segunda-feira, outubro 13, 2003

A primeira missanga para um colar de olhos



Nos últimos dias estivais, quase totalmente dedicados à preguiça, houve um tema que me deixou especialmente seduzida: os olhos. Olhos muitos, olhos libidinais, olhos cores e funções várias. Todos os textos em que tocava diziam-me: olhos. Neste regresso ao cais, pretendo falar desses olhos que encontrei. Começo por um fragmento que me foi enviado por uma amiga-irmã - uma menina pequenina que, aliás, aprecia muito os olhos humanos. Ela manda-me hoje uma mensagem baptizada de "para os teus olhos". Um bilhete electrónico que diz assim:

"Hoje, enquanto observava uns revôos de borboletas nas cercanias do coreto da Praça da Liberdade, vi a moça entrar dentro dos olhos do namorado, e depois o namorado entrar dentro dos olhos da moça. E a manhã ficou assim: toda só olhos adentrados por outros olhos."

O texto é de Rubem Focs , uma figura deliciosa construída pelas mãos de Paulinho Assunção. Os dedos do escritor brasileiro criam não só figuras imaginárias (e imaginantes, claro está), mas também livros artesanais. Há pouco tempo, Paulinho atribuiu a uma mensageira alada a incumbência de me entregar três das suas obras feitas à mão: "Saberes", "Escreventes" e "Kafka em Belo Horizonte - Volume Um". Este último foi o que mais me tocou. Seleccionei alguns excertos repletos de olhos para transcrever aqui, neste cais sempre aberto à convergência de correntes atlânticas. Hoje, contudo, prefiro começar pelo texto que me foi ofertado, colhido directamente do blog de Paulinho Assunção. É a primeira missanga de um colar de olhos. Não tenho pressa. Vou encontrar as pérolas exactas para compor esta gargantilha. Aceito mais colaborações. Todos os olhos poéticos são bem-vindos, mesmo que lacrimejantes ou vazados.


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