quarta-feira, agosto 20, 2003

Sérgio Vieira de Mello

Estava a chegar à Praia da Memória, ontem, quando soube que um atentado suicida tinha deixado o meu conterrâneo Sérgio Vieira de Mello sob os escombros de instalações ocupadas pela ONU no Iraque. Quando a sua morte foi confirmada, não pude deixar de ficar arrepiada pelo significado daquele acto extremo de brutalidade. Como diz a manchete do PUBLICO, aquilo que aconteceu “marca a entrada num novo patamar de violência”.

Penso então no poema “Eu Falo das Casas e dos Homens”, de Adolfo Casais Monteiro:

(...)
Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...

(...)
Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?

(...)


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