Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
sexta-feira, maio 30, 2008
Hoje é dia de alegria
O rosto do teu pai se iluminará
ao rever a azulíssima cor do teu olhar,
o rosto amado a desabrochar em sorrisos
e o balançar dos teus caracóis,
ao desceres célere os degraus da escada
e correres ansiosa ao encontro de seus braços.
quarta-feira, maio 28, 2008
Coisas de criança 21- da necessidade do convívio para a construção do afeto
- kebou! (sobre o vaso de barro com tampa quebrada)
- sujo! (sobre a cadeira de repouso, que a titia correu a limpar quando o menino quis sentar)
- carro vermelho! (sobre a miniatura de carro que pertenceu ao filho da titia, hoje um homem, e que vai e vem, a cada encontro, como uma espécie de objeto transicional para chegadas e partidas)
- menino! (foto do filho da titia, primeiro dono do carrinho vermelho)
- Bia! (foto da menininha, filha do dono do carrinho, que não é a Beatriz, amiguinha da creche, mas deve se parecer muito com ela)
E assim ambos brincaram quase duas horas. Quando o titio chegou, amou a surpresa de encontrar aquela cena. Feliz, o menininho correu para os braços dele. Já sabia que ia ganhar balancinho. E deixou-se balançar, sem medo.
domingo, maio 25, 2008
Nota do Livro de Acalantos
homesick
sábado, maio 24, 2008
quinta-feira, maio 22, 2008
Feriado na Pracinha
Fiz de conta que hoje é meu aniversário e dei-me um presente: passei a manhã com meus netos do coração na pracinha do Bairro Peixoto.
Emociona-me profundamente saber que a mãe deles confia em mim e permite esta troca, este convívio afetivo, como se eu fosse de fato a avó (e, de certa maneira, sinto que sou).
A neta mais velha já fez oito anos. É tímida, alva, esguia, ruiva e com cabelos encaracolados. Lindíssima! Parece uma princesa das ilustrações dos livros de contos de fadas.
O caçulinha tem dois anos e meio. É um menino de cabelos castanhos e lisos, olhos vivos, levado, desinibido.
Contei à neta do coração que há 3o e tal anos atrás passeei ali com meus filhos. Vi aquelas árvores, hoje frondosas, quando ainda eram pequenos arbustos. Eu e a menina ruiva sentamos à sombra de uma delas e lemos juntas um livro de imagens (A menina e as borboletas, de Roberto Caldas). Brinquei com ela de jogo de letras, de adivinha-em-que-mão-está, etc. Ela desenhou na areia com gravetos. O menininho brincou com os carrinhos dele e com brinquedos de outras crianças. Depois ambos brincaram de descer juntos no escorrega.
Quando ele se distraiu um pouco a brincar no balanço com a babá (extremamente cuidadosa), despedi-me da neta mais velha e saí discretamente, para o menininho não chorar. Há muitas tarefas à minha espera em casa. Mas não faz mal se o trabalho no computador e outras atividades atrasarem umas horas: há uma outra qualidade do tempo que não quero adiar.
quarta-feira, maio 21, 2008
Guarda compartilhada
terça-feira, maio 20, 2008
Marcas de amor
ouço o que recomendas,
penso em ti a toda a hora,
sobretudo em certos momentos
(quando lavo rúculas selvagens,
ou surpreendo no rosto do teu pai
traços que são teus).
Leio o que escreves,
ouço o que recomendas,
penso em ti a toda a hora,
sobretudo em certos momentos
(quando ouço Madredeus, Vitorino, Dulce,
ou surpreendo no jeito da tua filha
traços que são teus).
segunda-feira, maio 19, 2008
Coisas de criança 20 - Arco-íris
O pai e a menina foram à festa de Matosinhos. A menina adorou os carros, sempre dando gritos de alegria a cada passagem pelo pai. Ao final da festa, estava tão cansada e feliz que pediu ao pai para ir às cavalitas, e lá foi até ao Metro a contar o que tinha feito e o que ainda queria fazer. Quando chegaram em casa, como era de se prever, a menina dormiu logo, mas teve um sono agitado... tão agitado, que até rolou e o fez tantas vezes que até parou no chão. Coitada, a menina chorou, o pai acordou preocupado, mas quando a deitou de volta à cama, já o choro havia parado, e a menina dormia novamente, continuando às voltas nos carros do sonho...
