Eu terminei o "Abelha na Chuva" anteontem. Dei-o para uma pessoa que tem o russo como língua-mãe, mas que quer treinar português. No dia seguinte, ganhei um ovo pintado a mão. Fiquei atónita. Julia, assim ela se chama, entregou-me o ovo sem jeito, dentro de um saco plástico. Disse que era uma recordação. Eu queria que ela provasse o sabor das palavras decantadas de Carlos Oliveira, frases precisas, sem gordura adjectiva. Ela acede ao desafio e devolve-me um ovo, sim, um ovo pintado à mão.
Clarice Lispector teria achado muito bela esta retribuição das palavras. Não só porque adorava o simbolismo do ovo enquanto elemento desencadeador de mistérios e epifanias, mas também porque Clarice nasceu na Ucrânia. Houve quem dissesse que a língua presa de Clarice, a sua dificuldade de pronunciar determinadas palavras, tivesse a ver com a terra natal.
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