Um blogue escrito por três pares de mãos separados por águas atlânticas. Uma viagem com escalas no Rio de Janeiro, em Londres e Senhora da Hora.
sexta-feira, dezembro 26, 2008
Um Natal de alegria
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Parada Iluminada
O patrocinador (uma poderosa empresa de refrigerantes) bem poderia investir em boas idéias. Têm muitos recursos para isso. E há muitos talentos à espera de oportunidade.
quinta-feira, dezembro 18, 2008
Como descrever a ausência?
Na semana passada, o pai já não comia. Dependia do soro e aceitava de bom grado raros prazeres - como um gole de coca-cola.
Pede sempre para que os filhos comemorem a sua partida. É sinal de que ele passou por aqui. E de que foi amado. E de que viu paisagens bonitas - o pai de Luc adorava pintar, e só deixou de fazê-lo quando perdeu acuidade visual.
Talvez haja agora, na sua mente, um lago com plantas flutuantes como as de Monet em Giverny.
Seis anos sem ti
Hoje faz seis anos que o meu avô partiu.
(Como descrever a ausência?)
( Uma imagem descreverá melhor o não-estar de alguém no sítio a que sempre pertenceu?)
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Os dias deram em chuvosos...
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Em breve, muitos abraços
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Com histórias e com afeto
Deste lado do cais, contemplávamos com olhar embevecido, transbordante de ternura, nosso filho a ler histórias para a filha adormecer. Ela, apesar de já meio sonolenta, com a cabeça recostada no sofá e os pezinhos apoiados no colo do pai, acompanhava atentamente a leitura. Ele lia-lhe compenetrado o texto, seguindo fielmente a palavra escrita.
Provavelmente o sentido de muitas palavras escapavam à menina, mas ela seguia o fio do afeto que lhe oferecia a doçura da voz paterna. De vez em quando, ela o interrompia com algum comentário ou para ver a ilustração. Ele prontamente a atendia. E logo retomavam a leitura.
Ficamos algum tempo a observá-los, aguardando o final da história (O Gato de Botas, que acabáramos de enviar por um portador). Deitamo-nos com essa linda imagem do amor de ler.
terça-feira, dezembro 09, 2008
Sementes de rosmaninho 5
No vaso, crescem dois pés de rosmaninhos e dois de ervas daninhas.
Agora não é difícil distingui-los: os das ervas daninhas crescem mais depressa e com mais vigor.
Decidi não arrancá-los.
É o meu tributo ao jardim do pensamento de Maria Gabriela.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Hoje é dia de alegria
sábado, dezembro 06, 2008
Edificando a cura
- ser chamada e visitada pelo meu netinho do coração (sempre tenho e terei tempo para ele);
-olhar diariamente se as sementes de rosmaninho conseguiram sobreviver às bicadas dos pássaros (algumas resistem...);
-pôr água nas plantinhas da varanda;
- caminhar à tardinha com o meu amor na orla de Copacabana ;
- dedicar as manhãs escrever um pouco no computador;
- verificar, antes de dedicar-me à produção de textos, se há mails enviados pelos filhos;
- ver de 15 em 15 dias a minha netinha (e o meu filho) na web cam;
- assistir (quase) todos os sábados aos filmes da Sessão do porfessor;
- de vez em quando escrever neste blogue;
-tecer o cachecol para a minha filha;
- etc.
Sinto que já seguro os bordos. E que o poço não é tão fundo...
sexta-feira, novembro 28, 2008
Sementes de rosmaninho 4
quarta-feira, novembro 26, 2008
"Manhã-Llansol"
segunda-feira, novembro 24, 2008
Outra data natalícia
"Um sopro de júbilo" - pensando em Maria Gabriela Llansol
Canto-lhe a leitura quase todos os dias, silenciosamente, como no nosso último encontro em Sintra, em 2007, um pouco antes de ela penetrar a face do invisível: na quase penumbra do quarto, sentada num banquinho, diante da cadeira onde ela costumava sentar, li em absoluto silêncio as primeiras páginas de um exemplar de Os cantores de leitura, ainda não lançado. Ela interrompeu o curso de silêncio ao perceber um breve movimento na minha face.
- Estás a gostar?
Seguro-lhe as mãos, acaricio-lhe a fronte, e sussurro-lhe ao pé do ouvido, em ponto de beijo.
- Sim, Maria Gabriela, sorrio para a palavra que anuncia o texto prosseguindo – nostalgria, a transformação da tristeza em “sopro de júbilo”.
domingo, novembro 23, 2008
Sementes de rosmaninho 3
terça-feira, novembro 18, 2008
Sementes de rosmaninho 2
"Dispus-me, pois, a contar em breves palavras essa experiência do vazio, vendo o sol ao fundo, e tando comigo, sobre os joelhos e na mesa ao lado, o livro de Ibn'Arabi.
A terra em vida.
Herdar a terra.
O rosmaninho e a sálvia.
Sentia-me atraída pelo medo na sua selva de espaço, lê-lo levava-me a perder-me e a esperar. A sálvia, o rosmaninho, este livro, são meus companheiros."
(Finita. Diário 2. Lisboa: Rolim, 1987, p. 159)
domingo, novembro 16, 2008
O som do coração e Orquestra dos meninos
sábado, novembro 15, 2008
Sementes de rosmaninho
sexta-feira, novembro 14, 2008
Pessoa em mim - 1
mas ________
trago sempre comigo
o pensamento vivo
de Pessoa em mim
(Pessoa em mim é o titulo de um dos muitos livros que pretendo publicar – e que provavelmente nunca publicarei)
As mãos, as mães e a blogosfera
a agulha move-se
o fio corre entre os dedos
o tecido cresce
engolindo o tempo
encurtando a distância
tramando regressos
como quem canta o amor
(escrito ao ler o post de hoje in bordadoingles.blogspot.com)
segunda-feira, novembro 10, 2008
O calor está chegando...
Amo a paisagem da orla de Copacabana, mas com temperatura amena. Uma espécie de verão-outono, com muita luz e pouco calor, mais Setembro que Dezembro...
domingo, novembro 09, 2008
papagaio de papel
estendo o braço
à lua lá no céu
movo o olhar
cubro a distância
e assim faço
vogar no ar
meu singular
papagaio de papel
(poema - ? - escrito nesta manhã, após mostrar à minha netinha, através da web can, um livro sobre pipas)
Será arte?
no átimo
de pleno viço
que precede
a degeneração
(poema - haicai? - que me surgiu ontem no ponto do ônibus, após assistir a um documentário sobre o poeta Waly Salomão)
sábado, novembro 08, 2008
Livro sobre pipas ou papagaios de papel
No momento, escrevo dois livros (em forma de B.I.): sobre o Boitatá e a Boiuna e sobre Pipas ou Papagaios de papel.
Todas as contribuições serão bem-vindas.
sexta-feira, novembro 07, 2008
O amor de uma criança
quarta-feira, novembro 05, 2008
O novo rosto da América
Nada entendo de crise econômica nem de política internacional. Não sei que tipo de repercussão a sua plataforma política terá para a economia do Brasil. Só sei que me apraz profundamente a resposta da população e a assunção deste novo rosto compósito pela América.