No dia seguinte, era tempo da menina voltar para a mãe. O pai, triste, ainda preocupado com a queda da menina, olhou para o céu nublado e, no meio do sol e da chuva, viu um arco-íris, e sorriu. As cores lembravam-lhe a menina nos carros da festa a andar às voltas. A menina trouxera o arco-íris para o final de mais um fim-de-semana especial e o pai dormiu mais descansado.
sábado, maio 17, 2008
Uma visita especial
O menininho veio com mochilinha da creche e chamou animado pela titia, antes mesmo de a porta se abrir. Com seu jeitinho curioso e ativo, percorreu com familiaridade todos os aposentos, como se sempre tivesse vivido ali. Depois, deteve-se diante da fresta da varanda, percebendo-se do lado de cá, a espiar para a sua casa, do lado de lá.
Desenharam, fizeram barcos de papel, tiraram fotos e viram a lua.
Quando o menininho retornou à casa, correu para chamar a titia. Agora, do lado de cá e do lado de lá, a fresta tem um novo sentido. Doce, como fruta madura.
sexta-feira, maio 16, 2008
A avó e os netos do coração 2
Nessas muitas moradas afetivas, há o infante João, recém-nascido, o neto do coração de Portugal, a quem ela dedicou um acalanto, embalando-o docemente em pensamento. Há o menininho que mora no Brasil, no apartamento ao lado, e que tem quase a mesma idade da menininha, "a neta primeira a chegar", em Portugal.
A avó sente não poder conviver com eles ao mesmo tempo. Sabe que quando está com o neto de cá não pode estar com os do outro lado do cais. E vice-versa. Mas sabe também que amar um é amar os outros, pois este é o milagre da multiplicação do amor. Quanto mais se ama, mais se acrescenta.
quinta-feira, maio 15, 2008
A fresta, a festa ou Doces convívios com o neto do coração
Ambos já têm um conjunto de vivências em comum que permitem pequenos diálogos e brincadeiras. E a avó maravilha-se por poder acompanhar de perto o crescimento em linguagem e em beleza deste pequenino ser.
Quando o menininho chega da creche, corre à varanda, sôfrego, já com saudade dos brinquedos que deixou. Primero, distrai-se a brincar com eles. Depois, chama a titia (a avó do coração) e pede-lhe para sentar na soleira, próximo à fresta da varanda. Mesmo que não estejam a trocar brinquedinhos, gosta de saber que ela está ali a vê-lo brincar, através do reflexo do vidro espelhado.
À noite, após o jantar, reencontram-se novamente. Imitam vozes de animais, falam da lua que aparece (e desaparece) no céu, dos novos brinquedos, dos amigos preferidos, etc.
Aos poucos o espaço de interação alarga-se e cresce junto com o menininho. Já ganhou o corredor do edifício (de vez em quando a avó consegue se despedir do menininho de manhã, quando ele vai para a creche) e houve até um breve encontro na pracinha, em meio a escorregas, trepa-trepas e balanços, com direito a braços estendidos do menininho para acolher os avós do coração.
Amanhã, decerto, haverá mais histórias para contar. Que alegria é viver e, sobre todas as coisas, amar!
quarta-feira, maio 14, 2008
Ontem, dia 13 de Maio
Não há o que comemorar. Não podemos apagar esta aviltante página da nossa história passada. Mas convém lembrar, sempre, para não esquecer. Convém lembrar para não esquecer que ainda há trabalho escravo aviltando as páginas que se escrevem na nossa história presente.
"Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?" (Castro Alves, Vozes d'África). Onde estão, hoje, as vozes levantadas? Onde estão os gritos pelos direitos humanos? Convém denunciar e clamar e agir.
segunda-feira, maio 12, 2008
Na mesinha, um vaso de begônias...
- Obrigado por seres a mãe dos meus filhos.
Não, não repeti o lugar-comum:
- Não precisava...
Precisava sim. Cada vez mais precisamos manifestar e aceitar afetos, bem-quereres. Acolhi o abraço, as palavras e as flores.
Olho o vaso de begônias, abro as cortinas, há sol lá fora. Respiro fundo, penso afetuosamente nos meus amores, começo com novo alento um novo dia.
domingo, maio 11, 2008
No Dia das Mães
“Quando eu morrer, filhinho,
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
Despe-me o ser cansado e humano
e deita-me na tua cama.
