quarta-feira, dezembro 30, 2009

Poema-cartão de Natal

Outra mensagem natalina em forma de poema:

Cartão de Natal

João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse cadernos
ua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.

O que penso do Natal

Um amigo enviou-me esta mensagem que resume poeticamente o que penso do Natal:

O Natal não é ornamento: é fermento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda

para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade

O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande

O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos
símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro
de ocasião
A simplicidade que nos propõe

não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções

O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!

Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará

José Tolentino Mendonça

sexta-feira, dezembro 25, 2009

O perigo da alienação parental

Ando a ler e a reflectir sobre os efeitos da alienação parental, algo bem mais comum do que se supõe.

Alienação parental, termo proposto por Richard Gardner, em 1985, designa a situação em que a mãe ou o pai de uma criança a treina para romper os laços afetivos com o outro cônjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.

Por exemplo, o genitor alienante -em geral o que detém e monopoliza a guarda da criança - refere, com insistência, fatos e acontecimentos que denigrem a imagem do outro genitor e procura dificultar o convívio da criança com o ex-cônjuge e com a família dele, comprometendo o estabelecimento de laços afetivos e o desenvolvimento saúdável do filho.

A respeito da Síndrome de Alienação Parental (SAP), ler:
http://www.alienacaoparental.com.br/o-que-e
http://www.pailegal.net/chicus.asp?rvTextoId=-435121337
http://www.criancafelizrs.com/

terça-feira, dezembro 22, 2009

Um novo visitante na varanda

Não é um macaquinho.
Nem um morcego (felizmente se foram).
É um picapau.
Todos os dias bate com o bico na vidraça da varanda.
Deve haver algum tipo de alimento (insetos? larvas?) nas frestas de borracha.
Está ficando íntimo.
Já não esvoaça para a amendoeira quando me aproximo.
Apetece-me dizer-lhe: "seja bem-vindo!"

quinta-feira, dezembro 17, 2009

segunda-feira, novembro 02, 2009

Fiel aos meus, vivos no jardim que a ressuscitação permite

Ao meu pai, Antonio Almeida Azevedo,
ao meu sogro, José dos Santos Soares,
à amiga Maria Gabriela Llansol,

dedico o meu pensamento afetivo

segunda-feira, agosto 03, 2009

Reencontro transoceânico

Desde finais de Julho o par de mãos residente no Brasil atravessou o Atlântico para visitar o par de mãos lusitano. Aqui onde a Europa começa e o reencontro de navegadores faz-se âncora, as vontades tecem cordas, as vozes criam laços e os olhares esticam as velas. O hiato não é grande, mas o que as novas tecnologias permitem só aguçam o desejo do sorriso e do abraço. Agora deste Porto de abrigo em terras de D. Sebastião, também criam-se pontes para a próxima viagem, desta vez às terras do Rei Arthur, onde o outro par de mãos aguarda serenamente o reencontro por vir.

quarta-feira, julho 22, 2009

Resultado da segunda sondagem

Colocando o mediatismo em segundo plano, a morte de Michael Jackson impressiona-nos pelo impacto da morte de um ícone pop, como já fora, por exemplo, a de Freddie Mercury, a de Elis Regina, no Brasil, ou a de Elvis Presley. A primeira lembrança que me ocorreu quando soube da morte através do Twitter foi a de ter esperado ansiosamente pela chegada do álbum Thriller e que meu avô, que estava na altura de férias no Brasil, resolvera sair comigo para comprar o vinil na loja mais próxima. Este foi o impacto de uma geração que viveu as músicas de Michael Jackson. É inegável a influência nas gerações que conviveram com suas músicas, nos que criaram e recriaram outras inspirados pelas que compuseram ao longo da carreira artística. O resultado da sondagem mostra isso: 3 acharam que o impacto é "muito grande", 2 acharam "considerável" e 1 achou "indefinido".

quarta-feira, julho 15, 2009

Para um querido aniversariante


Um cesta de flores, para celebrar este dia.
Com um pouco de imaginação, sentirás o perfume, a textura das pétalas.
O meu afeto vai com elas.