Foi bonita a festa.
terça-feira, novembro 04, 2008
Um manuscrito interrompido
"Vi outras vidas movendo-se. Sonhei os sonhos que estas vidas sonharam. Senti o que elas sentiram. Mas não são vidas, são criações. Me tocam e fazem-se p"
segunda-feira, novembro 03, 2008
Um pouco de sol e mar
Amo este lugar. Para mim, talvez o mais carioca de todos. É perfeita a combinação de sol, mar, tarde de domingo, pessoas e famílias se divertindo... Enquanto ando, de mãos dadas com o meu amor, neste Novembro que mais parece Setembro, sinto o sol aquecendo suavemente o rosto. Respiro fundo. Sorrio. Vejo homens-estátua (penso na minha filha e nos personagens de Lídia Jorge) e outros artistas populares lutando pelo seu ganha-pão, crianças pedalando carrinhos alugados, sob o olhar atento dos pais (penso no meu filho e na minha neta, imaginando que bem poderiam estar ali), ciclistas, banhistas, a estátua do poeta Drummond, o Posto Seis, a orla maravilhosa de Copacabana.
Volto revigorada. É muito bom viver.
domingo, novembro 02, 2008
Lendo Llansol - para o dia de hoje
e Antonio Almeida Azevedo, Pai
- os meus mortos mais queridos
(só fisicamente ausentes - vivos, no jardim que o afeto permite)
" (2 de Novembro)
Os cultivo, fiel aos meus, no jardim abismático que aqui
Me trouxe - Ana e Myriam, Parménides, Prunus Triloba,
Maya, Potropato, Suso, Eckhart, Müntzer, O Pobre, Alice,
Alisubbo, João da Cruz, Ana de Penãlosa, Margarida, Isabôl,
Copérnico, Comuns, Spinoza, Coração do Urso, Bach,
Hölderlin, Nietzsche, Teresa Martin, Kierkgaard, Rilke, Pai,
Maria Adélia, Avó Maria, Jorge Anés, Mãe, Jade, Vergílio
Ferreira _______ até à luz da ressurreição."
(estância 306 de O começo de um livro é precioso. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003)
sábado, novembro 01, 2008
Lendo Llansol - entre 1 e 2 de Novembro
(...) A noite criativa foi a de 1 para 2 de Novembro - estabeleceu-se assim um elo entre os vivos e os mortos, e os vivos tomaram responsabilidade no reino dos mortos, e os mortos assumiram a sua responsabilidade no reino dos vivos; (...) "
(Fragmento de Um falcão no punho. Diário 1. Lisboa: Rolim, 1985, p. 94 )
sexta-feira, outubro 31, 2008
Lendo Llansol - sobre cartas
e ainda não atingiram o valor futuro, que hão-de ter e se,
no momento intermédio da passagem,
são autênticos invisíveis,
que perguntas continuarei eu a enviar-te
como quem espera por um alimento desconhecido,
e tem necessidade de o fazer como quem come?"
(fragmento de "Oferenda a Apollinaire______" in Mais Novembro Do Que Setembro, de Guilhaume Apollinaire. Tradução e Prefácio de Maria Gabriela Llansol. Lisboa: Relógio d'Água, 2001, p. 14)
sexta-feira, outubro 24, 2008
Chegada
O corpo ainda não se adaptou ao fuso horário. O espírito estranhou um pouco as ruas, as gentes, a casa e os objetos que deveriam ser familiares.
No primeiro dia após o regresso, logo de manhã, vi que o meu neto do coração cresceu bastante e já fala muitas palavras novas. Não me esqueceu! Assim que percebeu que voltamos, antes de ir para a escola, fez questão de visitar-nos e passar umas horas com a titia.
Muito à vontade, pediu para ver desenhos animados, aninhado na nossa cama. Depois veio brincar com os carrinhos dele, enquanto eu limpava algumas prateleiras do armário da cozinha. De tarde, quando regressou da creche, chamou-me para brincar na fresta da varanda. Expliquei-lhe que estava muito suja e suada e que precisava tomar um banho. Ele entendeu.
Ainda não pude ver o mar que tanto amo. Pretendo vê-lo hoje à tardinha, quando formos dar a habitual caminhada. Depois eu conto como foi esse reencontro.
quarta-feira, outubro 22, 2008
A gramática das crianças
_ É uma borracha. Serve para apagar o que a gente escreve.
_ Posso usar?
_ Claro que sim, pérola da minha vida.
[cerca de cinco minutos depois entra na sala a querida tia-avó]
_ Então, meu amor? O que é que você está fazendo?
_ Estou a "borrachar".
quarta-feira, julho 23, 2008
Desenhando no presente um comovido até breve
quinta-feira, julho 17, 2008
Em breve, a alegria do reencontro, do outro lado do cais
Em breve estarei do outro lado do cais. Por um período de três meses (23-24/07- 22/10) - que oxalá seja só de abraços e prazerosos convívios - talvez não escreva com a costumeira freqüência nesta página. É que quando estamos vivendo intensamente com os que amamos, não precisamos tanto de escrever as saudades. Mas como, com certeza, surgirão saudades dos que deixo do lado de cá, é possível que sinta necessidade de escrevê-las... Prometo que o farei, sempre que tiver oportunidade.
terça-feira, julho 15, 2008
O sublime no cotidiano
Levei uma fotocópia da minha carteira de identidade (B.I.) para, numa eventualidade, caso a mãe precise, eu poder pegá-lo. Foi uma experiência aparentemente corriqueira, mas para mim, por tudo o que tenho vivido nos últimos anos, teve uma dimensão imensa. Senti-me acolhida, amada, integrada a esta família por laços de afeto tecidos com respeito e atenção cotidianos.
Já deixei com a irmã alguns papéis de carta, da coleção do meu tempo de professora. E para o menininho, um bloco com desenhos para colorir. Há carrinho, lua, avião, sinal de trânsito, enfim, coisas que fazem parte de nossas vivências comuns. Assim, quando perguntar pela "titia", poderá lidar melhor com a "saudade". A partida está preparada, mas o meu problema será: como eu vou lidar com a saudade do menininho?
segunda-feira, julho 14, 2008
domingo, junho 29, 2008
Como pode um bebê entender e expressar a saudade?