E conta-me histórias caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.”
fragmento do Poema VIII de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimmo de Fernando Pessoa)
quinta-feira, maio 08, 2008
Carta-acalanto para a mãe de Isabella
Você não me conhece pessoalmente. Sou mãe, avó, educadora, cidadã (e, atualmente, alguém que se esforça para tornar-se um ser humano melhor e sonha construir um mundo em que o amor seja cada vez mais possível). E, como tal, queria manifestar - a você, a seus pais e a toda a sua família - a minha imensa solidariedade. Imagino que devem estar recebendo o apoio e o afeto de milhares de pessoas do Brasil e do mundo. Mas carinho nunca é demais.
Procuro mas não encontro as palavras certas para confortá-la. Não há na língua portuguesa nenhuma palavra para nomear a dor inimaginável de quem perdeu um filho, especialmente uma criança.
Queria dizer-lhe apenas, nesta carta-acalanto, que ao solidarizar-me com você, procuro também serenizar um pouco o meu coração e apaziguar a dor deste luto. Que sempre a acompanhe a certeza de que soube amar e cuidar bem da sua pequena, a certeza de que soube dar a ela muito amor e foi por ela plenamente correspondida. Guarde esta linda imagem de amor materno e filial. Certamente ela a ajudará a atravessar melhor este momento e os que ainda virão. Acolha também a convicção, forjada no ideal de justiça, de que, no que depender de profissionais sérios e competentes e da sociedade em geral, "Isabella não será esquecida".
quarta-feira, maio 07, 2008
Coisas de criança 19 - Amizade
Há uma nova música no Canal Panda que o pai e a menina adoram. Fala sobre a amizade e o refrão é como se segue:
Quando estamos tristes
Quem nos ouve, quem lá está
Melhor que ter amigos não há
Quando temos festa
Quem alegra, quem lá está
Melhor que ter amigos não há
A letra, melodia e colorido da imagem cativaram-lhes ao ponto de cantarem juntos.
- Canta de novo papá!
terça-feira, maio 06, 2008
Coisas de criança 18 - A menininha, o tempo e a distância
Maravilho-me com algo aparentemente comum a todas as crianças. Mas o fato é que a menininha, com apenas dois anos de existência, não esquece que nas férias passadas (entenderá lá o que são férias?) tomou banho de piscininha na casa da bivó paterna. Assim, neste último fim-de-semana com o pai, foi à gaveta pegar o biquini e pediu a ele que a levasse lá.
E quando interagia pela webcam com os avós paternos ("os avós do avião", como ela a eles se refere, em conversa com a tia-madrinha), de repente pediu para falar com a madrinha. O pai tentou fazê-la entender que a madrinha estava sem computador em casa e por isso não poderia vê-la.
Deve ter entendido, pois logo voltou a gargalhar gostosamente com alguns ícones animados, especialmente o do sapo que fisga com a língua uma mosca e logo solta um arroto (não é socialmente bem-educado, sabemos bem disso, mas é inegável que as crianças apreciam com naturalidade coisas escatológicas, como arrotar e soltar "pum").
- Mais! O do sapinho.
sábado, maio 03, 2008
Quem ama
não espera ser amado, apenas ama
espera o tempo que for preciso, mesmo que não tenha tempo
vai até onde for preciso, mesmo que não haja caminho
porque quem ama cria o tempo e o caminho
quem ama simplesmete ama
sem condições, sem marcações, sem lista de desejos,
sem variações, sem divisões, sem paixões de uma só noite
quem ama simplesmente
segue seu caminho e o seu tempo,
o caminho que cruza com o do que é amado,
no mesmo tempo do que é amado,
mesmo que o que é não seja um ser,
talvez uma planta, ou um gato, ou um livro, ou um lápis
quem ama por vezes nem sabe que ama
apenas ama
ama apenas
e o que sente não passa, fica, permanece,
ontem amamos, hoje amamos, amanhã também
com intensidade, mas sem sufocar
com ardência, mas sem picada
com calor, mas com ar, água e terra,
com alimento
Alguns versos e pensamentos I
que ele deixou, nem dos pombos,
que eles sequem, como eu seco,
que eles morram, como eu morro"
Rosalía de Castro
Espécie de cantiga de amigo do nosso tempo. Canto da ausência do ser amado. Cansada de esperar em vão, seca de afetos, a mulher rebela-se e decide não mais cuidar das coisas que ele deixou e que a fazem lembrar dele.