sábado, outubro 18, 2003

À porta de Llansol (III)

Leio no blogue de Alexandra Barreto mais um testemunho sobre a leitura dos textos de Llansol. Ela fala sobre "O Jogo da Liberdade da Alma", um livro recém-lançado pela autora portuguesa. A obra veio a lume precisamente num colóquio no Convento da Arrábida, juntamente com outro título, "O Começo de Um Livro éPrecioso" (Assí­rio & Alvim, ilustrações lindas de Ilda David). São apontamentos de leitura que dão conta da lenta viagem que é chegar até à textualidade de Llansol.

"Para Llansol, escrever, ler, amar e existir são formas de investigação do mistério do real através de um texto que não aceita as limitações nem da prosa nem do verso.
Neste livro que se constrói a partir de "menos-valias" (p. 13), de "dias perdidos, textos reconstituídos, ossos ressequidos à espera que o texto lhe renascesse em volta" (p. 20), o conceito de "ressurreição" é fulcral. O mundo, a vida, o amor e a literatura dependem das ressurreições que devem processar-se constantemente para que algo subsista do conflito entre o texto e o tempo: "o texto, na sua trajectória, não me queria no Tempo, onde, indubitavelmente, o meu corpo me quer" (p. 27). Mas num conflito pode haver uma (trans)fusão entre os dois pólos em causa. E para o texto vencer o tempo tem de aceitar confrontar-se com ele, tem de conseguir ser "livre, e anterior a si mesmo, e posterior a si mesmo____a substância narrando-se" (p. 12).
Tenho uma confissão a fazer: há muito tempo que não conseguia ler um livro de Maria Gabriela Llansol até ao fim. Geralmente impaciento-me com alguma imprecisão das palavras que se vêem subitamente desprovidas dos seus referentes lexicais tradicionais sem necessariamente lhe serem atribuídos outros que permitam ao leitor um ponto de apoio. No entanto, este livro terminei-o muito rapidamente, quase sem interrupções."

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