sexta-feira, junho 27, 2008
Adeus a Sylvinha Araújo
quarta-feira, junho 25, 2008
segunda-feira, junho 16, 2008
sexta-feira, junho 13, 2008
Santo Antonio, Fernando Pessoa e a rapariga que temia a impostura da língua
quinta-feira, junho 12, 2008
Aos namorados de todos os tempos
por toda a minha vida eu vou te amar"
(Tom & Vinícius)
"penso que as beguinas sabiam que o amor (a amizade, a paixão, o segredo) têm lugar no corpo, mas muito pouco lugar; ele é uma manifestação do espirito, que é tão corpóreo como esta mão que escreve; por isso, quando se diz a alguém 'eu amo-te', é para sempre que fica dito"
(Maria Gabriela Llansol)
Tristão e Isolda
Pedro e Inês
Romeu e Julieta
Abelardo e Heloísa
Jorge Amado e Zélia Gattai
Roberto Carlos e Maria Rita
Maria Gabriela e Augusto
Eduardo Lourenço e Annie
e outros "gêmeos astrais"
terça-feira, junho 10, 2008
Post 366*
Coisas de criança 23 - o arco-íris da praia
Ontem foi dia de praia. O pai e a menina foram de Metro e saíram em Matosinhos Sul. Acomodaram-se perto do mar, com a praia ainda vazia, e deixaram o vento baloiçar as cores do guarda-sol enquanto faziam castelos de areia. Algumas nuvens corriam no céu azul, criando sombras rápidas sobre as pequenas dunas mornas. A menina estava tão contente que não sabia por onde começar e mesmo com os moldes exatos para fazer um polvo violeta, um pato amarelo, um barco verde e uma estrela do mar vermelha, preferiu voltar à calçada, perto do bar, onde já lá estavam outras crianças a brincar numa casa em plástico. Experimentou todos os brinquedos, comeu bolachas, bebeu água até que chegou a hora de voltar para preparar o almoço. No caminho de volta quis segurar o guarda-sol com os dois braços, como se abraçasse todas as cores do arco-íris.
domingo, junho 08, 2008
Comentário ao post da fadinha-cozinheira
A pérola que o meu irmão me deu
Claro que é o melhor doce caseiro do mundo. Há pequeninas fadas-cozinheiras que conseguem transformar tudo em alimentos e estes, uma vez preparados, são trazidos nas mãos em forma de concha. Quem os come fica imediatamente feliz e agradece ao Mundo a possibilidade de ter por perto tão perfeita criatura.
terça-feira, junho 03, 2008
Coisas de criança 22 - a nossa casa
O que a madrinha lhe havia criado com os individuais de plástico, imaginando um telhado entre as duas, agora a menina redescobria numa outra casa em que até conseguia entrar. O pai rearrumou todo o quarto, e conseguiu um espaço para montá-la. Após colher as maçãs, tratou de fazer a sua especialidade, tirando de algum lugar, provavelmente de um armário, uma panela que lhe permitisse cozê-las em lume brando. O doce era feito à gosto, apurando com o tempo de cozedura. O pai divertia-se com a alegria contagiante da menina. Quando ficou pronto, a menina estendeu a mão pela porta e disse:
- Prova, papá.
Aquele era o melhor doce caseiro do mundo.
domingo, junho 01, 2008
Comentário a uma foto de família
sexta-feira, maio 30, 2008
Hoje é dia de alegria
O rosto do teu pai se iluminará
ao rever a azulíssima cor do teu olhar,
o rosto amado a desabrochar em sorrisos
e o balançar dos teus caracóis,
ao desceres célere os degraus da escada
e correres ansiosa ao encontro de seus braços.
quarta-feira, maio 28, 2008
Coisas de criança 21- da necessidade do convívio para a construção do afeto
- kebou! (sobre o vaso de barro com tampa quebrada)
- sujo! (sobre a cadeira de repouso, que a titia correu a limpar quando o menino quis sentar)
- carro vermelho! (sobre a miniatura de carro que pertenceu ao filho da titia, hoje um homem, e que vai e vem, a cada encontro, como uma espécie de objeto transicional para chegadas e partidas)
- menino! (foto do filho da titia, primeiro dono do carrinho vermelho)
- Bia! (foto da menininha, filha do dono do carrinho, que não é a Beatriz, amiguinha da creche, mas deve se parecer muito com ela)
E assim ambos brincaram quase duas horas. Quando o titio chegou, amou a surpresa de encontrar aquela cena. Feliz, o menininho correu para os braços dele. Já sabia que ia ganhar balancinho. E deixou-se balançar, sem medo.
domingo, maio 25, 2008
Nota do Livro de Acalantos
homesick
sábado, maio 24, 2008
quinta-feira, maio 22, 2008
Feriado na Pracinha
Fiz de conta que hoje é meu aniversário e dei-me um presente: passei a manhã com meus netos do coração na pracinha do Bairro Peixoto.
Emociona-me profundamente saber que a mãe deles confia em mim e permite esta troca, este convívio afetivo, como se eu fosse de fato a avó (e, de certa maneira, sinto que sou).
A neta mais velha já fez oito anos. É tímida, alva, esguia, ruiva e com cabelos encaracolados. Lindíssima! Parece uma princesa das ilustrações dos livros de contos de fadas.
O caçulinha tem dois anos e meio. É um menino de cabelos castanhos e lisos, olhos vivos, levado, desinibido.
Contei à neta do coração que há 3o e tal anos atrás passeei ali com meus filhos. Vi aquelas árvores, hoje frondosas, quando ainda eram pequenos arbustos. Eu e a menina ruiva sentamos à sombra de uma delas e lemos juntas um livro de imagens (A menina e as borboletas, de Roberto Caldas). Brinquei com ela de jogo de letras, de adivinha-em-que-mão-está, etc. Ela desenhou na areia com gravetos. O menininho brincou com os carrinhos dele e com brinquedos de outras crianças. Depois ambos brincaram de descer juntos no escorrega.
Quando ele se distraiu um pouco a brincar no balanço com a babá (extremamente cuidadosa), despedi-me da neta mais velha e saí discretamente, para o menininho não chorar. Há muitas tarefas à minha espera em casa. Mas não faz mal se o trabalho no computador e outras atividades atrasarem umas horas: há uma outra qualidade do tempo que não quero adiar.
quarta-feira, maio 21, 2008
Guarda compartilhada
terça-feira, maio 20, 2008
Marcas de amor
ouço o que recomendas,
penso em ti a toda a hora,
sobretudo em certos momentos
(quando lavo rúculas selvagens,
ou surpreendo no rosto do teu pai
traços que são teus).
Leio o que escreves,
ouço o que recomendas,
penso em ti a toda a hora,
sobretudo em certos momentos
(quando ouço Madredeus, Vitorino, Dulce,
ou surpreendo no jeito da tua filha
traços que são teus).
segunda-feira, maio 19, 2008
Coisas de criança 20 - Arco-íris
O pai e a menina foram à festa de Matosinhos. A menina adorou os carros, sempre dando gritos de alegria a cada passagem pelo pai. Ao final da festa, estava tão cansada e feliz que pediu ao pai para ir às cavalitas, e lá foi até ao Metro a contar o que tinha feito e o que ainda queria fazer. Quando chegaram em casa, como era de se prever, a menina dormiu logo, mas teve um sono agitado... tão agitado, que até rolou e o fez tantas vezes que até parou no chão. Coitada, a menina chorou, o pai acordou preocupado, mas quando a deitou de volta à cama, já o choro havia parado, e a menina dormia novamente, continuando às voltas nos carros do sonho...
No dia seguinte, era tempo da menina voltar para a mãe. O pai, triste, ainda preocupado com a queda da menina, olhou para o céu nublado e, no meio do sol e da chuva, viu um arco-íris, e sorriu. As cores lembravam-lhe a menina nos carros da festa a andar às voltas. A menina trouxera o arco-íris para o final de mais um fim-de-semana especial e o pai dormiu mais descansado.
sábado, maio 17, 2008
Uma visita especial
O menininho veio com mochilinha da creche e chamou animado pela titia, antes mesmo de a porta se abrir. Com seu jeitinho curioso e ativo, percorreu com familiaridade todos os aposentos, como se sempre tivesse vivido ali. Depois, deteve-se diante da fresta da varanda, percebendo-se do lado de cá, a espiar para a sua casa, do lado de lá.
