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O escritor alemão Sebald, nascido em 1944, morreu há três anos. Deixou-nos livros como "Os Emigrantes" e "Os Anéis de Saturno". São obras com fotos e imagens, bem como notícias de jornais verdadeiras, que funcionam como elementos constitutivos da própria narrativa. Por outras palavras, estes fragmentos do real também estão ali para contar história e interagem semanticamente com a teia narrativa.
Numa entrevista concedida (pouco antes da sua morte) a Michael Zeeman, publicada no "La Vanguardia", o autor explica porque sente necessidade de incluir estes fragmentos do real na sua ficção. Diz não ter "muita certeza de ser capaz de dotar de sentido" tais fotografias e recortes, mas reconhece que "em todo o caso, há a tentativa de dar uma prova" de que aquilo que está selado sob o pacto da ficção de facto ocorreu. Depois, fala da singeleza da memória que move a sua escrita:
"A fotografia está destinada a se perder no fundo de uma caixa ou de um vão. É um objecto nómada, com poucas probabilidades de sobreviver, e me parece que todos experimentamos essa sensação de encontrar acidentalmente um documento fotográfico de um parente morto ou de um desconhecido. Sentimos então uma espécie de atracção pelo facto de tê-lo encontrado depois de algumas décadas. Imediatamente ele volta, cruza o umbral e diz: "Ei, um momento, eu também existi, por favor, ocupe-se de mim por um instante". São essas coisas sem valor em si mesmas que, não sei como, me fazem trabalhar." (Tradução de Luiz Roberto Mendes para o suplemento Mais!)
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Depois de ler esta entrevista, vou já à Livraria Travessa, em Ipanema, comprar um exemplar de Sebald. No Brasil, eles estão editados pela Record.
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