"A beleza da formas e da cor é a santidade das coisas" (Maria Gabriela Llansol)

quarta-feira, julho 01, 2009

Michael Jackson e a cultura pop mundial

No seguimento da nossa abordagem mais iteractiva com os leitores do Notícias do Cais, lançamos uma nova sondagem: Qual o impacto de Michael Jackson na cultura pop mundial?  As votações decorrem por mais 14 dias.  Participem!

domingo, junho 28, 2009

Resultados da primeira sondagem

Resultados: 4 votos para "agradável", 1 voto para "muito bom" e 1 voto para "demasiado pesado". Democracia: vamos manter o design actual. Desde já nosso obrigado pela participação!

quarta-feira, junho 17, 2009

Buquês de flores


Recebi preciosas prendas no meu aniversário.

Uma delas é um buquê de rosas, entre botão e flor entreabrindo-se. Pelo amor que a elas dedico, certamente durarão muito, como as rosas de Clarice. Enfeitam a sala, ao lado das bromélias oferecidas pelo meu amor.

A outra é este Noticias do cais, com novo design. Veio acompanhado de um post, com criatividade à altura do novo formato do blog.

O blog - país dos tukiamães - nasceu da tuki filha, para me ensinar a lidar com a saudades... Depois, acolheu as mãos do tuki filho, o criativo redesenhador e criador da história sobre o país dos tukiamães.

Assim circulam flores reais e virtuais. Com criatividade e muito afeto.

terça-feira, junho 16, 2009

A origem de Tuki

Tuki nasceu na remota aldeia fictícia dos Tukiamãe. Desde sempre esta aldeia desenvolve sua cultura de forma partilhada, ensinando aos seus e aos outros que a maior das culturas é a global. Com o advento das modernidades, dois dos aldeões decidiram explorar novas terras. Um deles, Portucale, terras de D. Sebastião, o outro, as terras do Rei Arthur. Tuki aprendeu já com sua mãe que aprendera com sua avó: os aldeões de Tukiamãe são como pássaros e voam em busca do horizonte. E assim foi, Tuki continuou seu caminho pela aldeia, partilhando a cultura do seu povo com as outras terras, com as outras gentes.
Hoje Tuki faz anos, e a aldeia global está em festa!

segunda-feira, junho 15, 2009

O bordado de Maria Gabriela Llansol


"Leio um texto e vou-o cobrindo com o meu próprio texto […]. [P]arece-me que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo com uma rede, uma nuvem, o já escrito. O meu texto é completamente transparente e percebo a topografia das primeiras palavras.
Situo-me historicamente ao lado de outras mãos que bordaram tecidos de outra época. […] Passo da escrita ao bordado traduzindo como se ambos fossem a minha palavra [...]. Com um livro se escreve outro livro.
Eu escrevo, depois leio o que escrevo como se não o tivesse escrito."

Texto: fragmento de Maria Gabriela Llansol
Imagem:
Marilyn Silverstone /Magnum (Delhi, Índia, 1966)

sábado, junho 13, 2009

Novo Cais

O Notícias do Cais tem um novo design. A foto em background é de um cais do lago Ossiach, em Villach, Austria. Este novo "cais" para o blog inaugura igualmente um espaço de votação (à direita), onde periodicamente iremos levantar algumas questões no âmbito da nossa missão de juntar na escrita os "três pares de mãos separados por águas atlânticas".

Lendo Fernando Pessoa, que hoje faria anos

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
[...]

fragmento do poema "Aniversário", de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

sábado, junho 06, 2009

"As cantoras do rádio"

Com imenso orgulho de ser brasileira e carioca de coração assisti ao documentário "As cantoras do rádio", de Gil Baroni e Marcos Avellar.

Senti-me privilegiada e gratificada ao perceber que conhecia esse repertório e conseguia acompanhar as canções junto com as cantoras, como se estivesse na platéia - e, de certa forma, estava.

É muito bom saber que há pessoas interessadas em preservar a memória de uma era - a era das cantoras do rádio, sobretudo da Rádio Nacional -, felizmente ainda viva e atuante através de algumas de suas representantes, apesar de todas as dificuldades, nomeadamente a da nossa conhecida desmemória.