Desenharam, fizeram barcos de papel, tiraram fotos e viram a lua.
Quando o menininho retornou à casa, correu para chamar a titia. Agora, do lado de cá e do lado de lá, a fresta tem um novo sentido. Doce, como fruta madura.
sexta-feira, maio 16, 2008
A avó e os netos do coração 2
Nessas muitas moradas afetivas, há o infante João, recém-nascido, o neto do coração de Portugal, a quem ela dedicou um acalanto, embalando-o docemente em pensamento. Há o menininho que mora no Brasil, no apartamento ao lado, e que tem quase a mesma idade da menininha, "a neta primeira a chegar", em Portugal.
A avó sente não poder conviver com eles ao mesmo tempo. Sabe que quando está com o neto de cá não pode estar com os do outro lado do cais. E vice-versa. Mas sabe também que amar um é amar os outros, pois este é o milagre da multiplicação do amor. Quanto mais se ama, mais se acrescenta.
quinta-feira, maio 15, 2008
A fresta, a festa ou Doces convívios com o neto do coração
Ambos já têm um conjunto de vivências em comum que permitem pequenos diálogos e brincadeiras. E a avó maravilha-se por poder acompanhar de perto o crescimento em linguagem e em beleza deste pequenino ser.
Quando o menininho chega da creche, corre à varanda, sôfrego, já com saudade dos brinquedos que deixou. Primero, distrai-se a brincar com eles. Depois, chama a titia (a avó do coração) e pede-lhe para sentar na soleira, próximo à fresta da varanda. Mesmo que não estejam a trocar brinquedinhos, gosta de saber que ela está ali a vê-lo brincar, através do reflexo do vidro espelhado.
À noite, após o jantar, reencontram-se novamente. Imitam vozes de animais, falam da lua que aparece (e desaparece) no céu, dos novos brinquedos, dos amigos preferidos, etc.
Aos poucos o espaço de interação alarga-se e cresce junto com o menininho. Já ganhou o corredor do edifício (de vez em quando a avó consegue se despedir do menininho de manhã, quando ele vai para a creche) e houve até um breve encontro na pracinha, em meio a escorregas, trepa-trepas e balanços, com direito a braços estendidos do menininho para acolher os avós do coração.
Amanhã, decerto, haverá mais histórias para contar. Que alegria é viver e, sobre todas as coisas, amar!
quarta-feira, maio 14, 2008
Ontem, dia 13 de Maio
Não há o que comemorar. Não podemos apagar esta aviltante página da nossa história passada. Mas convém lembrar, sempre, para não esquecer. Convém lembrar para não esquecer que ainda há trabalho escravo aviltando as páginas que se escrevem na nossa história presente.
"Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?" (Castro Alves, Vozes d'África). Onde estão, hoje, as vozes levantadas? Onde estão os gritos pelos direitos humanos? Convém denunciar e clamar e agir.
segunda-feira, maio 12, 2008
Na mesinha, um vaso de begônias...
- Obrigado por seres a mãe dos meus filhos.
Não, não repeti o lugar-comum:
- Não precisava...
Precisava sim. Cada vez mais precisamos manifestar e aceitar afetos, bem-quereres. Acolhi o abraço, as palavras e as flores.
Olho o vaso de begônias, abro as cortinas, há sol lá fora. Respiro fundo, penso afetuosamente nos meus amores, começo com novo alento um novo dia.
domingo, maio 11, 2008
No Dia das Mães
“Quando eu morrer, filhinho,
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
Despe-me o ser cansado e humano
e deita-me na tua cama.
E conta-me histórias caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.”
fragmento do Poema VIII de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimmo de Fernando Pessoa)
quinta-feira, maio 08, 2008
Carta-acalanto para a mãe de Isabella
Você não me conhece pessoalmente. Sou mãe, avó, educadora, cidadã (e, atualmente, alguém que se esforça para tornar-se um ser humano melhor e sonha construir um mundo em que o amor seja cada vez mais possível). E, como tal, queria manifestar - a você, a seus pais e a toda a sua família - a minha imensa solidariedade. Imagino que devem estar recebendo o apoio e o afeto de milhares de pessoas do Brasil e do mundo. Mas carinho nunca é demais.
Procuro mas não encontro as palavras certas para confortá-la. Não há na língua portuguesa nenhuma palavra para nomear a dor inimaginável de quem perdeu um filho, especialmente uma criança.
Queria dizer-lhe apenas, nesta carta-acalanto, que ao solidarizar-me com você, procuro também serenizar um pouco o meu coração e apaziguar a dor deste luto. Que sempre a acompanhe a certeza de que soube amar e cuidar bem da sua pequena, a certeza de que soube dar a ela muito amor e foi por ela plenamente correspondida. Guarde esta linda imagem de amor materno e filial. Certamente ela a ajudará a atravessar melhor este momento e os que ainda virão. Acolha também a convicção, forjada no ideal de justiça, de que, no que depender de profissionais sérios e competentes e da sociedade em geral, "Isabella não será esquecida".
quarta-feira, maio 07, 2008
Coisas de criança 19 - Amizade
Há uma nova música no Canal Panda que o pai e a menina adoram. Fala sobre a amizade e o refrão é como se segue:
Quando estamos tristes
Quem nos ouve, quem lá está
Melhor que ter amigos não há
Quando temos festa
Quem alegra, quem lá está
Melhor que ter amigos não há
A letra, melodia e colorido da imagem cativaram-lhes ao ponto de cantarem juntos.
- Canta de novo papá!
terça-feira, maio 06, 2008
Coisas de criança 18 - A menininha, o tempo e a distância
Maravilho-me com algo aparentemente comum a todas as crianças. Mas o fato é que a menininha, com apenas dois anos de existência, não esquece que nas férias passadas (entenderá lá o que são férias?) tomou banho de piscininha na casa da bivó paterna. Assim, neste último fim-de-semana com o pai, foi à gaveta pegar o biquini e pediu a ele que a levasse lá.
E quando interagia pela webcam com os avós paternos ("os avós do avião", como ela a eles se refere, em conversa com a tia-madrinha), de repente pediu para falar com a madrinha. O pai tentou fazê-la entender que a madrinha estava sem computador em casa e por isso não poderia vê-la.
Deve ter entendido, pois logo voltou a gargalhar gostosamente com alguns ícones animados, especialmente o do sapo que fisga com a língua uma mosca e logo solta um arroto (não é socialmente bem-educado, sabemos bem disso, mas é inegável que as crianças apreciam com naturalidade coisas escatológicas, como arrotar e soltar "pum").
