Pessoalmente, sinto que há sempre uma defasagem de afeto, a sensação de que nunca dissemos clara e suficientemente o quanto os amávamos. Fica esse travo do irremediavelmente não-dito ou não dito o bastante.
Mas há uma aprendizagem que podemos tirar dessa experiência: manifestar de alguma maneira aos que ainda estão conosco, todos os dias ou sempre que possível, o quanto nós os amamos.
Pessoalmente, sinto que há sempre uma defasagem de afeto, a sensação de que nunca dissemos clara e suficientemente o quanto os amávamos. Fica esse travo do irremediavelmente não-dito ou não dito o bastante.
Mas há uma aprendizagem que podemos tirar dessa experiência: manifestar de alguma maneira aos que ainda estão conosco, todos os dias ou sempre que possível, o quanto nós os amamos.
Bem-te-vi 2
Menos de 48 horas depois de ter ser considerado o "herdeiro natural" de Bem-te-vi, traficante recentemente morto na favela da Rocinha, há notícias de que o seu cunhado, o Soul, juntamente com outros, foi morto numa troca de tiros, devido à disputa entre facções rivais pelo controle do tráfico nesse local. No entanto, até o momento, o corpo do ex-sucessor "natural" e o dos demais ainda não foi encontrado. Mas algumas valiosas jóias que pertenceram a Bem-te-vi já foram localizadas: estavam em poder de Veridiana, uma das namoradas de Bem-te-vi, presa no Aeroporto Tom Jobim, prestes a embarcar com destino a Ipu, a cerca de 200 Km de Fortaleza. Por ser apenas namorada e não parente em 1º grau ou cônjuge do traficante, a jovem não poderá beneficiar-se do perdão oficial da chamada escusa absolutória.
Como é do conhecimento geral, mas que sempre vale a pena reiterar, Bem-te-vi e seu ex-herdeiro são apenas a ponta visível de um imenso e poderoso iceberg, dificílimo de ser atingido.
Como é do conhecimento geral, mas que sempre vale a pena reiterar, Bem-te-vi e seu ex-herdeiro são apenas a ponta visível de um imenso e poderoso iceberg, dificílimo de ser atingido.
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