Cada vez mais torna-se necessário apresentar às novas gerações a diversidade e a criatividade do nosso patrimônio musical. O documentário é um bom exemplo de um segmento expressivo do que de melhor produzimos no âmbito musical. Tal é nossa riqueza, que este é apenas um dos nossos possíveis e belos "Buena Vista Social Club". Um dos, porque temos muitos outros, que também precisam ser tirados do quase total olvido a que foram relegados.

terça-feira, junho 02, 2009

Pensamento-prece pelos passageiros e familiares do voo 447 Air France

O meu pensamento de solidariedade para os familiares e amigos. Que consigam um pouco de serenidade em meio à angústia da espera de informações.
A minha prece para os passageiros neste momento de sua travessia humana.

terça-feira, maio 05, 2009

Um poema para as mães, quase sempre as melhores amigas

Canção amiga

Carlos Drumond de Andrade

Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos
Caminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos
Eu distribuo segredos
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois caminhos se procuram
Minha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças

quarta-feira, abril 22, 2009

Escrita, morte, heterodoxia e culpabilidade

"Heterodoxia I foi bem menos a espécie de desafio que a mim mesmo me lançava imaginando desafiar os outros, do que uma ruptura dolorosa e de certo modo, uma fuga (...). mais decisivo para mim, foi descobrir, há pouco, que esse primeiro livro de ruptura com toda uma tradição e uma sensibilidade familiares era já, como o serão todos os outros, um livro póstumo (....) sem que então tivesse plena consciência disso, a minha escrita aparece à nascença marcad[a] por um imenso sentimento de culpabilidade e remorso." (Eduardo Lourenço, "Escrita e Morte", prefácio de Heterodoxia I e II, 1987)

"quando descobrimos que já não vivemos de uma maneira uníssona com as pessoas que mais amamos e respeitamos isso gera um sentimento de culpa, algo que me acompanhou sempre, até porque meus pais morreram cedo" (Eduardo Lourenço in 25 Portugueses, 1999)

sábado, abril 18, 2009

As mãos e os frutos

Nasci de ti, um dia, 50 %, por um acaso de gens.
Nasci de ti novamente, 100 %, quando te afirmei no meu coração.
Continuo a nascer de ti, através dos meus filhos.
Através deles, nasces outra vez.
Meus frutos são teus frutos.
100% teus. E não só 25%, por um acaso de gens.
Escrevem-te. Escrevem-se. Escrevem-me.
Entre mãos dadas e recebidas.

Bem-aventurado aquele que tanto e tão bem soube fazer-se amar.

(a meu pai, que hoje faria 84 anos)

sexta-feira, abril 17, 2009

As mãos do meu avô (que faria hoje 84 anos)

"As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah. Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura as tuas mãos nodosas...
essa chama de vida
que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma."

"As mãos do meu pai", de Mario Quintana

quinta-feira, março 19, 2009

Aos pais no Dia dos Pais em Portugal

Hoje é dia de São José e dia dos Pais em Portugal.
(No Brasil, não sei por que, comemora-se em Agosto.)
Parece-me acertada a data portuguesa: São José foi mesmo um modelo de pai.

Aqui deixo a minha homenagem, in memoriam, a dois bons pais:
ao meu pai Antonio - um homem generoso, ativo, de personalidade forte, que amava a vida, adoeceu de um mal estranho e partiu meio atônito - e ao meu sogro José - um homem doce, manso, humilde, que suportou muito sofrimento físico e sobretudo psicológico antes de partir.

Estendo a homenagem também ao meu marido - um pai extremoso, aquele que sonhamos dar aos filhos - e ao meu filho - que na paternidade responsável está encontrando o maior sentido da sua vida e está se saindo maravilhosamente bem nesta arte de amar que não se aprende na escola.

domingo, março 15, 2009

Finalmente conheceram-se

Ontem de manhã eu vi e falei com minha netinha que vive em Portugal pela webcan.
Meu neto do coração, assim que ouviu minha voz, logo me chamou.
Perguntei à empregada se ele podia vir à minha casa.
Ele veio correndo e sentou-se no meu colo.
A minha netinha e o meu neto do coração mostraram coisas pela tela.
E conviveram como se já se conhecessem há muito.
De fato se conheciam: sempre falei de um para o o outro.
Agora já trocaram mutuamente de imagem.
E sabem que ambas as imagens estão longe e, no entanto, muito perto, no afeto que trago no coração.