- Mais! O do sapinho.
sábado, maio 03, 2008
Quem ama
não espera ser amado, apenas ama
espera o tempo que for preciso, mesmo que não tenha tempo
vai até onde for preciso, mesmo que não haja caminho
porque quem ama cria o tempo e o caminho
quem ama simplesmete ama
sem condições, sem marcações, sem lista de desejos,
sem variações, sem divisões, sem paixões de uma só noite
quem ama simplesmente
segue seu caminho e o seu tempo,
o caminho que cruza com o do que é amado,
no mesmo tempo do que é amado,
mesmo que o que é não seja um ser,
talvez uma planta, ou um gato, ou um livro, ou um lápis
quem ama por vezes nem sabe que ama
apenas ama
ama apenas
e o que sente não passa, fica, permanece,
ontem amamos, hoje amamos, amanhã também
com intensidade, mas sem sufocar
com ardência, mas sem picada
com calor, mas com ar, água e terra,
com alimento
Alguns versos e pensamentos I
que ele deixou, nem dos pombos,
que eles sequem, como eu seco,
que eles morram, como eu morro"
Rosalía de Castro
Espécie de cantiga de amigo do nosso tempo. Canto da ausência do ser amado. Cansada de esperar em vão, seca de afetos, a mulher rebela-se e decide não mais cuidar das coisas que ele deixou e que a fazem lembrar dele.
terça-feira, abril 29, 2008
Uma vida e a vida enquanto uma criança
A morte de Isabella e a eficiência da Polícia
Foi um exemplo de profissionalismo, de dever bem cumprido. Devíamos nos orgulhar de termos profissionais tão competentes, ao invés de criticá-los. Outro exemplo de seriedade e competência vem-nos do promotor que acompanha o caso, o que nos deixa mais confiantes na possibilidade de ser feita justiça (a justiça possível, tendo em conta a pouca severidade de nossas leis).
Não, não foi "um espetáculo de pirotecnia". Mas, ainda que fosse, não é isto que deveria causar preocupação. Preocupante é o triste espetáculo diariamente oferecido por muitos dos nossos políticos. Preocupante é haver assassinatos, especialmente de crianças. Preocupante é a possibilidade de o(s) assassino(s) não ser(em) preso(s) e julgado(s). Preocupante é a brecha de se considerar a "primariedade" do(s) acusado(s) num crime contra a criança (no caso em questão, contra a própria filha). Preocupante é a leveza da pena, desproporcional ao peso do delito.
Sim, o fato vem ocupando um grande espaço na mídia - um espaço correspondente à comoção popular diante da brutalidade do crime. Sinal de que a sociedade ainda não perdeu a capacidade de se indignar diante de crimes hediondos, como este, e de clamar por justiça. Sinal de que se solidariza com a dor sem nome e sem sentido dos que efetivamente amavam a menina. Sinal de que repudia a frieza de quem matou barbaramente uma criança e não compatua com o silêncio de quem, em nome de certos valores e direitos, protege assassinos, calando o valor e direito maior, o da vida.
segunda-feira, abril 28, 2008
Isabella - a via crucis
Uma fralda e uma toalha serviram para estancar o sangue do rosto da menina (o lenço de Verônica, mas sem a sua piedade...), enquanto era levada até ao apartamento. (Alguém quase conseguiu eliminar os vestígios dos tecidos, lavando-os com alvejante. E também limpou o rastro de sangue do chão... Por que?)
A menina, inerte, totalmente indefesa, foi posta sentada no chão (a segunda queda...). Sua sentença de morte (qual a acusação?) já estava assinada: sufocá-la com pesadas mãos de adulto, tirar-lhe o ar por infinitos minutos, matá-la por asfixia (o suplício, a quase morte, antes da definitiva queda...). Só faltava agora o(s) seu(s) assassino(s) pensar(em) num modo de se livrar(em) do corpo sem que recaísse sobre ele(s) a culpa.
Defenestrá-la, através do rasgo aberto na rede de proteção, foi a decisão fria do(s) seu(s) algoz(es). Imagem de uma cueldade inimaginável, de tamanho horror, que ultrapassa qualquer ficção. Dependurada pelos pulsos, braços para o alto, corpo pendente no vazio (a terceira queda, a crucificação...), a menina balançou no ar e depois despencou no abismo.
Impossível sobreviver a tantos tormentos. Mesmo assim, seu coraçãozinho continuou a bater, quase imperceptivelmente, mas por pouco tempo. O breve tempo talvez de poder ver o rosto materno ou de sentir sua presença (a descida da cruz, "stabat mater"...).
Só que Isabella não veio ao mundo para morrer na cruz. (Ninguém vem para sofrer, mas para ser muito amado e amar, para ser feliz). Menos ainda para ser sacrificada (em nome de que, Deus meu?) em plena infância. Era simplesmente uma criança, um ser humano lindo, de sorriso florescente.
Humanamente, mesmo que, perante a lei dos homens, seu(s) assassino(s) seja(m) condenado(s) e cumpra(m) pena, é impossível perdoá-lo(s). Porque não pede(m) perdão. Porque sabia(m) o que fazia(m). Resta - a nós e ao(s) assassino(s) - esperar o juízo divino. Talvez só Ele possa absolvê-lo(s).
sexta-feira, abril 25, 2008
25 de Abril - "foi bonita a festa, pá"
Contudo, passada a euforia, veio o desencanto. E ficou um gosto amargo, um certo travo do que poderia ter sido e não foi.
Toda revolução deve ser permanente. Do contrário, corre o risco de cair na cristalização e tornar-se estátua de si mesma.
Isto é válido também para as pessoas. Quantas vezes não nos convertemos em pousos de pombos, prisioneiros de um determinado fato, congelados numa imagem, fixados no tempo.
segunda-feira, abril 21, 2008
Coisas de criança 17
A princípio, a menininha cobria o rosto com um livro aberto, e gargalhava gostosamente, brincando de se esconder da câmera. O livro, prenda da madrinha, traz um coração na capa e conta a história de uma fada que tem justamente o nome da menininha. Aos poucos ela foi deixando ver a boquinha, um canto da face, os olhos, e por fim o rosto todo...
Em seguida, a brincadeira mudou para uma espécie de karaoquê com a música do "Balão Mágico". Essa canção marcou a infância do pai e da madrinha da menininha. A avó se lembrava perfeitamente do começo ("Super fantástico amigo/que bom estar contigo/ no nosso balão), mas a memória falhou na segunda estrofe. O jeito foi apelar para o lá-lá-lá... e prosseguir cantando.
Mas com certeza, até o próximo encontro, a avó já conseguiu reaprender toda a canção. E então ela poderá cantá-la inteirinha, fazendo coro com a menininha.
domingo, abril 20, 2008
Isabella - o reverso de um parto
Pomos redes protetoras nas janelas para proteger as crianças de possíveis quedas. É preciso uma frieza e uma crueldade inimagináveis para praticar um ato hediondo como esse.
Simbolicamente, é o reverso de um parto. Quando uma criança está para nascer, mãos humanas aparam-na cuidadosamente, acolhem-na, trazem-na para a vida. Assim Isabella com certeza chegou ao mundo: amada, desejada, cuidada, protegida.
Mas as mãos que seguraram Isabella pelo vão e lançaram-na indefesa para o abismo, fizeram-na desnascer abruptamente, violentamente, longe da rede de proteção de todos os que verdadeiramente a amavam.
