Eu sempre tive curiosidade de saber como são distribuídas as salas de exposição aos vigilantes do Museu de Serralves, no Porto. Há salas do prédio desenhado por Siza que costumam ficar mais vazias que outras. São aquelas que ficam na cota baixa. Via aquelas criaturinhas de fato cinzento, de olhos esgazeados e postos sobre as obras, com livros ou revistas nas mãos. Por vezes, ensaiavam curtos passeios à volta da cadeira de madeira, numa tentativa vã de esticar as pernas ou prevenir varizes futuras. Julgava que as salas do piso inferior eram uma espécie de castigo para os novatos, um lugar onde ficavam horas a fio na companhia de quadros e esculturas.
Pois bem. Ontem descobri que, apesar de existir um “ranking” informal das melhores salas, não há privilegiados. Um sistema de rotatividade permite que todos, democraticamente, passem por divisões nobres ou recônditas. E mais: conversando com duas meninas que trabalham no museu, percebi que elas criam fortíssimos laços afectivos com as exposições. As suas recordações privadas ou profissionais estão contaminadas pela fruição da arte. Elas dizem “no tempo de Andy Warhol” e “na altura de Nan Golding” como uma forma de dividir o tempo.
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