sexta-feira, março 13, 2009

Um susto

Ontem à noite meu neto do coração levou e deu-nos um grande susto.
Quando brincava com a irmã, bateu a porta com força e ficou preso dentro do próprio quarto.
Foi um momento de tensão, pois ele chorava aflito para sair.
Com muito jeito, a maravilhosa empregada explicou-lhe com calma para ele tentar girar a chave.
De repente, o menininho conseguiu.
Ufa!

terça-feira, março 03, 2009

Maria Gabriela Llansol - um ano de ausência

Querida amiga,
tenho nas mãos o conforto dos teus livros e no coração uma imensa saudade. Amanhã postarei um trecho de um deles. Hoje é tempo de ler e pensar.

Ontem mandamos rezar a Missa da Luz por um ano de tua partida. Coincidiu com a Missa de Mês pelo bondoso Senhor José, pai e sogro querido.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Um voo antes do tempo

Hoje um filhotinho de passarinho chocou-se contra a vidraça do nosso quarto. Caiu atônito na varanda, quase desfalecido. Fiquei paralisada de impotência e cheia compaixão. Como ajudá-lo? Tentar pegá-lo e pô-lo perto de um galho? E se caísse ao pousá-lo (desta vez do terceiro andar!)?

Encoberta pela cortina para não assustá-lo ainda mais, esperei ansiosamente que se reanimasse . Arrastou-se com esforço até um vaso de plantas, eriçou a penugem, mas não conseguiu alçar nem um pequeno voo.

Um outro pássaro, suponho que a mãe, piava aflito (assim interpretei) na amendoeira. Do lado de cá, de vez em quando o pequenino ferido respondia.

Quando chegou a hora da nossa caminhada, meu marido e eu decidimos deixá-lo tentar sozinho mais um pouco, sem a nossa intervenção, para que não se ferisse ainda mais. Não fomos sequer pegar nossos tênis na varanda: fui de sandálias e fiz uma bolha no pé. Ao regressarmos, se ainda estivesse na varanda, encontraríamos uma solução.

Na volta, quando viu-me a olhar para o alto da árvore, o porteiro disse que havia caído um filhote do ninho. Outro, pensei? Não, não era outro, era o "nosso" que havia conseguido voar até o parapeito, mas não conseguiu sustentar o voo. Vendo a minha aflição, o porteiro tentou consolar-me, dizendo: ele vai ficar bem, eu o peguei e soltei no jardim aqui do lado.

A mãe ainda continuou piando até escurecer. Oxalá o pequenino consiga sobreviver, mesmo tão prematuro e sem ninho.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

A menina que ama os livros


Ela gosta de ler.
Como a vovó, que lhe mandou este livro.
E agora a contempla a ler, deste lado do cais.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Missa da Luz pelo querido senhor José

Na segunda-feira, dia 2 de fevereiro, comemorou-se o dia da Apresentação de Jesus ao Templo (quarenta dias após o Natal). A paróquia da Ressurreição, no Posto Seis, estava repleta. Na entrada, os fiéis recebiam uma vela. Um pouco antes do início da Missa, todas foram acesas. Enquanto a voz de Maria Betânia (gravação) cantava "Ave Maria", o Padre José Roberto percorria um a um os bancos, aspergindo água benta.
Na homilia, o Padre Roberto destacou o papel de Maria e José, ao cumprirem rigorosamente a lei do seu tempo. Pensei com carinho e reconhecimento no querido senhor José, em como ele foi um excelente pai durante toda a sua existência, cumprindo de forma irretocável a sua missão de amar os filhos.
No momento da comunhão, soou pelo templo a belíssima composição de Bach e Gonoud (embora seja mais conhecida apenas como de Gonoud) - a que mais me toca o coração e eleva o meu espírito.
As velas, apagadas durante o ofício, foram novamente acesas quase no final. Na saída, muitos amigos - muitos mesmo, bem mais do que poderíamos esperar, sobretudo considerando que era um dia de semana - vieram nos abraçar e nos confortar.
Foi a mais comovente Missa da Luz a que assisti. O Senhor José merecia, por ter sido um pai e um ser humano maravilhoso. Não deve ter sido simples coincidência que a sua Missa de sétimo dia tenha sido rezada justamente numa data tão significativa.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