Quis o acaso (se é que existe acaso) que a mãe conseguisse estar ao lado da menina nos instantes de trânsito entre a vida e a morte. Preciso acreditar que a simples presença materna, sua voz doce, seu toque macio, chegaram de alguma forma até a menina, serenizando a sua angústia e estupefação, confortando-a, acolhendo-a na passagem para outra forma de vida, para um lugar onde não se arremessem crianças indefesas para o abismo.
quinta-feira, abril 17, 2008
No dia dos teus anos
Querido pai, hoje, aqueles que mais te amaram, amanheceram pensando, com afeto e uma pontada de dor: hoje é dia dos teus anos.
E, como não puderam expressar-te esse pensamento afetivo, trocaram mensagens entre si, procurando escrever a dor imensa da tua ausência.
Há aqueles que a cada ano que passa são cada vez mais esquecidos. A sua imagem se desvanece pouco a pouco, acabando por desaparecer. Contigo dá-se justamente o inverso: ela cresce, reverbera, revelando cada vez mais a projeção maiúscula de um ser humano invulgar, raro, lindo.
Tenho muito orgulho de ter tido o privilégio de ser tua filha. Fui abençoada por receber de herança o teu nome honrado, irretocável. Era isto o que gostaria de te dizer hoje, no dia em que completarias 83 anos.
quarta-feira, abril 16, 2008
Llansol e Bach
Leio esta notícia, enviada por meu filho. Sei que pensou em mim e na Maria Gabriela. Acolho, comovida, esse pensamento sobre a Amiga, que recentemente partiu.
Ela não mais poderá ouvir essa cantata de Bach aqui na Terra, enquanto descasca ervilhas. Mas lá, na cena do encontro fulgurante da música e do texto, lá onde pode haver a jubilosa ressurreição, ambos experimentam novas possiblidades harmônicas. Tocam, trocam saberes e fulgores. E saboreiam, juntos, a sopa que Maria Gabriela preparou.
quarta-feira, abril 09, 2008
Acalanto para o neto do coração
Meu menino nana, nana,
Que já vem o João Pestana
No macuru, macuru**.
Vem o sono, vem o sonho,
Muito lindo, muito lindo,
E o menino sossegado,
Vai adormecer sorrindo...
Meu menino nana, nana,
Que já vem o João Pestana
No macuru, macuru.
* do Livro de Acalantos, em preparação
terça-feira, abril 08, 2008
Coisas de criança 16 ou A primavera em rede
Este post nasceu num comentário meu para um outro blog, e renasceu por sede de rede e continua aqui.
quinta-feira, abril 03, 2008
Isabella - mais uma infância interrompida
Sua breve vida foi interrompida de uma forma inimaginável, provavelmente por aqueles que a deveriam proteger.
Como isso foi/é possível? A dor diante dessa morte violenta provoca-me um sentimento sem nome: indignação, revolta, descrença no ser humano...
Quando filhos assassinam os próprios pais, o crime choca-nos pela dupla transgressão: serem capazes de matar; e serem capazes de praticar esse ato justamente contra aqueles que lhes deram a vida. Mas quando pais ou responsáveis matam uma criança indefesa, o crime é ainda mais hediondo, por contrariar todos os princípios humanos.
Infelizmente, sabemos que a perversidade existe, que há pessoas muito perturbadas, com sérios desvios de caráter. Não sou loucos, têm consciência de que infringem leis e, cientes disso, procuram ocultar seus atos. Disfarçam, mentem, jamais os assumem.
Contudo, por mais "normais" que os prováveis assassinos pudessem parecer, certamente eram perceptíveis no seu perfil alguns sinais de perversão. Por que as pessoas de bem que viviam próximas à criança não deram um grito de alerta, evitando, assim, essa tragédia (como aquele senhor de Goiânia, que teve a coragem de denunciar a suspeita de maus-tratos contra uma menina de doze anos, salvando-a das torturas a que era submetida, e que poderiam ter resultado na sua morte)?
Como disse um psicólogo, comentando este assassinato terrível, causa espanto o silêncio das "boas pessoas". Quando nos calamos diante de uma possível situação de violência contra inocentes, podemos estar alimentando o "ovo da serpente" que nos devorará mais tarde.
quarta-feira, abril 02, 2008
Dia Mundial do Livro Infantil
Penso nos livros que vivem no meu imaginário, contribuindo para uma Infância com arte*. O começo feliz foi o Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato. Depois vieram muitos outros. Felizmente a estante está cheia, viva, receptiva a novos leitores. Mas sempre haverá espaço para os livros que continuam a chegar.
*(Título do livro de literatura infantil que escrevi recentemente)
terça-feira, abril 01, 2008
Coisas de criança 15
Na outra foto, vê-se apenas os pequenos pés duplamente calçados: a menininha, também de costas, calça os sapatos da madrinha, como as meninas costumam fazer.
A avó sorri, lembrando-se de que a filha, quando pequena, também costumava arrastar sandálias enormes pela casa. Elegeu esta foto para fundo de tela do seu computador. Na próxima semana, colocará a das asinhas. Assim, vai mantendo os que ama perto dos olhos e do coração.
segunda-feira, março 31, 2008
Impressões da paisagem
O repórter freelancer belga Luc de Smet, especializado em jornalismo científico, enviou-nos mais imagens que costuma captar pelo mundo fora. Gosto muito das texturas e da cores, mas sobretudo da capacidade que este jornalista tem de encontrar beleza no canto remoto, na dobradura extemporânea, na superfície descascada e na pele tatuada das cidades.
quarta-feira, março 26, 2008
O enigma do humano e a ficção científica
terça-feira, março 25, 2008
Bem-vindo, querido neto do coração!
A sua avó do coração ainda não teve a ventura de contemplar o seu rostinho. Mas já o sonhou à distância. E consegue imaginar você envolto num halo de afeto e felicidade, docemente acolhido por seu pai e sua mamãe.
Bem-vindo a este mundo!
quarta-feira, março 19, 2008
A neta, a avó, o bisavô e a tradição da Páscoa
Ele partiu, mas a tradição continua, celebrada sobretudo em nome dele, como se ainda estivesse presente na festa (e sentimos que está).
Também gostaria de deixar uma memória de convívio afetivo que se tornasse uma tradição para a minha netinha (e para quem mais chegar...). Que fosse celebrada espontaneamente, como os meus filhos fazem pelo avô.
Ainda não tive a ventura de passar com a minha netinha uma festa importante, como a Páscoa, o Natal e o Ano Novo. Se eu pudesse estar com ela nesta Páscoa, iniciaria uma tradição bem lúdica: procurar ovinhos (poucos e pequenos, para não fazer mal) e prendinhas escondidas pela casa (se fosse na cada do bisavô, poderia ser entre as plantas do jardim).
Fica a sugestão. Quem sabe alguém (penso no filho, ou na filha, ou em ambos...) que tenha o privilégio de conviver com a menininha amada proponha a ela a brincadeira, em nome da avó distante?
terça-feira, março 18, 2008
Descobrindo a América, ainda que tardiamente
Mea culpa. Deveria conhecer esse e outros livros fundamentais da cultura latino-americana. Mas antes tarde do que nunca. E mais gostaria de conhecer, se não fosse, para tantos conhecimento a adquirir, tão curta a vida.
segunda-feira, março 17, 2008
Adoecer, sem batatas na testa
Dor no corpo. Febre. Gripe. Cama.
Na infância, quando eu ou minha irmã ficávamos febris, minha mãe costumava pôr rodelas de batata crua na testa, firmando-as com uma faixa.
Não sei se há alguma verdade científica nisso, mas o fato é que parecíamos melhorar à medida que as rodelas iam ficando escuras.
Como nós não tínhamos mimos nenhuns, eu achava doce adoecer só para poder ter uns minutos de atenção da minha mãe.
sábado, março 15, 2008
Mais um tributo à Amiga
Outras visitas
Ontem de manhã, quando fiz um intervalo nas atividades de computador, fui à varanda. Os macaquinhos não estavam mais lá. Comeram os pedacinhos de banana e foram embora, deixando saudades...
De tarde, nova visita de bichos. Desta vez, uma imensa mariposa (imensa mesmo) pousou na batente da porta que dá para a varanda. A princípio assustei-me, pensando que era um morcego (na noite anterior entraram alguns, e esvoaçaram freneticamente pela casa, atraídos talvez pelos pedaços de fruta que deixei para os macaquinhos).
Depois, comecei a pensar que, para não assustá-la, teria de dormir sem correr a cortina (não consigo dormir com claridade...). De repente, quando precisei acender a luz, ela levantou vôo e, fascinada pela luminosidade intensa da lâmpada, entrou no globo do lustre. Desliguei o interrutor imediatamente, para não queimá-la. E fiquei aguardando ansiosa que meu marido chegasse, para ajudar-me a libertá-la.
Foi uma operação de salvamento delicada. Mas conseguimos retirar o globo e levá-lo até à varanda, com o bocal tampado com uma revista, para ela não se debater e se machucar ainda mais. Cuidadosamente, destampamos o bocal, virando-o na direção da liberdade. Ao sentir as lufadas de ar, imediatamente a mariposa bateu asas e pousou, livre, na parede da varanda, resguardando-se da chuva.
De manhã, não estava mais lá. Também não estava morta no chão. Talvez tenha encontrado um refúgio, quando a chuva cessou...
sexta-feira, março 14, 2008
Uma visita inesperada 3
Ontem, à tardinha, julguei ouvir um chamado, vindo da copa da amendoeira que derrama seus galhos sobre a varanda.
Apurei os ouvidos e o olhar. Lá estavam eles, dois sagüizinhos,também a me observar, irriquietos. Há muito não recebia tão bem-vindas visitas, com jeito de crianças travessas.
Corri à cozinha. Lamentavelmente, na geladeira só tinha banana madura demais, à espera de virar doce. Mesmo assim, decidi cortar meia banana em pedadinhos. Deixei-os enfileirados sobre o parapeito, sempre observada de longe por dois pares de olhos atentos. Depois, chamei os sagüizinhos carinhosamente e me afastei, para deixá-los comer à vontade.
Primeiro veio um. Comeu três pedacinhos meio desconfiado e retornou logo ao galho. Só um pouco depois veio o outro. Mais tarde, um deles (como saber qual?) retornou e comeu novamente.
Pensei que, satisfeitos, iriam embora. Mas, desta vez, não foi assim. Excursionaram pelos galhos até ao anoitecer e depois aninharam-se na parte mais alta da árvore, sempre a olhar atentamente para a varanda.
Choveu torrencialmente no início da noite. Pensei na aflição dos macaquinhos, mas não consegui enxergá-los, tal era a escuridão. Ainda estariam lá, encolhidos nos ramos? Teriam ido embora?
Assim que acordei corri à varanda. Não os vi de imediato, camuflados no meio da folhagem. De repente, surpresa: consegui distingui-los, quase diante dos meus olhos.
No parapeito, nova fileira de pedaços de fruta, a servir de café da manhã. Logo mais saberei se ainda estão lá...
terça-feira, março 11, 2008
Pensando na Luz de Maria Gabriela Llansol
Querida amiga,
ontem, 10 de março (data que equivocadamente consta como do seu nascimento em algumas notas biográficas), estivemos com você numa cerimônia singela e profundamente bela.
Durante a Missa da Luz, na Paróquia da Ressurreição, entoamos preces e cânticos de fé, na convicção de que você estava conosco e no espaço edênico, "à luz da ressurreição" . Nas momentos finais, os amigos e familiares foram convidados a receber, na frente do altar, uma vela acesa e um cartão em homenagem ao ente querido que partira.
Eu e o meu companheiro acendemos a vela de ternura por você, querida amiga.
Na saída, abraçamos o amigo que me apresentou à sua obra, e a quem serei para sempre grata por me ter propiciado este encontro definitivo. Ele estava presente, é claro. Também estavam presentes uma amiga de longa data e sua mãe. E estas presenças deram-me grande conforto.
Andamos um pouco a pé, juntos, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. No percurso, convocamos vários pensamentos afetivos: pensamos em você, querida Maria Gabriela, com um sorriso largo, acompanhada do seu ambo, na foto de abertura do livro Amigo e Amiga; falamos da sua imensa generosidade, acolhendo os legentes que vinham vê-la, atraídos pelo fulgor dos seus textos; partilhamos, comovidos, a alegria e o privilégio de poder ler seus livros e os textos dos críticos que souberam perceber a importância da sua obra.
Alimentamo-nos dos "pães do imaginário" e dos pãezinhos de gergelim do lanche, sem ruptura entre o corpo e o espírito.
Por fim , abraçamo-nos com um "até logo" nada distraído, fora do hábito de servir os afetos. Com um desejo sincero de nos reencontrarmos em breve, sabendo que sempre estaremos juntos, com você, nos textos do fulgor.
Era isto que gostaria de dizer-lhe, hoje, querida Maria Gabriela.
com imenso afeto da amiga, dos amigos.
Ps.: continuo a pensar em Témia e, sempre e cada vez mais, em Ana ensinando a ler a Myriam - a figura que mais fortemente me atraiu para a paisagem dos seus textos.
domingo, março 09, 2008
Coisas de criança 14
Como de costume, o pai pôs a menininha no colo, diante da webcam, para ela interagir com os avós distantes.
Só que desta vez cantaram um trecho de "Parabéns pra você" (só um trechinho: ela ainda é muito pequena para conseguir se concentrar numa música inteira...).
No meio da conversa, o pai perguntou:
-Então, já deste parabéns pro vovô?
Prontamente, ela respondeu:
- Eu já di.
Enquanto o pai repetia a forma correta (dei, eu já dei), a avó sorria, lembrando-se da admirável competência lingüística dos pequenos aprendizes da língua, que apreendem as regras das conjugações dos verbos. Simplesmente a menininha, como ocorre com muitos outros falantes, aplicava "corretamente" a terminação do pretérito perfeito!
Ontem, um dia especial
A escritora Maria Adelaide Amaral, numa entrevista, confidenciou o porquê de considerar muito especial a sua relação com o seu companheiro :
- Ele consegue fazer com que eu revele o melhor de mim. Ele me torna uma pessoa melhor. (cito de memória)
Esta frase, simples e intensa, marcou-me profundamente. Guardei-a porque senti que se aplicava perfeitamente à minha vida. Há muito queria dizê-la ao homem que me acompanha há 37 anos.