O Senhor José no céu

Ele era manso, bondoso, humilde, gentil. Até demais. Por isso foi cognominado o "santo" pelos que viviam próximos. Mas no nosso mundo não há muito lugar para os excessivamente mansos e bondosos. Não, não era ele o inadequado: este nosso mundo é que não foi /é capaz de acolher seres assim. Por isso também alguns dos que deveriam amá-lo tornaram-lhe terrivelmente amargos os últimos anos. A ponto de fazê-lo revoltar-se e protestar em voz alta.

O Senhor José partiu ontem. Os que muito o amavam choram pelas oportunidades de felicidade desperdiçadas, pelo que poderia ter sido e não foi, pelo amor que ele distribuiu e tão pouco colheu.

Lembro do poema de Manuel Bandeira e imagino o Senhor José entrando no céu. Chega respeitoso, chapéu nas mãos, cabeça baixa, corpo ligeiramente curvado. Murmura com voz tímida, quase imperceptível, como quem não quer incomodar ou pensa que não é digno de ali entrar :
- Licença, meu Santo.
E São Pedro, bonachão, abre a porta de par em par e estende os braços para recebê-lo:
-Entra, José! Você não precisa pedir licença.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

O Rio de Janeiro em dia de chuva forte ou o caos urbano

Ruas alagadas. Águas cobrindo as calçadas. Vias de comunicação entre a Zona Norte e a Zona Zul interrompidas durante horas. Carros enguiçados. Pedestres ensopados tentando ir a pé para casa. Alguns arregaçando inutilmente as calças e arriscando-se nas poças e lagoas. Outros, mais ágeis, avançando como símios, agarrados às grades e muros. Passageiros presos nos ônibus e carros, procurando manter a calma. Pequenas multidões aguardando em vão nos pontos a chegada dos coletivos.

Durante mais de cinco horas - o tempo que levamos entre Madureira (Zona Norte) e Copacabana (Zona Sul) - não vimos nenhuma ação concreta das autoridades, no sentido de atenuar minimamente o caos urbano e auxiliar os milhares de "ilhados" , penando com fome, sede, cansaço, urgência de ir ao banheiro ... e ainda por cima com muito medo de serem alvo fácil dos "arrastões" (assaltos em série)...

(Pergunta: se, como é do conhecimento geral, são mais do que previstas as chuvas de verão, por que nós - os administradores e a população desta Cidade - não agimos preventivamente, cuidando do bom funcionamento dos bueiros? Por que continuamos inconseqüentemente a atirar lixo - inclusive os terríveis plásticos, que via de regra impedem o escoamento das águas, como pude constatar ao longo do penoso trajeto? )

quinta-feira, janeiro 15, 2009

segunda-feira, janeiro 12, 2009

O que devo dizer ao menininho?

O menininho está na fase dos "porquês". Agora que finalmente conheceu a minha filha (só deu tempo de estar com ela uma vez , mas pareciam velhos amigos!), não entende por que ela partiu. Até porque ele não a viu partir - a família dele passou fora as festas de fim-de-ano.
Quando me vê, de vez em quando se lembra e pergunta:
- Titia, por que a A* foi embora?
- Por que ela foi para a casa dela. Ela precisa voltar a estudar - respondo.
- Por que?
- Porque ela mora muito muito longe (lembrei-me do reino de Shrek), num lugar tão longe, que até precisa ir de avião.
- Por que?
Penso que as minhas respostas não são muito convincentes ou esclarecedoras: no dia seguinte, o diálogo se repete.
Hoje, enquanto a mamãe lavava o bumbum dele no tanque, ele perguntou-me novamente:
- Por que a A* foi embora?
Na hora só me ocorreu dizer:
- Porque ela morava com a titia em pequena, mas agora já cresceu... e quando as pessoas crescem vão morar nas suas próprias casinhas. Mas ela vai voltar no próximo Papai Noel (é assim que ele entende o Natal), quando você tiver 4 anos.
Ele envolveu o pescoço da mãe e disse-lhe:
- Eu não quero ir para outra casa!