Disse-lhe no cartão de aniversário, ontem, no Dia da Mulher.
sábado, março 08, 2008
Imagens curativas 2- Os Anjos Sublimes e Independentes da Guarda
Tomo nas mãos dois dos livros de Maria Gabriela Llansol pousados junto à minha mesa de trabalho. E leio:
"Disse-me que os animais são Anjos protectores, e eu sabia que já vivia sob a sua guarda. Para mim, o Anjo mais sublime é o do Cão, o anjo mais independente é o Anjo do Gato (...).
Fazem-me falta aqui o meu Anjo Sublime da Guarda, e os meus Anjos Independentes da Guarda; há entre nós um laço, um suspiro de fidelidade, noites e noites em que eles, no jardim, iluminam de liberdade a casa" (Amar um cão,[p. 19])
"Comunidades havia que tinham apenas o que sentiam, sem saber o que experimentavam. Tal acontecia, sobretudo, com as comunidades em que predominavam plantas ou animais ou estrelas. Tomavam por livro o seu mapa envolvente, sem que soubéssemos se nalgum deles estaríamos incluídos" (O Senhor de Herbais, p. 322)
quinta-feira, março 06, 2008
Imagens curativas 1 - transfigurando a dor em beleza
A avó anda meio triste, sentindo dor pela perda da Amiga. Quando recebeu a notícia de que ela partira, uma sensação extremamente dolorosa, física, apertou-lhe o coração.
Lembrou-se, então, das imagens curativas a que a Amiga recorrera, quando perdera o seu Amigo (Amigo e Amiga. O curso do silêncio de 2004). Com ela e como ela, recorrendo às imagens desse livro, poderia aprender a transfigurar a dor em beleza. Se apurasse os ouvidos, talvez pudesse ouvir um som semelhante a "Tsi-z'li" ("Tsi-z'li", "espécie de melodia de felosa-verde-listada, muito raro na Europa"), em forma de chamamento da Amiga, a lhe dizer, serenamente: "_____estou bem".
Principiou a ouvir uma outra melodia, de sonoridade semelhante: titi, titi. Não, não era canto de ave rara. Era chamado de criança-em-educação, ainda quase pré-linguagem, a crescer como o piano de O começo de um livro é precioso e O Jogo da liberdade da alma.
Sentiu então o impulso de transfigurar o negro do luto numa farândola de cores e movimentos, como a da criança do texto (fragmento inédito) que a Amiga lhe oferecera.
Em resposta ao chamamento, a avó pediu à mãe do netinho do coração para brincar um pouco com o menininho, não mais através da fresta da rede protetora, mas diretamente, no chão da varanda da casa dele. A mãe concordou prontamente, mesmo sem entender a razão de tão súbito pedido.
Surpreendido e feliz, o menino acolheu a Titi quando ela bateu à porta da sua casa. Ambos brincaram como nunca, espalhando brinquedos na varanda. Quando a Titi se despediu, à tardinha, em lugar da dor afilada sentiu uma doce leveza. Respirou amplamente, e repetiu o canto que desejava ouvir:
- " 'Tsi-z'li' ______ estou bem"
A avó, a neta e os cataventos
Nas férias passadas, a menininha encantou-se com os cataventos. Não conseguia falar a palavra, pois mal acabara de completar dois anos. Com as mãozinhas viradas pra fora e muito brilho nos olhos, solicitava a todo o momento a avó, para que ela confirmasse a beleza da novidade e do nome:
- Oh! É o cacavento, vovó!
A avó então repetia pausadamente as sílabas da palavra, sublinhando a sílaba correta:
- É, meu amor, é o ca-TA-ven-to.
A menininha olhava atentamente a avó, como quem quer aprender a fazer leitura labial. E logo conseguiu dizer a palavra corretamente.
Todos os dias, após o jantar, a avó, a netinha e o avô sentavam-se na beirada do muro, a apreciar juntinhos os cataventos, a girar no alto da serra que fica diante da casa da aldeia.
Então a avó lembrou-se do refrão de uma música brasileira e pensou que ele tinha tudo a ver com aquele momento. E cantou-o para a menininha, fazendo com as mãos os movimentos do catavento:
- Que maravilha, a girar! ... Que maravilha, a girar!
Pouco tempo depois, ambas já cantavam e rodavam juntas as mãos, como se fossem dois cataventos também a girar, só que do lado de cá, como quem conversa com o vizinho do lado de lá.
Que maravilha! Sim, que maravilha é viver e brincar!
quarta-feira, março 05, 2008
Coisas de pais e filhos 4
Ontem à tardinha, quando viu o carteiro passar e entregar uma volumosa correspondência, a mãe teve um pressentimento. Esperava a chegada de um livro, vindo de Portugal. E, de fato, ele veio. Mas não esperava encontrar, entre as demais cartas, um cartão de Feliz Dia das Mães, enviado pela filha querida, atualmente a estudar na Inglaterra.
A mãe leu-o emocionada e depois guardou-o junto de outras cartas preciosas. Em seguida, pôs o retrato que vinha junto do cartão na face lateral da caixa de retratos da menininha e da família. Assim, sempre que a saudade bater forte, pode ver os seus amores.
Enquanto cuida das tarefas diárias, a mamãe sorri, pensando que agora terá três Dias das Mães para comemorar: o do Brasil, o de Portugal e o da Inglaterra. Sorri mais ainda por saber que entre pais e filhos há reciprocidade amorosa todos os dias.
terça-feira, março 04, 2008
"Tsi-z'li", à luz da ressurreição
segunda-feira, março 03, 2008
Velando a amiga III
Deixou-nos o texto do fulgor, singularidade irrepetível.
sábado, março 01, 2008
Parabéns pra você, cidade do Rio de Janeiro
1º de Março. A cidade do Rio de Janeiro completa 443 anos de fundação. Parabéns, cidade menina-e-moça, abençoada por Deus, bonita por natureza. Linda demais, mesmo quando amanhece com chuva, como ocorreu hoje, dia da sua data natalícia. Maravilhosa, apesar de tão pouco cuidada por quem de direito.
Minha alma carioca canta, saudando a cidade em que escolhi viver.
sexta-feira, fevereiro 29, 2008
Coisas de criança 13
Logo que recebeu as provas finais, feliz com a bela capa e por ver o trabalho pronto, resolveu enviá-lo aos filhos e à neta, que residem do outro lado do cais.
Entusiasmada, a filha, tia-madrinha da menininha, pôs no colo a destinatária privilegiada do livro, apreciando com ela os detalhes da capa ( - Vamos ver que bichinhos estão desenhados?) e lendo-lhe a dedicatória que a avó escreveu:
- Dedicado em especial à pequena * (e a quem mais chegar....)
A menininha olhava e ouvia tudo atentamente. enquanto, com o seu jeitinho característico, torcia com as duas mãozinhas as pontas da camiseta.
De repente, comentou:
- Eu não sou pequena!
Ao saber dessa história através da filha, a avó pensou:
- Claro, tem razão, meu amor... você não é pequena, se comparada com os bebês da turma dos pequenos da sua creche (com certeza você ouviu as professoras referindo-se assim a eles e, por isso, fez essa comparação), mas é pequenina para os seus avós que tanto te amam, e era ainda menor, um bebezinho, quando a vovó começou a redigir os primeiros textos do livro que dedicou a você...