quinta-feira, janeiro 08, 2009

O despropósito da morte

LUC DE SMET

O meu amigo Luc escreveu-me anteontem. Eu já sabia, antes mesmo de abrir a mensagem, que não havia ali boas notícias. O seu pai foi enterrado anteontem. Senti-me triste e inútil diante do sofrimento de Luc e Ann. Guardarei deste senhor (que nunca conheci pessoalmente) as imagens com histórias dentro que Luc me enviou ao longo dos últimos anos.
A imagem acima foi captada num quarto de hospital, quando a doença ainda não se imaginava fatal, talvez há dois anos, ou até menos. Acredito que sejam bolhas de oxigénio comprimidas um aparelho terapêutico qualquer. Gosto de pensar que o pai de Luc, tal como nós - eu e a pessoa que me lê agora, todos nós -, permanecerá no carrossel da vida assim mesmo: como bolhas de oxigénio, moléculas cheias de carbono ou átomos dispersos no húmus.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Entre o Rio e Niterói, o olhar do arquiteto e do cinegrafista

Irritada com a sujeira que o meu visitante indesejado espalha pela casa, pensei escrever hoje sobre morcegos urbanos.
Felizmente antes abri a mensagem de uma amiga, com um belo vídeo em que um disco voador sobrevoa as belezas do Rio de Janeiro e pousa em Niterói. (Esse era precisamente um dos lugares que eu e minha filha planejamos visitar juntas - desejo que não pudemos realizar, por várias razões.)
Acolho esse presente. E ofereço-o a minha filha e a quem mais apreciar as belezas do Rio e das formas de Niemeyer, magnificamente homenageado neste vídeo simples e genial.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Uma passagem de ano em forma de beijo dado mais tarde

Choro, choro convulsivamente, numa mistura indestrinçável de sentimentos, por assistir agora ao espetáculo dos fogos que sonhamos ver juntos, mas confortada e feliz por saber que os olhos de minha filha e do seu amado viram que não pude/pudemos ver; por estar/estarmos num quarto de Hospital nessa mesma linda Copacabana, tão perto deles e ao mesmo tempo tão longe; por agora poder asssistir a estas imagens postadas no Bordado Inglês* e pensar que aqui estou a vê-las, no lugar quente do espetáculo, pensando afetuosa e saudosamente em ambos, agora já de regresso ao país tão frio.

Recebo estas imagens e enxugo estas lágrimas como batismo de alegria. Em forma de beijo dado mais tarde, mas a tempo...

Hoje vesti roupa branca logo de manhã. Em breve prepararei bacalhau e assarei castanhas no forno. Eu e meu amor abriremos uma garrafa pequena de champagne, com autorização médica. Enfim festejaremos a Passagem de Ano, agradecendo a recuperação da saúde. E se a chuva abrandar, iremos molhar os pés nas águas do mar, como habitualmente fazemos no primeiro dia do Ano. Será um autêntico Dia de Reis.

(*http://bordadoingles.blogspot.com/2009/01/feliz-ano-novo.html)

domingo, janeiro 04, 2009

Um Ano Novo atípico




Fazemos muitos planos, sobretudo na passagem de Ano. Mas por vezes a vida se encarrega de mudá-los. Cabe a nós transformar os imprevistos em novas possibilidades de alegria. Como a que nos foi dada a experienciar, num quarto de Hospital Copa d'Or, cercados de cuidados médicos* e do apoio dos filhos e amigos.


Esta a imagem de uma ceia frugal, diet, preparada com extrema delicadeza pela equipe responsável pela nutrição* e servida ao nosso paciente amado com muito afeto.


No Dia de Reis compensaremos, com vinho e bacalhau. Mas esta será sem dúvida uma passagem de Ano inesquecível, pelo dádiva de amor que de todos recebemos...
(* A toda equipe do Copa d'Or, o nosso agradecimento)